Uma visão do Grau de Aprendiz

aprendizA presente peça de arquitectura – Uma Visão do Grau de Aprendiz – é decorrência, para que fosse ministrada aos AApr∴ informações gerais acerca do primeiro Grau Simbólico da Maçonaria.

A tarefa não é fácil. 

Obter uma visão de um Grau em Maçonaria, uma sociedade universalista e ecléctica, é uma tarefa difícil. Mas, vejamos o que poderemos apresentar como tal.

Em primeiro lugar, é necessário que tenhamos uma ideia do que seja o Aprendiz e o que precisa aprender nesse interstício. 

Em segundo, procurar uma visão do Grau, haja vista, que segundo o nosso entendimento, não deverá estar adstrita aos aspectos Iniciáticos, Litúrgicos e Esotéricos do Grau. Deve abranger muito mais.

Para que se tenha, pelo menos uma ideia geral sobre o Grau de Aprendiz, desenvolveremos o nosso trabalho dentro dos seguintes enfoques: histórico, iniciático, simbólico, esotérico, educativo, litúrgico, ritualístico, administrativo, ocultista, religioso e filosófico.

Cremos que assim poderemos ter uma visão geral do Grau e, via de consequência, traçar o nosso plano de trabalho para as instruções necessárias aos Aprendizes Maçons.

O que é um aprendiz?

O nosso primeiro grande questionamento é saber o que é um Aprendiz em Maçonaria. 

Vem em nosso socorro o mais abalizado escritor maçónico nacional, Irm∴ Nicola Aslan, no seu Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, vol. I págs. 118 e 119.

Diz-nos o Irm∴ Aslan que “no Simbolismo Maçónico, o Grau de Aprendiz representa o homem na sua primeira infância e nos primeiros séculos da civilização. 

O Aprendiz deve estudar as leis, os usos e os costumes da Instituição, trabalhando simbolicamente, no desbaste da Pedra Bruta, o que faz desde o meio-dia até a meia-noite.”

Os Trabalhos, no Grau de Aprendiz, têm por objectivo demonstrar ao novo Iniciado a escravidão em que vive, despertando no seu coração o sentimento da sua própria dignidade, e incentivando-o no estudo da Verdade. 

O Aprendiz tem por objectivo lutar contra os inimigos naturais do homem, as paixões; contra os hipócritas, os perjuros, os fanáticos e os ambiciosos, os que especulam com a ignorância e o obscurantismo, combatendo-os com vigor para que a luz vença as trevas, para que a honra derrote a perfídia e a verdade triunfe do erro. 

É este o simbolismo do Aprendiz, que passa das trevas para a Luz.

Mais adiante, ao citar o Irm∴ L. Cousscau, diz que: a Aprendizagem é um período de meditação e de silêncio.

O Aprendiz não pode tomar a palavra a menos que seja convidado pelo Ven∴. 

O Sinal de Ordem há de lhe lembrar que deve dominar a exteriorização dos seus pensamentos.”

“Durante este período, o Aprendiz tem a revelação do que é a obra da Maçonaria e aprende que para ser ao mesmo tempo digno e capaz de nela trabalhar, precisa libertar o seu espírito e purificar o seu coração.”

“Para poder alcançar o segundo Grau, é preciso desbastar a “pedra bruta” que o personifica, isto é, deve progressivamente desfazer-se de todos os maus costumes, de todos os prejuízos, de todos os defeitos, de todas as paixões que agitam o mundo profano. 

Simbolicamente, para este Trabalho, entregam-se duas ferramentas: o Cinzel, que, tirando as asperezas, equivale à faculdade de apreciar com rectidão; o Malho, que, arrastando a decisão, afasta do espírito que o estorvava, falseando-o.”

“Por outro lado, o Avental lembra-lhe as obrigações. O uso proíbe de entrar em Loja sem dele estar revestido. Esta regra faz-lhe sentir que, momentaneamente, deve renunciar aos hábitos profanos. 

O Maçom que dele está ornado não é mais o que era antes. Quando toma a palavra, estando à ordem, exprime ele a sua opinião com calma, em termos comedidos, calculados para não ferir a ninguém, mesmo quando estaria tentado a se enfadar na defesa de ideias que lhe são caras.”

Dentro desta óptica, apercebemo-nos da importância do Grau de Aprendiz e da responsabilidade que temos, como Mestre, de tornar possível a aprendizagem do Aprendiz.

