A Loja dos Sonhos de Andros

 

Era uma noite serena no alto das montanhas, onde os ventos falavam com as árvores e os astros cintilavam como sentinelas do tempo.

No coração de um vale escondido, ficava o Templo de Pedras Vivas, onde o velho sábio Andros reunia seus discípulos sob a abóbada celeste.

Naquela noite, Andros parecia mais reflexivo que o comum.

Seus olhos vagavam entre o fogo da lareira e o céu estrelado.

Os discípulos, sentindo a vibração silenciosa da ocasião, sentaram-se ao seu redor, em silêncio respeitoso.

Após alguns instantes, ele falou com voz serena, porém firme:

— Meus filhos, hoje não lhes trarei mistérios ocultos nem símbolos velados. Hoje quero partilhar um sonho. Um sonho que carrego há anos no peito e que, por vezes, me faz sorrir em lágrimas e chorar em esperança.

Os discípulos se entreolharam curiosos. Andros prosseguiu:

— Eu sonho com uma Loja. Mas não qualquer Loja. Sonho com uma que seja mais do que paredes e colunas, mais do que rituais e cargos. Sonho com uma Loja que seja um estado de espírito. Um lugar onde os Irmãos se encontrem não por obrigação, mas por amor.

Sua voz ganhou brilho e o velho sábio se ergueu, como se o próprio vento o sustentasse.

— Quero uma Loja onde os corações se comovam com a dor do outro, e os olhos se encham de luz com as vitórias alheias. Onde os cargos sejam símbolos e não coroas, e onde a palavra "Irmão"seja vivida, e não apenas dita.

Os discípulos se aproximaram, fascinados. Um deles, mais jovem, perguntou:

— Mas Mestre, como será esse Templo? De mármore branco? De ouro e prata?

Andros sorriu com doçura e respondeu:

— Não importa se for azul, carmim ou de barro simples. Importa que seja ungido com o orvalho de Hérmon, onde cada um possa ser vulnerável sem vergonha e forte sem arrogância. Quero um Templo onde a lágrima encontre abrigo e o riso floresça como incenso ao céu.

Outro discípulo, de fala firme, indagou:

— Mas e os perfeitos, Mestre? Aqueles que dizem nunca errar?

O olhar de Andros ficou sério:

— Filho, livrai-nos dos homens perfeitos! São os que jamais erram porque nada fazem. Nunca amam porque têm medo de se ferir. Que nossa Loja tenha equívocos sim, mas também tenha perdão. Que tenha dúvidas, mas busque a Verdade. Que tenha contradições, mas viva o Amor.

O fogo crepitava como se aplaudisse suas palavras.

Andros se aproximou da pedra central do Templo e colocou sobre ela um livro antigo, seu diário de jornada. Com a mão sobre ele, disse:

— Não quero uma Loja de elite insensível. Quero uma Loja de almas inquietas, onde cada Irmão se orgulhe do progresso do outro como se fosse o seu. Onde ninguém se acomode, onde todos se elevem apenas pelo Trabalho e pela Virtude.

— Quero uma Loja que exista todos os dias: no lar, no trabalho, no silêncio da oração e no ruído das decisões difíceis. Uma Loja onde o segredo não precise ser jurado, porque a palavra empenhada já baste.

Os discípulos estavam comovidos. Alguns choravam discretamente, tocados por aquela visão que não era apenas bela — era possível. Um deles, o mais velho entre os discípulos, falou com voz trêmula:

— Mestre... essa Loja já existe?

Andros pousou a mão em seu ombro e respondeu com ternura:

— Ainda não. Mas ela pode existir. Só depende de nós. Se todos quisermos, se todos sonharmos o mesmo sonho, ela nascerá. E quando ela existir, não precisaremos de marcos ou pedras para reconhecê-la — bastará olhar nos olhos uns dos outros.

E com isso, o velho sábio se sentou novamente, fechou os olhos e respirou profundamente.

Naquela noite, sob as estrelas, um novo alicerce foi lançado.

Não feito de pedra, mas de propósito.

Cada discípulo saiu dali com o coração inflamado, levando consigo o compromisso de transformar o sonho de Andros em realidade — uma Loja viva, justa, fraterna e eterna.

Algo que alegre o coração e inspire o entusiasmo.