De como um pai ensinou aos seus filhos a doutrina do tempo e da verdade e o que a macieira revelou a cada um segundo, o seu grau!
No estilo do autor do Quixote
Numa certa aldeia esquecida pela pressa do mundo, vivia um cavaleiro já entrado em anos, prudente em palavras e mais sábio que docto, que tendo quatro filhos — cada um diferente em génio, tempera e idade — determinou prová-los em virtude, julgamento e contemplação, como bom mestre de obras que deseja ver se a pedreira dá uma boa pedra para o templo.
E assim, numa manhã clara como pura intenção, chamou-os para o seu quarto, onde ardia uma lâmpada cujo fogo não era comum, e falou-lhes de uma árvore que crescia num pomar distante, entre colinas e nevoas, cuja origem ninguém se lembrava e cuja sombra, diziam os antigos, dava mais do que frescor: dava entendimento.
— Ide, cada um no seu tempo — disse o pai, cruzando os dedos como quem traça no ar um compasso invisível. Ide para a macieira sagrada no momento que o ano vos ditar, e diga-me então o que os vossos olhos veem e o vosso coração entender.
E assim partiram os filhos, como os Aprendizes na sua marcha para a Luz, um após o outro, no inverno, primavera, verão e outono.
Não juntos, porque a arte do conhecimento se revela de acordo com o grau, e não convém dar todas as chaves a quem não passou todas as portas.
Eles voltaram, após o ciclo solar, reunidos em torno do fogo do pai.
E então ele, que não procurava respostas, mas despertar consciências, perguntou-lhes:
- O que disse a árvore?
O mais velho, que foi quando o sol mal se espreitava no horizonte de Capricórnio, respondeu:
—Pai, eu vi a árvore nu, sua figura torta e hosca. Parecia ter morrido de dor ou frio. Nenhuma beleza encontrei, mas tristeza.
O segundo, que o visitou quando as flores despeiam suas almas em abril, disse:
— Senhor Padre, eu vi promessa em cada ramo. A árvore brotava com vida nova, como um jovem maçom que vê pela primeira vez o Oriente. Seu verdor falou-me de esperança.
O terceiro, que marchou no ardor do verão, exclamou:
- Que espetáculo! As flores vestiam-no como um templo, e o cheiro era como incenso dos deuses. As abelhas cantavam hinos nos seus ramos, e eu acreditei que estava no Éden.
O mais novo, que foi no outono dos dias, falou com voz serena:
— Vi maçãs maduras, vermelhas como rubis ao sol. Os ramos se curvam como sábios perante o peso de sua obra. Era uma árvore plena, generosa, cumprida no seu dever.
Então o pai, que era mestre em mais de uma loja, irguiu-se com a gravidade que confere o conhecimento comprovado pela experiência, e disse:
—Meus filhos, cada um viu a mesma coisa, mas viu algo diferente. Assim é o mundo, assim é o homem, assim é a verdade: muda conforme o tempo e o grau. Não se pode julgar nem árvore nem irmão por uma única estação. O inverno não revela o fruto, nem a flor ainda mostra o sabor.
As crianças ficaram caladas, como quando se entende algo que não cabe em palavras, mas sim em símbolos.
— E não se esqueçam — acrescentou o pai, citando com voz grave o sábio de Israel —: "Quando estiver bem, goze; quando mal, reflita. Porque um e outro vêm do Grande Arquiteto do Universo, e o homem não sabe o que o futuro trará. "
Assim, cada um aprendeu que a vida é uma obra em construção, onde cada estação traz seu traço para o plano divino.
Que o julgamento precipitado é próprio do profano, e a contemplação serena do iniciado.
E a macieira ficou no pomar, sem saber que havia sido espelho da alma humana, escola do tempo e símbolo do processo inicático.
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