A beleza de Envelhecer ...

 

O Silêncio das Transformações e dos Gritos do Coração

Envelhecer é acordar com memórias no peito e passos mais lentos na trilha.
É olhar o mundo com olhos mais serenos e perceber que a pressa ficou para trás.
É abraçar o espelho com as rugas que contam histórias e os cabelos que viraram neve.
É descobrir que o tempo não rouba, apenas troca: juventude por sabedoria, força por quietude.
É caminhar mais devagar, não por fraqueza, mas por contemplação.
É encontrar beleza onde antes passava despercebida em uma flor, um gesto, uma tarde chuvosa.
É aceitar que o corpo muda, que os ossos doem e que os olhos cansam, mas que a alma ainda dança.
É dizer adeus à pele firme e dar as boas vindas à pele vivida, marcada por amor e luta.
Envelhecer é dizer adeus a quem fomos, e acolher com respeito e ternura quem somos agora.
É entender que o passado não volta, mas vive nos olhos de quem viveu intensamente.
É saber que cada marca no rosto é uma página do livro da vida escrita com coragem.
É deixar ir as ilusões, e receber de braços abertos a realidade que conforta.
É se despojar de culpas, medos e silêncios engolidos ao longo dos anos.
É ter o direito de dizer “não posso” sem vergonha, e o dever de dizer “eu te amo” sem demora.
É abandonar a pressa, o julgamento e a necessidade de provar algo a alguém.
É valorizar o cheiro do café, o canto de um pássaro, o toque de uma mão amiga.
Envelhecer é deixar ir quem queria partir, sem amargura, apenas com uma suave saudade.
É dizer adeus aos amigos, amores, pais, irmãos, filhos às vezes.
É entender que a vida é feita de ciclos, e que a eternidade é construída em memórias.
É vestir o luto no coração e ainda sorrir ao sol da manhã.
É andar sozinho pelas ruas, mas sentir a companhia daqueles que te amaram e ainda vivem em você.
É preparar o coração para o último capítulo com paz, e não desespero.
É escrever com os olhos o que a boca não diz mais, e tocar com o olhar o que as mãos não alcançam mais.
É viver mais em silêncio, mas com mais significado.
É aceitar que o corpo já não seduz como antes, mas ainda pode aquecer e ser abrigo.
É rir com menos dentes, mas com mais alma.
É chorar sem se esconder, sem medo de parecer frágil.
É descobrir que a fragilidade também é força a força para continuar apesar de tudo.
É deixar que permaneçam aqueles que te amam como você é, não como você foi.
É não mendigar presença, nem implorar afeto.
É aprender a gostar da própria companhia, mesmo nas longas madrugadas.
É ser inteiro com menos e mais verdadeiro com tudo.
É se livrar do que pesa, do que fere, do que amarra.
É dar palavras doces, mesmo quando o mundo fica áspero.
É saber ouvir mais do que falar, porque já foi dito o suficiente.
É sentir gratidão por ainda estar aqui, mesmo que doa um pouco.
Envelhecer é ter o direito de esquecer nomes, datas, compromissos.
É guardar com mais cuidado os sorrisos e os abraços que te deram.
É ver os netos correndo e lembrando dos filhos, e ver você em cada um deles.
É sentir saudades do que foi e esperança do que ainda pode ser.
É não esperar muito dos outros, mas ainda assim se surpreender com pequenos gestos.
É não contar com a chegada de ninguém, mas sorrir quando alguém bate na porta.
É saber que a solidão às vezes visita, mas também ensina.
É cultivar flores no coração, mesmo quando já não se tem jardim.
É entender que a juventude foi um rascunho da verdadeira beleza.
É notar que a alma se embeleza com o tempo, fica mais clara, mais livre.
É reconhecer que a velhice não é o fim, mas outra forma de começar.
É descobrir novos sonhos, mesmo que os pés estejam cansados.
É rir de si mesmo, das manias que ficaram, das histórias repetidas.
É não pedir desculpas por existir, nem permissão para ser.
É ocupar espaço com dignidade, com doçura, com verdade.
É carregar um universo dentro do peito, e oferecê-lo a quem quiser ouvi-lo.
É saber que tudo acaba, inclusive nós.
É se preparar para partir leve, com a mala cheia de memórias.
É dizer adeus à vida como a um velho amigo, com gratidão e olhos brilhantes.
É deixar um pouco de si em cada pessoa amada.
É envelhecer sem medo, com coragem e fé.
É entender que o corpo morre, mas o que fomos permanece.
É ser história viva, ponte entre gerações.
É ser amor que não acaba, mesmo depois da ausência.
É saber que não se envelhece completamente quando se ama, quando se acredita, quando se sonha.
É aceitar limitações com poesia, e rugas com poesia ainda maior.
É transformar dores em poema, e saudades em oração.
É viver o tempo que resta como bênção, e não como castigo.
É acolher o pôr do sol da vida como se acolhe o pôr do sol: de olhos abertos, coração quente e alma rendida à beleza de mais um dia.

É entender que envelhecer não é se perder, mas se encontrar.

É finalmente descobrir que o amor é a única coisa que nunca envelhece.

Marcelo Paz Bezerra

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