É costume que nesta fase do ano se iniciem os procedimentos para a escolha da pessoa que irá dirigir o rumo das Lojas Maçónicas por um determinado tempo.
Na nossa Obediência, esse tempo está estabelecido e é de um ano, podendo em situações de excepção ser de dois.
Proposta, votação, instalação, etc.
Os termos são muitos, os títulos, cargos e graus, também; mas estes são apenas elementos da ritualística – de fato, somos todos e seremos sempre Obreiros e Irmãos.
Trata-se somente de seleccionar um Irmão que irá por um período efémero, dirigir os trabalhos da Loja e o rumo que esta continuará a trilhar.
Cada Loja, tal como qualquer grupo (a loja é um grupo) tem a sua própria personalidade.
No caso de uma Loja, essa personalidade a que chamaremos cultura, é complexa porque resulta da soma nem sempre equitativa de todas as partes que a constituem – os irmãos.
Em cada ano, há sempre uma destas partes que se destaca e que se pretende que se destaque – o Venerável Mestre.
Queira-se ou não, cada Venerável Mestre transforma a Loja. Não pretendo dizer que a muda para melhor ou para pior (isso ver-se-á no fim), mas não tenhamos ilusões – no final de cada Veneralato, a Loja estará certamente diferente do que era no seu início.
O que se pretende é que da influência de cada Venerável Mestre não resulte uma alteração diametral da cultura da Loja – que mude, sim, mas dentro do que é expectável pelos restantes irmãos.
Se a Loja é aberta, pretende-se que continue a sê-lo; se é mais ou menos fraternal, que se mantenha assim.
No fundo, que mantenha as suas característica base – a chamada mudança na continuidade.
Após ser instalado, o novo Venerável Mestre irá escutar repetidas vezes a palavra “saudar”. Será saudado inúmeras vezes e através de si, a Loja será também saudada.
Eu gostaria de introduzir outro termo – Salvar.
Salvemos o Venerável Mestre. Como?
- Se a Loja dispõe de um Secretário, que seja ele a cuidar da parte administrativa da Loja.
- Se a Loja dispõe de um Tesoureiro, que seja ele a cuidar da Tesouraria.
- Se a Loja dispõe de um Hospitaleiro, que seja ele a assegurar que os Irmãos estão bem e que a Loja os apoia, se necessário.
- Se a Loja dispõe de Vigilantes, que sejam eles a assegurar o futuro, formando excelentes Aprendizes e Companheiros
É evidente que o Venerável coordena estes trabalhos, mas não tem (não deve ter) de os fazer.
Então o que é que fica para o Venerável Mestre? Aquilo para que foi seleccionado – dirigir os destinos na Loja. Assegurar o seu futuro, o seu equilíbrio, que a sua cultura se mantém ou que evolui na direcção esperada.
Não se trata de restringir a autonomia do Venerável. Trata-se isso sim de o ajudar e de lhe facilitar o seu trabalho.
Também não se trata de o substituir. O Venerável Mestre foi eleito para desempenhar uma determinada função e deve ser ele a desempenhá-la.
- É ajudar o Venerável Mestre, apresentar sugestões, ideias, propostas, estar disponível (nós dizemos “estar à ordem”)? Sim.
- É ajudar o Venerável Mestre pretender fazer o seu trabalho? Não.
Não é possível falar sobre este assunto sem falar também de um bicho – o bicho Mestre Instalado.
O bicho Mestre Instalado, também conhecido por Antigo Venerável pode ter um papel muito importante, já que tem uma experiência de Veneralato, já vivida, que pode e deve ser colocada à disposição do Novo Venerável.
Que bicho, Mestre Instalado, não se lembra da primeira vez que se sentou na cadeira de Salomão – algo que se imaginava tão fácil -, e de descobrir que até já nem ler sabia e dar consigo a gaguejar o ritual?
Mas o bicho Mestre Instalado, que como já vimos, também é conhecido por Antigo Venerável, por vezes esquece-se do “Antigo”… e fica só Venerável.
Ora, um bicho Antigo Venerável que se esquece do Antigo pode transformar-se numa praga, daquelas que alastram e que chegam a cobrir toda a Loja – “o dono da loja”.
A Loja não tem donos, ou melhor, tem, mas são todos os Irmãos que a constituem.
É importante que os Antigos Veneráveis assumam que estão à Ordem, para que não corram o risco de estar “em desordem”.
Salvar o Venerável Mestre, significa ajudá-lo, e não, fazer o seu trabalho ou substituí-lo nas suas funções.
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