O absurdo do fanatismo maçônico: "Entre o mito e o delírio" (Por: V. ·. H. ·. Fernando Alvarez Mondego)

 



Vivemos uma época em que o simbólico, o iniciático e o espiritual foram sequestrados pela ansiedade pós-moderna do extraordinário.


Maçonaria, arte real da transformação interior, também foi vítima dessa tendência. É triste — e por vezes grotesco — observar como alguns iniciados, especialmente de graus simbólicos, caem em uma espécie de culto mágico aos altos graus, atribuindo poderes paranormais aos seus irmãos mais velhos, como se fossem xamãs antigos ou santos de lenda.

Este fenômeno revela mais sobre a necessidade humana de acreditar em milagres do que sobre a própria essência do trabalho maçônico.

O erro do fã: confundir o ritual com o poder:
Em entrevistas recentes, vários maçons de baixa grade afirmam que um professor do 33 grau pode curar dores com um abraço ou ler pensamentos.

Este tipo de discurso, mais próprio de uma seita sincrética do que de uma escola de sabedoria, revela uma perigosa mistura de ignorância, necessidade emocional e fanatismo.

Esquece-se que o grau não faz o homem, mas é o homem que deve honrar o grau com sua virtude e seu trabalho.

O ritual maçônico não confere poderes místicos por si só. Não há palavras mágicas que despertem a clarividência, nem escadas invisíveis para o sobrenatural.

Maçonaria não é uma religião oculta nem um caminho esotérico de taumaturgos.

É um método de perfeição moral, intelectual e espiritual, fundado em símbolos, alegorias e trabalho constante.

Elevar ao grau 33 a categoria de “santo taumaturgo” é trair a humildade e a racionalidade que devem guiar o coração do iniciado.

A verdade do iniciado: inteligência não basta!

Conheci maçons brilhantes, de profunda cultura, grande acuidade e nobre caráter. Sua luz era fruto de estudo, meditação, prática da virtude e compromisso ético.
Não faziam milagres, mas inspiravam.
Eles não curavam corpos, mas tocavam almas com a sabedoria silenciosa do exemplo.
Seu poder não era sobrenatural, mas profundamente humano: o poder do caráter, da temperança, do julgamento justo.
Se algo poderia ser chamado de "milagroso" neles, era a sua capacidade de viver de forma coerente.

O mito do grau 33: a armadilha do esoterismo mal entendido:
O grau 33, dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito, é um reconhecimento honorário ao serviço maçônico.

Não concede poderes ocultos, nem transforma o homem em um ser divino.
No entanto, a imaginação esotérica, somada ao desconhecimento, gerou uma aura de mistério que é terra fértil para os mitos.

Alguns procuram na maçonaria o que não encontraram na religião, na ciência ou na vida: certezas absolutas, caminhos rápidos para o poder, validação espiritual.

E assim, em vez de se erguerem, eles se perdiam.

O que se transforma: a alma trabalhada...
Não é que os maçons não mudem.
A autêntica iniciação, se vivida honestamente, transforma o homem.
Torna-o mais consciente, livre, íntegro.
Abre sua intuição, afina sua percepção simbólica, fortalece seu carácter.
Mas isto não é magia.
É virtude cultivada.
É um trabalho paciente.
É a alquimia do dever e do pensamento.

A única clarividência verdadeira é a do coração limpo e da mente limpa.

Conclusão: Contra o fanatismo, a lucidez e a humildade!
Maçonaria não precisa de fãs, precisa de homens livres e de bons costumes. Precisa de trabalhadores silenciosos, não adoradores de ídolos vivos.

O fanatismo dentro da Ordem é um veneno lento: adultera os símbolos, banaliza os graus, transforma o Venerável em um guru e o templo em teatro.

A verdadeira luz não deslumbra, ilumina sem arrogância.

E o verdadeiro maçom não exibe seu grau nem presume poderes: trabalha no segredo da sua consciência.

Que o neófito, se procura algo sobrenatural, olhe para dentro de si.

Lá, se persistir, talvez encontre o mais alto que um ser humano pode encontrar: sua própria alma redimida pelo amor, razão e verdade.

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