“Levantemos templos a virtude e cavemos masmorras aos vícios”.
Dado que, segundo o filósofo Aristóteles a virtude é “Uma disposição habitual e firme para fazer o bem“.
E, praticar a virtude é antes, de mais nada: “Preferir a justiça e a verdade“.
Por outro lado, o vício é a desaprovação de uma atitude que significa falha ou defeito frente aos valores vigentes de uma determinada sociedade e que também pode ser externado individualmente.
Concluímos que virtudes e vícios estão relacionados ao que chamamos de Doutrina da Moral e fazem parte dos valores éticos de uma sociedade.
Então, qual nossa parcela de contribuição?
Como maçons, sabemos muito bem que para a construção deste ser social é necessário desbastarmos as asperezas e arestas representadas pelos nossos vícios e aspirarmos às virtudes, como caminho que escolhemos para a construção social.
Eu diria, que uma das mais belas virtudes maçónicas e que por sua vez compete a nós como construtores sociais; é a prática do Altruísmo, que cabe elucidar, ser um termo criado pelo filósofo francês Auguste Comte, para se referir ao que acreditava ser a nossa vocação de servir aos outros, colocando os interesses do próximo acima de nós mesmos.
Certamente, nós como construtores sociais, na busca incessante do autoconhecimento para a edificação do nosso templo interior, devemos cada vez mais lapidar nossas asperezas de modo a aprimorar a prática de nossas virtudes maçónicas.
Sendo assim, algumas questões que tornam a virtude altruística, importante e valorizada, precisam ser respondidas e apresentadas, para que tenhamos não só familiaridade com o tema e mais do que isso, verdadeira afinidade de obtenção e prática.
Portanto, quais as características do altruísmo? Que ações são representativas? Como alcançar a virtude altruística? Quais os benefícios?
Muito bem! Bem-vindo a uma das receitas de felicidade. É isso mesmo, pode acreditar, pois encontrar uma forma de conciliar os próprios desejos com o bem-estar alheio é uma das formas de se alcançar satisfação e felicidade.
Veja bem, um indivíduo altruísta é aquele capaz de pensar em si mesmo e na satisfação de quem está à sua volta, em função das características diretamente ligadas ao altruísmo: empatia, afetividade e sentimento de proteção em relação aos outros.
Por isso, não é raro que pessoas altruístas, muitas vezes, acabem deixando até mesmo em segundo plano as próprias vontades em prol de ajudar.
Mas atenção! Cabe ressaltar que para essas pessoas, encontrar o equilíbrio é essencial, ou seja, elas também não devem se anular em detrimento dos outros.
O professor Oren Harman da Universidade Bar Ilan, da cidade de Tel Aviv, nos apresenta uma visão interessante sobre o altruísmo, em relação às virtudes de solidariedade e generosidade, pois segundo ele, “O altruísmo é muito mais uma ação pessoal, motivada por razões pessoais de diferentes tipos e voltada a alvos particulares, a solidariedade é um sentimento coletivo de unidade, que não demanda sacrifício pessoal e a generosidade, por sua vez, é uma forma de altruísmo, mas não necessariamente precisa ser”.
Porém, ainda que estas palavras sejam sinónimas, o altruísmo tem uma característica peculiar, envolve sacrifício pessoal, mesmo que mínimo.
No entanto, Auguste Comte, em uma percepção muito singular, denota que o altruísmo é composto por três vertentes: apego, veneração e bondade.
Na qual o apego representa o laço afetivo entre os indivíduos; a veneração é a admiração que as pessoas mais fracas tem em relação às mais fortes ou aos mais velhos e a bondade, por sua vez, é o sentimento dos mais fortes ou mais velhos em relação aos mais fracos ou mais novos.
Interessante dizer, que o altruísmo além de virtude, também é um comportamento, e sendo assim, tal como explica o psicólogo David Myers, no livro Psicologia Social, “O comportamento prestativo pode ser influenciado por normas, que estimulam os indivíduos a agirem de determinadas formas”.
O que nos faz lembrar tal afirmação?
Dos nossos compromissos maçónicos de solidariedade, fraternidade, auxílio e amparo aos nossos Irmãos e os nossos contributos aos mais necessitados em prol de uma sociedade mais justa e fraterna.
Então, quais ações contribuem para a prática do altruísmo?
Entendo que, é um somatório de fatores, que vão desde pequenos gestos de ajuda entre as pessoas no quotidiano, que podem contribuir para uma sociedade mais altruísta, e se estende até a preocupação com os problemas sociais, que impactam comunidades.
Ou seja, o conjunto de ações sociais não deixa de ser uma forma de exercer o altruísmo coletivamente, mesmo porque, o altruísmo sempre será necessário na sociedade, como meio de construção ou reparação social.
O monge budista Matthieu Ricard, no livro Altruism: the power of compassion to change yourself and the world, menciona que,
“No mundo contemporâneo, o altruísmo é mais do que nunca uma necessidade urgente, é uma manifestação natural da bondade humana, para a qual todos temos potencial, apesar de múltiplas e geralmente egoístas motivações que nos percorrem e, às vezes, dominam nossas mentes”.
Como alcançar a virtude altruística?
Aqui não há passe de mágica, apenas etapas que no meu entender podem contribuir com a mudança de comportamento, que envolvem: lapidação, polimento, aprendizado e reconstrução de virtudes e valores que culminam no nosso autoconhecimento, como maçom e eterno Aprendiz da Arte Real.
