Introdução
Este título é dado àquele que atingiu todos os degraus das Lojas de Perfeição do REAA, tendo cumprido a etapa prevista para esta primeira série de Graus chamados de “inefáveis”. Todavia, precisamos frisar que a escalada não terminou, apenas representa a “primeira etapa de uma longa jornada”.
Em termos filosóficos, o Perfeito e Sublime Maçom é aquele que procura a Palavra Perdida da lenda de Enoque. Relembrando:
“As profecias e maravilhosos relatos de Enoque em que o povo acreditava cegamente, assim, como os seus devaneios e venturosos sonhos estão registrados nas Sagradas Escrituras antigas, vez que nas da actualidade omitem o livro que leva o seu nome.
Durante um desses sonhos, conheceu o verdadeiro nome de Deus, que lhe foi proibido de pronunciar, e noutro sonho, foi-lhe mostrado o cataclismo que em breve assolaria a Humanidade, com o nome de Dilúvio.
Enoque, então, decidiu preservar de catástrofe o verdadeiro Nome de Deus, fazendo-o gravar numa pedra triangular de ágata, em certos caracteres místicos.
Nada se conhecia a respeito da pronúncia daquele Nome, a não ser ele Enoque, por tê-lo ouvido do próprio Deus, que o traçou em hieróglifos misteriosos.
Fez Enoque gravar em duas Colunas, sendo uma de mármore e outra de bronze, os princípios em que se baseavam as ciências e artes da época a fim de que, também, passassem para a posteridade.
Após, fez Enoque construir um templo debaixo da terra, consistindo em nove abóbodas, sustentadas por nove arcos, depositando na mais profunda, o Delta de ágata e na entrada da primeira, duas Colunas, fechando a entrada com uma grande pedra quadrangular, provida de possante argola de metal no seu ceptro para que pudesse ser removida.
Advindo o Dilúvio, todos os habitantes da Terra sucumbiram, excepto Noé e a sua família que passaram a constituir a única espécie humana.
Das Colunas gravadas por Enoque, apenas a de bronze chegou à posteridade, pois a de mármore foi destruída pelas águas.
Nenhum ser humano podia pronunciar o Nome verdadeiro de Deus, antes que fosse revelado a Moisés, no Monte Sinai.
O legislador do povo hebreu mandou fazer uma grande medalha de ouro, gravada com o Nome Inefável, colocando-a na Arca da Aliança, tendo, antes, o cuidado de revelar o seu significado ao seu irmão Arão.
Numa batalha contra o rei da Síria, em que caíram feridos os que a guardavam, perdeu-se a Arca, ficando abandonada na mata.
No entanto, ninguém se podia aproximar dela sem que um leão que guardava a sua chave, o atacasse e o destroçasse.
Mas numa oportunidade em que o Grande Sacerdote dos Levitas, acompanhado do seu povo, dirigiu-se ao local onde estava a Arca, com o propósito de reavê-la, notaram que a fera vinha ao seu encontro, mansamente entregando-lhe a chave que trazia na sua boca, permitindo que a Arca fosse dali removida.”
A lenda do grau, como veremos adiante, diz que este título foi criado por Salomão justamente para premiar os Mestres que encontraram a Palavra Sagrada oculta por Enoque.
As virtudes que serão consagradas no grau são:
- A autodisciplina que é desenvolver o hábito de observar e seguir normas, regras, procedimentos, atender especificações, sejam elas escritas ou informais. Este hábito é o resultado do exercício da força mental, moral e física. Poderia ainda ser traduzido como desenvolver o “querer de facto” , “ter vontade de”, “se predispor a”;
- A constância que é a força moral de quem não se deixa abater; perseverança, persistência, força de ânimo;
- A fraternidade expressa a ideia de que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com os seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De uma certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efectivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas;
- A descrição que nada mais é do que a qualidade de alguém que não delata os segredos alheios.
