Observações iniciais
Num Fórum de discussão maçónica, fui interpelou-se a seguinte maneira:
“Mesmo antes de 1717, a orientação para evitar a discussão sobre política e religião nas reuniões maçónicas já era uma tónica maçónica.
Destarte, uma coisa é discutir política no interior da Loja e outra é a participação do Maçom na condução dos destinos políticos do País, na defesa da sociedade e do bem-estar social por intermédio da actuação política.
Pensamos que a Ordem Maçónica labuta em equívoco quando traça a estratégia de trazer políticos para a Maçonaria ao invés de fomentar lideranças políticas autóctones (no sentido de saírem da Ordem para a Política). Pensamos que os Maçons Políticos poderiam emprestar brilho à política e tornar mais feliz a humanidade pelo aperfeiçoamento dos costumes.
Pensamos, e pensar não paga imposto.
.
[…] comente sobre o que será que afasta o Maçom e a Maçonaria do exercício da política, se esta é o instrumento mais adequado para tornar satisfeita a vida em sociedade. O foco é “a participação dos Maçons e da Maçonaria na vida política partidária do País”.
Frente a referida provocação emitiu-se uma resposta fundamenta em 12 pressupostos:
- Pressuposto 1 – O DESENVOLVIMENTO MAÇÓNICO é teórico e Prático.
- Pressuposto 2 – O EXERCÍCIO MAÇÓNICO é Individual e Colectivo.
- Pressuposto 3 – O EXERCÍCIO MAÇÓNICO é Amplo, através dos valores trabalhados em Loja e Restrito, através da actuação operativa do homem no meio social.
- Pressuposto 4 – Existe diferença entre A ORDEM E O OBREIRO.
- Pressuposto 5 – A QUESTÃO CENTRAL DA REFLEXÃO É:
- “Em que momento, e como, o Maçom / Maçonaria se deve envolver com a política?”
- Pressuposto 6 – POLÍTICA É o exercício que envolve o colectivo.
- Pressuposto 7 – Dois Importantes Agentes Determinantes dos FRUTOS DA POLÍTICA são os Indivíduos e as Instituições.
- Pressuposto 8 – Existe uma INEVITABILIDADE POLÍTICA NA SOCIEDADE HUMANA, pois, tanto os indivíduos, quanto as instituições, possuem espaços a serem ocupados e papéis a serem desempenhados dentro do ambiente social.
- Pressuposto 9 – Tanto na dimensão mística, quanto na filosófica ou social, existe uma INEVITABILIDADE POLÍTICA DA MAÇONARIA.
- Pressuposto 10 – OS DOIS PONTOS CENTRAIS DA QUESTÃO são:
- “O Maçom está preparado para exercer o seu papel de maneira alinhada com os preceitos da Ordem?”
- “A Instituição Maçónica está estruturada para manter firme e integro o processo de formação dos seus obreiros e implementar as suas dinâmicas de tal forma que os preceitos da Ordem possam estar claramente perceptíveis nos seus processos, acções, projectos, programas?”
- Pressuposto 11 – No caminho de desenvolvimento da formação maçónica o EIXO (OU COLUNA DE SUSTENTAÇÃO) DA AÇÃO POLÍTICA INTERNA DA ORDEM apresenta-se como sendo:
- “O estudo teórico e prático na busca de tornar claro ao Obreiro “O QUE É MAÇONARIA E QUAL O SEU PROPÓSITO”.
- Pressuposto 12 – QUAL O PROPÓSITO POLÍTICO DA ORDEM, na medida em que, mesmo não devendo fomentar sectarismo político em Loja (a exemplo do 7º Landmark de Josef Gabriel Findel e do 20º Landmark de H. B. Grant) [1] a ordem exerce política na sua plena manifestação?:
- “Desenvolver Obreiros que através do exemplo se tornam Agentes de Transformação!”
- A resposta: o Maçom e a política
A Política é um tema relevante no processo de formação do integrante da Ordem e também representa uma dimensão específica na qual o exercício prático do Maçom se torna inevitável.
Este exercício maçónico da política faz-se tanto sob a perspectiva lato (envolvendo a atuação pautada nos valores trabalhados em Loja, através do exemplo sincero, em todas as relações e ambientes sociais em que convive), quanto sob a perspectiva Stricto (envolvendo a mesma actuação em ambientes específicos a exemplo quando da ocupação de postos na estrutura do estado ou em diversas instituições públicas ou privadas).