O Irm∴ Aslan, no trabalho anteriormente citado dá-nos algumas pistas acerca deste Grau:

  1. representa o homem na primeira infância;
  2. a civilização nos primeiros séculos;
  3. estudar as leis, usos e costumes da instituição;
  4. desbastar a Pedra Bruta, cujo Símbolo é o próprio Aprendiz significando que deverá, neste período, tornar-se um Maçom dentro dos aspectos do simbolismo, do esoterismo, da liturgia e da filosofia maçónica. A sua Iniciação litúrgica o tornou capaz de adentrar o Templo Maçónico e, nele, absorver as verdades e os ensinamentos que o seu conteúdo simbólico e iniciático proporciona;
  5. trabalhar do meio-dia à meia-noite;
  6. lutar contra as paixões, a hipocrisia, os perjuros, os fanáticos, os ambiciosos, os que especulam com o obscurantismo e a ignorância;
  7. o período de Aprendiz é um período de meditação e silêncio;
  8. o Avental lembra ao Aprendiz as suas obrigações.

Dentro desta amplitude, a visão do Grau de Aprendiz Maçom é muito grande, embora não tenha vislumbrado ainda todo o Grau, o que nos parece impossível de fazer, pelo menos no sentido de pôr no papel todo o seu significado, posto que existem ensinamentos que somente a linguagem velada dos Símbolos torna o Iniciado liturgicamente em verdadeiro Iniciado e que essa aprendizagem é individual e onde o Mestre é, em verdade, o próprio Iniciado.

Daí a nossa responsabilidade para com o Aprendiz. Já dizíamos no nosso livro: INSTRUÇÕES PARA LOJA DE APRENDIZ na pág. 65-6, que as ESPERANÇAS DO APRENDIZ ao adentrar ao Templo é o de que “… todas as juras, todas as promessas sejam transformadas em realidade, na sua novel vida maçónica. (…) e que “ quando procurar um Irm∴, espera encontrar a si mesmo, pois está certo de que ele será o seu outro Eu, como o seu Eu deverá ser o Eu do que está sendo procurado”.

Em busca de uma visão do Grau de Aprendiz

Feita esta pequena digressão, vejamos agora o nosso Trabalho propriamente dito que é uma busca de uma visão do Grau de Aprendiz Maçom.

Uma primeira abordagem ensina-nos que uma visão do Grau de Aprendiz Maçom é aquela que permite ao Iniciado liturgicamente na Cerimónia de Iniciação tornar-se Iniciado Real, isto é, obter a Iniciação Real que somente ele pode fazê-lo; também, deverá permitir que o Aprendiz se possa aperceber que a Maçonaria é uma instituição ecléctica e universalista e que o Maçom é um cidadão do mundo sem deixar de ser patriota.

Além destes ensinamentos que podem ser transmitidos pelas palavras, existem aqueles que somente o exemplo de vida – Maçónica e profana – podem oferecer ao novo membro da Ordem uma perspectiva de como é, de facto, a organização para a qual entrou e quão diferente se apresenta de outras instituições às quais pertence.

Uma visão histórica do Grau de Aprendiz

O Grau de Aprendiz não é privilégio somente da Maçonaria. Ele existe em todas as sociedades iniciáticas, em todas as instituições, mesmo as profanas, com outras denominações, mas sempre com o mesmo objectivo que é fazer com que o Neófito tome conhecimento das finalidades, usos e costumes da organização à qual pertence.

O nosso Nicola Aslan, no mesmo Dicionário Enciclopédico, diz-nos que Aprendiz “denominação do primeiro Grau da Maçonaria Simbólica Universal. Este Grau é admitido em todos os sistemas e Ritos. 

O nome foi tirado da Maçonaria Operativa, na qual o Aprendiz ocupava o Grau mais inferior da escala entre os operários. 

A Maçonaria Especulativa adoptou os usos e costumes, regulamentos e instrumentos das antigas corporações, fraternidades ou guildas operárias de construtores a fim dc estabelecer o seu próprio sistema de organização e de moralidade.” (pág. 118 vol. I).

Como sabemos, a Maçonaria Especulativa quando adopta como uma das suas definições a que a conceitua como iniciática, simbólica, educativa, progressista, filosófica, tendo por divisa a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, proclamando a prevalência do espírito sobre a matéria, proporciona aos seus membros uma ampla aprendizagem, independentemente do seu Grau e qualidade.

O Aprendiz, à maneira dos antigos ofícios mecânicos, é o estagiário, o que começa a aprender, a ser instruído no mister…” diz-nos na página 86, A.H. de Oliveira Marques no seu DICIONÁRIO DE MAÇONARIA PORTUGUESA, Vol. I, Editora Delta, Lisboa, 1986.

Estes pontos evidenciam a parte histórica do Grau de Aprendiz. Originário das antigas corporações, tem na Maçonaria atual, um sentido educativo e moral de relevância, posto que em Maçonaria não se aprende apenas o ritualismo, o simbolismo, a liturgia, o esoterismo, aprende-se, sobretudo, a ser ecléctico, a ser universalista, a ter uma perspectiva de fraternidade que ultrapassa a de Irm∴ consanguíneo.

Carvalho Neves


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