Estas qualidades ou virtudes devem acompanhar os maçons conhecedores do sagrado mistério que representa a pronúncia do Verdadeiro Nome de Deus.
Os trabalhos do 14º grau realizam-se sob a abóbada secreta, que simbolicamente, se localiza num ponto qualquer do infinito.
O Templo é denominado de “Abóbada Secreta” e possui as paredes vermelhas com 10 Colunas brancas, iluminado com nove lâmpadas ao Norte, três ao Sul, cinco à esquerda no Oriente. Defronte ao Oriente, duas Colunas douradas entre as quais, uma Pedra Cúbica sobre um pedestal triangular.
A idade do Perfeito e Sublime Maçom é o nove, quadrado de três, que é o numero perfeito.
Os seus instrumentos de trabalho são o esquadro e o compasso, com os quais trabalha o pensamento e a inteligência. O inicio do trabalho é o meio dia em ponto, hora em que o sol está no seu zénite. Os trabalhos são abertos pelos Números Misteriosos, cuja soma total é 21.
A abertura é feita pela leitura dos versículos 18 a 23 do capitulo 33 de Êxodo, onde Deus diz o seu nome a Moisés, mas não lhe mostra a sua face.
São executados três sinais, que só podem ser divulgados em Loja. São os sinais do Juramento, do Fogo e de Admiração, cada um representando um simbolismo ligado à aparição de Deus para Moisés no Monte Sinai e no pacto feito com ele e com o povo de Israel.
Na elevação ao grau 14 recordam-se todas as virtudes adquiridas nos graus precedentes. É uma espécie de rememoração da escalada da perfeição. Uma faca e um machado são colocados no centro do Templo, para que seja executado o sacrifício simbólico das paixões do iniciando. O grau evoca também a sua libertação pessoal, através do simbolismo do êxodo do povo israelita do Egipto. Pressupõe-se que neste grau, após o iniciado ter adquirido o conhecimento da Palavra Sagrada, estará ele em condições de perseguir a verdadeira sabedoria, que é o significado e a forma correcta de pronunciar esse Nome.
Lenda do Grau 14
Rizzardo da Camino relata-nos a lenda:
Desde a época em que JUBULUM, JOABERT E STOLKIN , acharam o Santo Nome gravado no Nono Arco, debaixo da terra em que Enoque o escondera, sob o Santuário do Templo que ele erguera no monte Haceldema, perto do monte Sião e ao sul do Vale de Josafá e levarem essa notícia a Salomão.
Salomão, em recompensa criou para eles, o Grau de Grande Eleito e Perfeito Maçom.
Desde essa época, só candidatos dignos foram admitidos nesse Grau.
Depois da dedicação do Templo, vários dentre eles dispersaram-se pelo Mundo:
Os Maçons de Graus inferiores multiplicaram-se rapidamente, devido à menor selecção entre os que se candidatavam a conhecer a Arte Real.
A falta de circunspecção desses Irmãos dos Primeiros Graus chegou a ponto de vários profanos conhecerem os Sinais, Toques e Palavras, que só dos Maçons deveriam ser conhecidos.
A Maçonaria começou a degenerar, multiplicaram-se as recepções, nenhum interstício foi observado, entre os Graus, pessoas houve que receberam os três Graus Simbólicos de uma só vez.
Os prazeres e as diversões tomaram o lugar de instrução; apareceram inovações, uma nova Doutrina destruiu a antiga, que, jamais deveria ser abandonado.
Houve disputas e dissensões. Só os Perfeitos Maçons escaparam a esse contágio, guardas fiéis de Palavra Sagrada, que fora guardada sob a Abóboda, debaixo do “Sanctus Sanctorum”.
Começou a reinar, entre eles, essa união fraternal, união jurada e de que é o selo aquela Palavra.