Sendo assim, vos apresento algumas ações que podem contribuir e vos orientar na caminhada em busca da prática do altruísmo:
Desenvolver empatia com as pessoas: é o ato de pensar como se você estivesse no lugar do outro, refletindo sobre como se sentiria em relação a alguma situação vivenciada por ele;
Ajudar o próximo sem querer nada em troca: o verdadeiro altruísmo deve ser pautado na ajuda ao próximo sem esperar uma recompensa;
Preocupar-se com os problemas da sociedade: desenvolver um pensamento crítico associado à convivência em sociedade, de maneira que possas identificar causas com as quais desejas engajar-se;
Ser solidário: vai desde ajudar em causas sociais, participando de projetos voluntários, como até mesmo realizar pequenas ações no dia-a-dia, como ajudar a alguém. Estas ações podem contribuir para sua própria felicidade;
Evitar julgar e ter preconceitos: procure entender que aquela pessoa que podes vir a julgar, tem uma história de vida diferente da sua e que pode não ter tido as mesmas oportunidades que tivestes;
Praticar atos de generosidade: ser generoso significa pensar no bem-estar do próximo. Investir parte do seu tempo para ajudar uma pessoa que esteja precisando de alguma coisa já é um ato generoso;
Valorizar as suas verdadeiras amizades: pense que em uma amizade verdadeira, sentimentos de proteção, generosidade e solidariedade sempre estão presentes. Então, dentro de suas possibilidades não meça esforços para ajudar um amigo que preciso de algo;
Exercer a gratidão: tenha gratidão todos os dias, aumentará a sua felicidade e relacionar a sua mente para pensamentos positivos;
Ouvir as pessoas: acredito que este seja um dos maiores presentes que podemos oferecer a alguém: a nossa atenção, nossos ouvidos, mesmo que não falemos nada, ao menos prestar atenção no que a pessoa nos diz, da forma que ela merece.
E por fim quais os benefícios do altruísmo?
De uma forma sucinta, penso que, resulta em bem-estar, saúde, qualidade de vida e felicidade. Mas dada a pesquisa sobre o tema, me estendo nestes conceitos, a fim de que possas perceber a profundidade destes inegáveis resultados:
Sentir-se bem: ainda que o objetivo não seja ter algo de volta, o bem-estar pessoal é inevitável, pois o benefício é natural, uma verdadeira troca que certamente só irá fazer bem;
Percepção do positivismo em cadeia: ao praticar o altruísmo, estamos incentivando indiretamente outras pessoas a agir assim. Ao contrário do círculo vicioso, que como maçons estamos a combater, aqui falamos da construção do círculo virtuoso, onde quanto mais pessoas se preocupam umas com as outras, mais o individualismo é combatido e sentimentos positivos são cultivados;
Obtenção de relações mais verdadeiras: as relações construídas com segundas intenções, baseadas em troca de favores, não tem sustentação. Nas pessoas altruístas e empáticas, o importante é a construção de relações com benefícios mútuos, mas sem interesse de receber algo em troca.
Relações autênticas devem se sustentar pela verdade, empatia, tolerância, respeito mútuo e solidariedade.
Ser feliz com pequenas coisas: quando as pessoas são movidas por ações mais altruístas, elas percebem que não é necessário muito para ser feliz. Agora, os laços construídos na base da empatia e das relações de troca são para sempre e quando você menos esperar, vai ser retribuído por uma ação que nem lembrava mais que havia feito.
Complementando tudo o que foi dito, o princípio de acção e reação, é puramente aplicado na prática altruística, pois quanto mais és capaz de oferecer esse sentimento ao mundo, mais receberás em troca e mais feliz te sentirás. Isso se explica, porque o amor altruísta está profundamente ligado à gratidão, um sentimento que nos liga a todos os seres humanos e à energia do Grande Arquiteto do Universo.
Logo, o altruísmo, por meio da gratidão que gera no beneficiado, nos conecta com os demais seres e com a natureza, enquanto o egoísmo nos separa e nos afasta inclusive da energia criadora e positiva que circula no universo.
Ou seja, é possível perceber que ser altruísta acaba não sendo uma opção, mas um pré-requisito para quem deseja ser feliz e viver integrado de forma positiva e construtiva com o mundo. Interessante!
Podemos observar no próprio poder da criação para notar que o altruísmo é a lei fundamental de evolução, pois no nosso próprio organismo, todos os órgãos e células precisam trabalhar em conjunto, ou morremos.
Vejo que após esta pandemia, mais do que nunca, haverá uma profunda transformação nos valores humanos e sociais.
O arco-íris que antes era despercebido em meio ao quotidiano, certamente será mais observado e valorizado. E a natureza com um todo.
Portanto, as relações humanas também passarão pelas transformações necessárias, porventura formando uma nova sociedade, que aprenderá com erros e acertos e que enfim seguirá o caminho normal do aspecto cronológico da evolução humana.
Entendo que a ciência e a saúde serão fatores preponderantes nesta nova sociedade que se levanta e se reconstrói. As pessoas entenderam que a vida é mais importante do que quase tudo. Porém, o mais imprescindível está por vir, “o valor do Ser Humano”.
Independente de quaisquer outras mudanças que literalmente irão ocorrer, a de maior peso, será evidenciada pelas “Relações Humanas”.
Sinceramente, espero que valores e comportamentos sejam revistos de forma que possamos participar de uma sociedade mais consciente, onde consigamos todos usufruir de todas as virtudes maçónicas, mas em especial o altruísmo.
Bem, estou a fazer a minha parte, como maçom e construtor social, na divulgação deste pequeno contributo no sentido de conclamar aos Irmãos para que juntos participemos da retomada e reconstrução de uma sociedade mais justa, saudável, solidária e feliz.
https://www.freemason.pt/altruismo-virtude-e-felicidade/
Comentários
Postar um comentário