Como é frequentemente externado por diversos membros da ordem, “Uma coisa é a Maçonaria, outra coisa é o Maçom!”.
Percebe-se que uma das questões que estão profundamente relacionadas com esta dimensão de prática maçónica pode ser resumida da seguinte forma: “Em que momento, e como, o Maçom / Maçonaria se deve envolver com a política tanto sob a perspectiva Lato quanto Stricto?”
Decerto, compreende-se que na esfera política (em termos gerais caracterizada como àquela que engloba todas as relações humanas para além do individual / privado, envolvendo tudo que se trata sobre o colectivo / social) a intervenção dos agentes faz-se através do transbordamento dos seus interesses fundamentados por valores intrínsecos.
Cada ente carrega os seus valores, que podem mudar no tempo, sendo considerados como resultados da manifestação da sua natureza interna somados aos processos de formação originados pela sua relação com o(s) meio(s) em que convive.
Baseado neste entendimento, ousa-se afirmar que Instituição vazia de conteúdo e de propósito de valores elevados e indivíduo vazio de conteúdo e de propósito de valores elevados não promoverão efeitos correspondentes a magnitude dos respectivos valores.
Por outras palavras: “Fruto sem semente não germina!”
Amparado nos pressupostos acima, defende-se a ideia de que tanto a instituição maçónica, quanto o indivíduo Maçom, possuem espaços a serem ocupados e papéis a serem desempenhados dentro do ambiente social, visando promover o seu desenvolvimento.
Considera-se que a relação inversa também é verdadeira, na medida em que o ambiente social também influencia e promove mudanças tanto nas estruturas/dinâmicas da Ordem Maçónica, quanto no próprio interior do Maçom
Desta forma, a opinião de que o envolvimento do Maçom e da maçonaria na política é inevitável com graus diferenciados de amplitude e profundidade, de acordo com o meio social onde as interacções estão ocorrendo e com os desafios que o tempo elenca em cada ambiente.
Entretanto, ao indivíduo Maçom, independentemente do tipo de interacção política (se partidária ou não), cabe-lhe estar preparado para exercer o seu papel de maneira alinhada com os preceitos da Ordem.
Este sim, é o ponto central da questão.
Se o Maçom não possui, no seu ser, a incorporação dos valores elevados da Ordem (que devem ser continuamente trabalhados em Loja, provavelmente encontrará dificuldades de estar alinhando os seus atos com os seus discursos e com os fundamentos, princípios e valores que caracterizam a Maçonaria como uma Ordem que visa o desenvolvimento humano e social.
A instituição Maçónica, também está sujeita aos mesmos desafios, na medida em que necessita estar estruturada para manter firme e integro o processo de formação dos seus obreiros e implementar as suas dinâmicas de tal forma que os preceitos da Ordem possam estar claramente perceptíveis nos seus processos, ações, projetos, programas, etc.
A Ordem Maçónica frequentemente é definida de forma variada como “Instituição”, “Ciência”, “Sociedade de Pensamento”, “Centro de União”, etc.
Entretanto, podemos também ousar pretender enquadrar a Maçonaria nas suas definições não como uma “INSTITUIÇÃO”, “CIÊNCIA”, “SOCIEDADE DE PENSAMENTO” ou “CENTRO DE UNIÃO”, e sim, apenas como um IDEÁRIO, que aglutina pessoas em prol de determinados preceitos e se manifesta em formas variadas de Ordens, Organizações e Instituições, as quais estabelecem critérios e mecanismos de reconhecimento mútuo e realizam trabalhos no sentido de promover o desenvolvimento do homem e da sociedade. Neste sentido, somos nós (e não os outros), como Obreiros, dentro e fora das Lojas, que devemos através do exemplo sermos verdadeiros agentes de transformação.
Reflexões maçônicas
De certa forma, todos os estudos maçónicos se desaguam na nossa prática, tanto na dimensão privada, quanto na pública, onde a política se torna o objecto da aplicação daquilo que estudamos na Ordem.
Fonte: https://www.freemason.pt/o-macom-e-a-politica-algumas-reflexoes/
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