Quando Salomão investiu os primeiros Maçons deste Grau, fê-los prometer-lhe, solenemente, que entre eles reinariam sempre Paz a União e a Concórdia, que praticariam obras de Caridade e de Beneficência, que tomariam para base das suas acções Sabedoria, a Justiça e a Equidade; que guardariam o maior silêncio sobre os seus mistérios e que Só os revelariam a Irmãos que pelo zelo, fervor e constância, fossem dignos de conhecê-los que se auxiliariam, mutuamente, nas suas necessidades, punindo severamente qualquer traição, perfídia e injustiça.
Deu, então, um anel de ouro como prova da Aliança que acabavam de contrair com a Virtude e para com os Virtuosos.
Quando Jerusalém foi tomada e destruída por Nabuzaradan, general de Nabucodonosor, Rei de Babilónia, os Grandes Eleitos foram os últimos defensores do Templo.
Penetraram na Abóboda Sagrada e destruíram a Palavra Misteriosa que nela se conservara por 470 anos, 6 meses e dez dias desde a edificação do Templo.
A Pedra Cúbica foi quebrada, derrubado o pedestal, tudo foi enterrado num buraco de 27 pés de profundidade, por eles cavado. Retiraram-se, depois, decididos a confiar a memória o Grande Nome e a só transmiti-lo à posteridade por meio de tradição.
Assim, o Nome Inefável nunca mais foi escrito nem pronunciado, mas apenas soletrado, letra por letra. E só os Perfeitos e Sublimes Maçons ficaram conhecendo essa pronúncia.
A moral e o significado da Lenda do Grau 14
Diz João Anatalino:
“Esta alegoria reflete claramente um retrato do momento em que o grau foi criado, ali pela metade do século XVIII. Nesta época, a Maçonaria enfrentava um processo de muitas cisões, oriundas de controvérsias e conflitos de ordem ritualística, doutrinária e mesmo políticas. Opunha-se à Maçonaria inglesa, anglicana e protestante, com a sua tentativa de unificação empreendida por Anderson e seu grupo, a Maçonaria francesa e alemã, jacobita, stuartista e católica.
A primeira, dirigida para um objectivo moral e filosófico, fundamentado nos princípios do Iluminismo, e a segunda orientada mais por sentimentos políticos, temperados por um apelo emocional ao passado, representado pelo esoterismo rosacruciano e pela tradição da cavalaria templária. Foi a unificação destas duas tendências que originou o Rito Escocês como hoje o conhecemos. Esta unificação, curiosamente, ocorreu somente na América do Norte, através do Conselho de Charleston em 1800.”
Um típico caso de anacronismo. O anacronismo é o acto de se atribuir coisas de um tempo a outro, de se colocar um costume, uma organização, uma arma, um pensamento… Num tempo que não é o dela. Em geral o anacronismo dá-se em relação a tempos mais remotos, por exemplo, é comum se acreditar que Roma foi sempre um Império, que sempre teve um Imperador, afinal, sempre ouvimos falar de César, do Império Romano, mas isso é uma inverdade. A intenção clara, dos Irmãos que produziram a instrução, era de passar uma mensagem aos maçons daquela época, em relação às cisões e conflitos produzidos por divergências políticas, ideológicas e filosóficas entre a Maçonaria Inglesa, Francesa e Alemã, protestante a primeira, e católica a segunda.
Na Lenda do Grau há uma preocupação clara, mantida desde tempos remotos (e já foi assim também em relação a outras sociedades secretas), de que a Maçonaria não é uma filosofia que deva ser popularizada, ou seja, com acesso a todos. Lembremos, por acaso, que esta preocupação já era dos alquimistas que evitavam transmitir, de forma clara, o magistério da sua arte, que se tornou a ciência hermética por natureza.
Assim sendo, e seguindo a tradição, a Palavra Perdida é tomada aqui como segredo que deve ser guardado a sete chaves e somente transmitido aos iniciados que realmente tenham mostrado mérito para conhecê-la.
Esta é uma tradição Bíblica. Lembremos que um dos mais misteriosos mandamentos do Decálogo é justamente a proibição de pronunciar Nome de Deus em vão. Diz o Senhor que “não tomaria por inocente” aquele que o fizesse. Portanto, no tempo de Moisés já se cultivava a tradição de associar poder e sabedoria àquele que conhecesse esse Santo Nome, pois tal pessoa não era inocente.
