A questão dos Landmarks.
Eles são imobilizáveis?
Venerável Mestre, Caros Irmãos, todos em seus graus e qualidades:
Hoje compareço perante este augusto Workshop para partilhar uma reflexão profunda sobre um dos conceitos mais debatidos, ambíguos e fundamentais da teoria maçônica: os chamados "landmarks", ou limites imobilizáveis da maçonaria.
Para abordar esta questão com rigor, recorro à obra do ilustre Irmão (Henry Wilson Coil), autor de Conversations on Freemasonry e também da monumental Coil's Masonic Encyclopedia.
Nascido em 1885 e ativo até sua morte em 1974, Coil foi um jurista, músico, historiador e maçom americano que dedicou sua vida a estudar com seriedade, cepticismo metódico e respeito as doutrinas e tradições da Ordem. Em seu pensamento se unem a erudição e o senso crítico que todo maçom deve cultivar.
O que são os Landmarks?
Tradicionalmente, os "landmarks" são entendidos como os princípios essenciais, imutáveis e universais da maçonaria.
É-lhes atribuída uma antiguidade mítica e considera-se que são as fronteiras simbólicas que não podem ser cruzadas sem destruir a identidade da Ordem.
No entanto, como bem salienta Coil, não existe uma lista universalmente aceite destes landmarks, nem há provas históricas de que os antigos maçons operacionais reconheceram uma doutrina com esse nome ou caráter.
Na sua enciclopédia, Coil afirma categoricamente:
"Os chamados Landmarks são uma invenção moderna, principalmente imaginária, e não têm força real de ligação na Maçonaria. "
"Os chamados Landmarks são uma invenção moderna, principalmente imaginária, e não têm verdadeira força vinculativa na maçonaria."
O problema das listas é que durante o século XIX surgiram inúmeras tentativas de codificar os Landmarks.
Alguns autores propuseram 7, outros 25, alguns mais de 50. Entre as listas mais influentes está a de Albert G. Mackey, que em 1858 apresentou uma listagem de 25 landmarks que, segundo ele, eram indispensáveis para a regularidade maçônica.
Esta lista inclui desde a crença em Deus até a imutabilidade do ritual.
Curiosamente, o próprio Albert G. Mackey, autor da famosa lista de 25 Landmarks, reconheceu nos últimos anos da sua vida que a sua tentativa de codificação tinha sido excessivamente rígida e especulativa.
Irmão Henry Wilson Coil - sugerem que Mackey chegou a entender que nenhum princípio maçônico pode reclamar universalidade se não for vivido com consciência, razão e fraternidade.
No entanto, Coil refuta esta abordagem ao considerar essas listas arbitrárias, contraditórias entre si e desprovidas de consenso universal.
Observa que as Grandes Logias do mundo diferem profundamente no que consideram Landmark, o que demonstra que não são princípios universais, mas convicções locais disfarçadas de axiomas.
Se olharmos com olho crítico a história, podemos argumentar que a palavra "landmark" no seu sentido maçônico não aparece nos documentos fundadores como as Constituições de Anderson de 1723.
Seu uso intensificou-se no século XIX, num contexto onde as Grandes Logias procuravam justificar a conservação de certos elementos rituais ou doutrinais contra a modernidade e a diversificação.
O verdadeiro perigo, alerta Coil, é que os Landmarks sejam usados como barreiras ideológicas para excluir, estagnar e dogmatizar.
Em vez de constituírem um guia sábio, eles se tornam um instrumento de conservadorismo cego.
Precisamos de Landmarks?
Não negamos a necessidade de limites que a moral nos impõe, mas propomos que sejam entendidos como princípios vivos e raciocinados, não como dogmas imutáveis.
A maçonaria, sendo uma filosofia dinâmica, requer fundamentos éticos, simbólicos e estruturais, mas estes devem ser interpretados à luz da razão, da história e do contexto.
Liberdade de consciência, busca pela verdade, uso do símbolo e trabalho pela fraternidade podem ser considerados pilares essenciais.
Mas mesmo estes devem estar abertos a uma interpretação consciente e responsável.
Os Landmarks, mais do que fronteiras geográficas, devem ser entendidos como limiares de discernimento.
Eles não servem como muralhas dogmáticas, mas como lembretes de que qualquer organização que se diga inicática precisa se lembrar do seu propósito, rever suas formas e purificar suas intenções.
Henry Wilson Coil nos oferece um legado corajoso: o de pensar a maçonaria com inteligência, sem medo de rever o herdado.
Devemos fazer um apelo ao maçom moderno para não confundir fidelidade com petrificação, uma é vida e a outra é morte.
Que esta placa não seja um fechamento, mas uma abertura ao pensamento, porque como bem diz, a maçonaria é progressista.
Devemos aprender a distinguir o essencial do acessório, o eterno do circunstancial, e que caminhemos, com esquadra e compasso, para uma maçonaria livre, consciente e viva.
(M:. M:. KaeL. & Joseph Tuza.)
Comentários
Postar um comentário