Maçonaria, uma escola de virtudes ...

 

quatro virtudes
As quatro Virtudes Cardeais ou Cardinais

A Maçonaria, como uma escola de virtudes, reflete no seu propósito essencial a formação moral, intelectual e espiritual do ser humano. 

Desde as suas origens, a Maçonaria busca lapidar o indivíduo, tornando-o um exemplo de retidão, fraternidade e justiça. 

Esta missão permanece inalterada ao longo do tempo, mesmo diante das mudanças sociais e culturais.

Ao analisar este fundamento sob a perspectiva das virtudes, cardeais e teologais, percebe-se que a Ordem Maçónica incentiva o desenvolvimento integral do ser humano, tanto no aspecto moral e ético (virtudes cardeais) quanto no espiritual e transcendente (virtudes teologais).

As Virtudes Cardeais na Maçonaria

As quatro virtudes cardeais – Justiça, Temperança, Fortaleza e Prudência – são fundamentais na formação maçónica, pois representam os pilares da conduta recta e equilibrada.

  1. Justiça – A Maçonaria ensina que o Maçom deve agir de maneira equânime e imparcial, atribuindo a cada um o que lhe é devido. A prática da justiça dentro da Loja e na sociedade garante harmonia, fraternidade e respeito aos direitos individuais e colectivos.
  2. Temperança – Esta virtude representa o domínio sobre as paixões e impulsos, algo essencial para o verdadeiro iniciado. A Maçonaria incentiva o autocontrole e a moderação, evitando excessos que possam comprometer a lucidez e a rectidão do carácter.
  3. Fortaleza – A caminhada maçónica não é isenta de desafios. A Ordem ensina que o Maçom deve ser forte diante das adversidades, mantendo-se fiel aos princípios da Verdade e da Honra. Esta virtude também está ligada à perseverança no aprimoramento pessoal e no serviço à humanidade.
  4. Prudência – A prudência é a capacidade de agir com discernimento, buscando sempre o caminho mais sábio e equilibrado. Na Maçonaria, ela se manifesta na necessidade de reflectir antes de falar ou agir, garantindo que as decisões sejam tomadas com sabedoria e responsabilidade.

As Virtudes Teologais na Maçonaria

As três virtudes teologais – Fé, Esperança e Caridade – elevam o espírito humano e o conectam ao plano transcendente. Embora a Maçonaria não seja uma religião, ela reconhece e valoriza a espiritualidade dos seus membros.

  1.  – A Maçonaria exige dos seus membros a crença num Princípio Criador, representado pelo Grande Arquitecto do Universo. No sentido filosófico, a fé também se manifesta como confiança na fraternidade, no progresso da humanidade e no aperfeiçoamento individual.
  2. Esperança – O Maçom é um homem de esperança, pois acredita na construção de um mundo melhor e no poder transformador da virtude e do conhecimento. Ele mantém a sua confiança no aprimoramento contínuo, tanto individual quanto colectivo.
  3. Caridade – Esta é a virtude teologal que mais se manifesta na prática maçónica. A caridade, entendida como amor ao próximo, é exercida tanto no auxílio material aos necessitados quanto na fraternidade entre os irmãos. O Tronco de Solidariedade e as acções filantrópicas das Lojas são expressões concretas deste princípio.

A Maçonaria, como uma escola de virtudes, ensina e cultiva através das suas instruções, de maneira simbólica e prática, tanto as virtudes cardeais, que estruturam a conduta ética do homem, quanto as virtudes teologais, que elevam a sua dimensão espiritual. 

Assim, ao longo da sua jornada, o Maçom aprende a equilibrar razão e fé, justiça e compaixão, conhecimento e espiritualidade, tornando-se um verdadeiro construtor de si mesmo e da sociedade.

Um longo caminho

O caminho maçónico não é simples nem imediato. Exige disciplina, reflexão, autoconhecimento e superação contínua. Cada grau, cada símbolo e cada lição apresentam desafios que testam a sua fortaleza, exigem prudência, ensinam a justiça e pedem temperança.

Além disso, a caminhada não se limita ao intelecto; há também um profundo trabalho interior, no qual a fé sustenta as suas convicções, a esperança impulsiona diante das dificuldades e a caridade lembra de que o verdadeiro crescimento vem do serviço ao próximo.

É, sem dúvida, um percurso árduo, mas compensador. 

O aprimoramento constante torna melhores os homens, não apenas para si mesmos, mas para a família, a Loja e a sociedade. 

No fim das contas, a recompensa não está no destino final, mas no próprio caminho trilhado. 

Afinal, o aperfeiçoamento nunca termina; é um labor eterno, tal como a construção do Templo Interior. 

É como alcançar a Sabedoria: um ponto, ou um patamar ou um lugar imaginário, somente percebido quando uma outra pessoa assim o reconhece como homem sábio. Não é um troféu que se conquista, nem um marco definitivo que se alcança. 

Ela é um estado percebido mais pelos outros do que por si próprio. 

O verdadeiro sábio jamais se autoproclama como tal, pois reconhece que a busca pelo conhecimento e pela virtude é infinita.

Na jornada maçónica, este processo manifesta-se claramente: o Aprendiz aprende a calar e a observar, o Companheiro a refletir e lapidar o seu intelecto, e o Mestre, mesmo tendo atingido um grau elevado, não se considera um ser acabado, pois compreende que a Sabedoria é um ideal sempre a ser perseguido. 

Assim como um escultor nunca vê a sua obra como perfeita, o homem verdadeiramente sábio jamais se enxerga como tal. 

Ele simplesmente age com discernimento, e os que o cercam, ao perceberem a sua conduta, reconhecem nele a presença da Sabedoria. 

É um lugar imaginário, pois nunca há um diploma de “sábio”, mas sim o reconhecimento que surge no olhar de quem vê em outro homem a luz do entendimento e da virtude.

Então, a Ordem Maçónica, mais do que qualquer outra instituição, é uma escola de virtudes cujo objectivo maior é a transformação do homem. 

Tudo dentro dela – os seus rituais, símbolos, instruções e valores – converge para este propósito fundamental: aperfeiçoar o indivíduo para que ele se torne um construtor de si mesmo e da sociedade. 

A Maçonaria não impõe dogmas nem entrega respostas prontas. 

Pelo contrário, ela coloca o homem diante de questionamentos profundos, fazendo-o reflectir sobre a sua conduta, as suas crenças e a sua missão no mundo. 

Ser Maçom é, acima de tudo, estar em constante evolução, sabendo que o aperfeiçoamento nunca tem um ponto final.

Portanto, a Maçonaria não é apenas uma sociedade filosófica, fraternal ou filantrópica – ela é, antes de tudo, uma escola que ensina o homem a ser melhor, guiando-o na jornada de transformação moral, intelectual e espiritual.

Giovanni Angius, MI – 33º REAA – ARLS Orvalho do Hermon nº 21 – Grande Loja Maçónica do Estado do Espírito Santo – Brasil


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