“Destarte, o possuidor deste conhecimento não podia utilizá-lo irresponsavelmente. Para que o próprio Deus tivesse tal preocupação, é por que essa Palavra Sagrada, esse Nome Inefável continha realmente, um poder inexprimível que somente pessoas iniciadas e com muita intimidade com Ele podiam fazer uso”.
Uma vez mais é evocado o antigo ensinamento, magistralmente expresso na frase de Jesus, segundo a qual quem conhece a verdade é realmente livre.
Assim, a evocação ao Nome Inefável de Deus, como supremo conhecimento, é a verdade que liberta. Moisés somente adquiriu o poder para libertar o povo hebreu do Egipto após adquirir este conhecimento.
Naquela oportunidade, Jesus esclareceu o conceito de “livre”. Disse, instado pelos discípulos, que o homem pecador (ou quem está no pecado) não é um homem livre. No caso da Maçonaria, o “pecado” são os vícios e defeitos morais do homem, os quais temos que nos “libertar”, libertação essa que se consubstancia na vitória do individuo sobre si mesmo, libertando-se dos vícios e das paixões que o escravizam.
Continuamos com João Anatalino:
“Os atos cerimoniais que se fazem por ocasião da elevação do iniciando ao 14º grau são conotativos desse ideal. O candidato “imola” as suas paixões no altar dos sacrifícios; no Mar de Bronze mergulha as suas mãos como símbolo da materialidade que ali se dissipa, como ocorrido na Lenda de Hiram ; depois, com o óleo sagrado “ que desce pela barba de Arão até a orla dos seus vestidos”, misturado ao vinho e à farinha de trigo, simbolizando os materiais da ceia mística, o iniciando é consagrado pelo Presidente da Loja. O discurso do Presidente evoca a ideia da Fraternidade existente entre os homens que comungam de um mesmo ideal e de uma mesma fé. Tendo ele encontrado a Palavra Perdida, fez-se merecedor da fita do Mestre Secreto com o Nome Inefável nele inscrito, grafada pelo nome Jeová (Iavhé).
Ele agora sabe quem é o seu Deus, e está livre dos vícios de carácter que o impediam de seguir adiante, superando os limites da matéria e ingressando nos domínios do espírito. Por isso é que a liturgia do grau sempre evoca, em primeiro lugar, a admiração pela mágica do nome revelado, e a infinitude que se revela aos seus olhos. O conteúdo metafísico do grau é exprimido por um diálogo entre o Presidente, o 1º Vigilante e o Orador, no qual estes discorrem sobre o conceito de infinito e as suas relações com o divino, o profano e a doutrina maçónica, proclamando ainda, como verdadeiro auto de fé, a livre convicção religiosa, que se exprime na crença da existência de Deus, única e simplesmente, sem qualquer necessidade de prova material ou filosófica dessa existência.”
Podemos dizer que a jornada do espírito humano é uma viagem à procura da Palavra Perdida, o Verbo Fundamental, a partir do qual tudo, inclusive ele mesmo, foi criado.
Chegando ao conhecimento (esotérico) da Palavra, ele estará enfim livre da ignorância que o mantem escravo de uma vida repleta de vícios e desvirtues. Passa assim, a adorar o Único e Verdadeiro Deus, que é a VERDADE. Como Jesus disse “a Verdade vós libertareis”.
Conhecendo a Verdade o homem será livre.
Sabe agora que Deus existe e que tem um Nome, que outorga um poder a quem o conhece.
Este poder advém do verdadeiro conhecimento, da felicidade e do progresso que vêm do trabalho.
A certeza é que Deus é Um, a Natureza é Uma, o Criador é Uno, tudo tem um sentido, uma finalidade e uma significância.
Luis Genaro Ladereche Figoli, 33º
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