O conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância.

 

Durante mais de dez anos mergulhado na criação de conteúdos online, o que mais aprendi não foi sobre algoritmo, nem sobre audiência — foi sobre consciência. 

Trabalhar com informação te força a perceber que, no fundo, as pessoas não querem só saber o que está acontecendo. Elas querem reagir. 

E, muitas vezes, reagir se tornou um vício. Fomos ensinados a responder tudo: manchete, trend, briga política, treta de famoso, previsão do tempo, rumor de guerra. 

Reagir virou reflexo. 

Mas a pergunta que não cala é: pra onde vai nossa energia quando vivemos apenas reagindo?

Esse modo de existência reativa não é só desgastante. 

É esquizofrênico. 

Porque passamos o dia inteiro atentos a coisas que estão totalmente fora do nosso controle — e perdemos, silenciosamente, a soberania sobre o que realmente importa: o nosso mundo interno. 

Nossas metas, emoções, talentos, traumas, desejos. 

Tudo isso vai ficando em segundo plano enquanto a gente vive correndo atrás de entender o que está acontecendo “lá fora”. 

Resultado? 

Gente informada, mas perdida. Cheia de dados, mas desconectada da própria alma.

A real é que o maior conflito que existe não é essa historinha de luz versus trevas, direita contra esquerda, bem contra mal. Isso é cortina de fumaça. 

O verdadeiro embate é entre o conhecimento e a ignorância. 

E não estou falando de quem tem diploma ou QI alto. Estou falando da ignorância sobre si mesmo. 

Sobre os próprios ciclos. Sobre os próprios gatilhos emocionais. 

Sobre a origem da própria raiva, do medo, da pressa. Isso ninguém ensina. 

E é aí que o sistema ganha: te mantendo ocupado demais pra perceber que o inimigo nunca esteve do lado de fora.

“Você não é livre quando faz o que quer. Você é livre quando se conhece o bastante pra não ser manipulado.” — Krishnamurti

O problema nunca foi se informar. 

Informação é poder. 

O problema é o excesso. 

É o consumo compulsivo. 

É parar tudo que se está fazendo para mergulhar em uma avalanche de dados sem digestão. 

É sair do foco, da direção, da clareza… para virar espectador do caos. 

A mente se fragmenta. 

O corpo sente. 

A ansiedade cresce. 

E a sensação de impotência vira rotina.

A neurociência mostra que uma mente bombardeada por estímulos entra em estado de hiperalerta. 

A amígdala cerebral, responsável por identificar ameaças, dispara o tempo inteiro — mesmo quando não há perigo real. 

Resultado: o corpo vive em tensão, o sono não vem, o foco evapora. 

E o mais perigoso: o eu se dissolve. Vira um amontoado de respostas automáticas a coisas que nem fazem sentido. 

Isso não é viver. Isso é sobreviver no piloto automático.

“A ignorância é a única escuridão real.” — Tao Te Ching

As tradições antigas sabiam disso. 

Os egípcios não separavam espiritualidade de ciência. 

O coração era o centro da consciência. 

No julgamento da alma, o coração era pesado contra uma pena — não por moralismo, mas por vibração. 

O que desequilibra? O que é leveza? A ignorância pesava mais que qualquer erro.

No taoísmo, sabedoria não é acúmulo de conhecimento, é harmonia com o invisível. 

É saber quando agir, quando silenciar, quando simplesmente observar. É se tornar um com o fluxo da existência. 

Já no hinduísmo, com Yogananda e os mestres do yoga, a maior libertação vem quando você rompe a identificação com o ego — essa ilusão que vive de reação e apego. 

O conhecimento verdadeiro é sempre interno. Não vem de fora. Vem do reconhecimento de que você é o universo em manifestação, e que tudo fora é reflexo de dentro.

“A prisão mais sofisticada é aquela onde você acha que é livre.”                                     Gurdjieff

Enquanto você estiver reagindo a tudo, não vai ter tempo de se perguntar: “O que eu quero cocriar aqui?”

Enquanto sua energia estiver voltada pra lá — pro post, pro comentário, pra próxima treta — sua realidade vai continuar sendo reflexo dos outros. 

O autoconhecimento não é luxo, nem terapia de Instagram. 

É questão de sobrevivência psíquica. 

É a única forma de voltar pro centro num mundo que te quer na ponta, distraído, polarizado, inflamado.

Porque o mal não vence quando é forte. 

Ele vence quando você está distraído demais pra lembrar quem é.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015. 

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