Os geógrafos modernos proclamam triunfalmente que "a Terra está agora totalmente descoberta", o que talvez não seja tão seguro quanto eles acreditam, e imaginam que, pelo contrário, era desconhecida para os antigos na sua maior parte, no que se pode perguntar de que antigos pretendem falar exactamente.
Pois bem, há realmente uma «geografia sagrada» ou tradicional, que os modernos ignoram tão completamente como os outros conhecimentos do mesmo género.
Há um simbolismo geográfico tanto como um simbolismo histórico, e é o valor simbólico das coisas que lhes dá seu significado profundo, porque é através disso que se estabelece sua correspondência com realidades de ordem superior.
Mas para determinar efetivamente esta correspondência, é preciso ser capaz, de uma forma ou de outra, de perceber nas próprias coisas o reflexo dessas realidades.
É assim que existem lugares particularmente adequados para servir de suporte à ação de influências espirituais – e é nisso que sempre se baseou o estabelecimento de certos centros tradicionais principais ou secundários, entre os quais os oráculos da Antiguidade e os locais de peregrinação fornecem os exemplos mais aparentes do ponto de vista externo – há também outros lugares que são não menos particularmente favoráveis à manifestação de influências de uma indole totalmente oposta, pertencente às mais baixas regiões do domínio subtil.
Mas o que pode importar a um ocidental moderno que haja, por exemplo, nesse lugar uma «porta dos Céus» ou naquele outro uma boca dos Infernos, uma vez que o carácter agrosseiro da sua constituição psicofisiológica é tal que nem num caso nem no outro pode sentir absolutamente nada de especial?
Estas coisas são literalmente inexistentes para ele, o que, naturalmente, não significa que tenham deixado de existir. "
(René Guénon Le Regne de la Quantité et les Signes des Temps)
Comentários
Postar um comentário