Não é segredo que a música do Hino Nacional Brasileiro é muito bonita.
E também é público e notório que a letra é de difícil entendimento.
Não apenas pelo vocabulário, mas também pela sintaxe obscura e intricada.
A letra quente do hino, diferentemente da letra fria da lei, deve ser ainda mais complicada para os jogadores de futebol.
Mesmo em momentos gloriosos para a seleção canarinho, a vergonha é geral: poucos de nossos craques ousam cantá-lo ou sequer acompanhá-lo.
E se o “professor”, o técnico, tivesse que explicar aos pupilos, além de estratégias e táticas, o significado de “lábaro estrelado”, “raios fúlgidos”, “impávido colosso”, “florão da América” e “clava forte”, seríamos desclassificados bem antes das Eliminatórias.
Há coisas mais cabeludas. No segundo verso, depois das famosas “margens plácidas”, lemos “heroico brado”, mas ouvimos soar “herói cobrado”.
O “Hymno Nacional Brasileiro”, na grafia original, teve letra provisória do desembargador e poeta Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva.
Não era apenas complicado, era controverso e hoje seria criminoso.
No estribilho, proclamava: “Da Pátria o grito / Eis que se desata; / Desde o Amazonas, / Até ao Prata”.
O Uruguai, como se sabe, não gostou desta concepção, mas os brasileiros sabem mais do “maracanazo” de 1950 do que da perda da outrora Província Cisplatina, em 1825.
Até então o Uruguai era nosso.
“Chutatis chutandis”, já teríamos sido hexa e heptacampeões, uma vez que o vizinho foi campeão mundial em 1930 e em 1950.
Antes do triunfo do futebol, ou da passagem das guerras de outros campos de batalha para os estádios, a coisa era feia.
Uma das estrofes dizia dos portugueses:
“Homens bárbaros gerados / De sangue judaico e mouro / Desenganai-vos: a pátria / Já não é vosso tesouro”.
A música, do professor e maestro Francisco Manuel da Silva, é linda. A letra, do professor e poeta Joaquim Osório Duque Estrada, tem alguns senões, mas ainda bem que a letra do Hino Nacional Brasileiro é a atual. Não falamos mal de nenhuma etnia.
Um tanto imodestos, por justos motivos, exaltamos nossa grandeza e nossa riqueza, embora “gigante pela própria natureza”, o Brasil esteja demorando muito a erradicar a pobreza extrema.
Demora também a ensinar a modalidade escrita do português a quem somente conhece a própria língua de áudio e de vídeo, isto é por ouvir e ver, não por ler e escrever.
Quem ler saberá que a Independência não se deu num único dia, demorou, não alguns anos, mas alguns séculos, dependendo do ponto de vista, e o processo tinha começado no Século XVIII ou talvez antes.
Os marcos iniciais variam conforme os autores que lemos. Para uns, foi a Inconfidência Mineira. Para outros, as batalhas de Guararapes, no Século XVII.
De todo modo, não foi na Suécia em 1958, embora lá tivesse surgido um novo rei, o rei Pelé, o primeiro com o qual o povo brasileiro conviveu depois que João VI, nosso primeiro rei, tinha ido embora, há pouco mais de cem anos, período assaz breve para a História.
Esse rei deixou muitas saudades e, se tivesse trazido apenas a Biblioteca Nacional, a viagem já teria sido um sucesso para os brasileiros, embora Sua Majestade, toda a Família Real e a imensa comitiva estivessem fugindo de Napoleão.
Na volta a Portugal, Dom João VI passou ao longe da prisão inglesa onde o famoso imperador Napoleão Bonaparte, seu derrotado inimigo, estava então encarcerado.
Notem que Dom Pedro I, o filho do rei português, proclamou a Independência, mas continuou fiel ao pai, o verdadeiro rei do Brasil. Ele nomeou-se imperador, não vice-rei.
Vices sempre deram mais problemas do que soluções aos reis.
O Brasil já avançou muito e não no sentido de “Avante, soldados: para trás”.
Com todos os senões, desde que proclamou sua independência política, o povo vive melhor depois de famosas Retiradas, nem todas realizadas por estratégias.
Algumas foram frutos do azar e do acaso, cujas leis desconhecemos.
Já obtivemos nossa independência política. Falta a econômica, que tanta influência tem sobre todas as outras ...
A PÁTRIA – OLAVO BILAC
ResponderExcluirAma, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! Vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! Não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
In: BILAC, Olavo. Poesias infantis. 18.ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 195.
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a Cadeira 15, a qual Gonçalves Dias é o Patrono.
Nasceu em 16 de dezembro de 1865 no Rio de Janeiro.
Faleceu em 28 de dezembro de1918 no Rio de Janeiro.