No sopé das Montanhas Silenciosas, onde os ventos murmuravam como vozes antigas, reuniam-se os discípulos diante de Andros, o Mestre de olhos calmos e postura firme, cuja presença parecia entalhada na própria rocha do tempo.
Era o dia de uma nova elevação ritualística.
Os aprendizes, ansiosos, olhavam para os estandartes com os símbolos dos altos graus.
No centro do círculo, uma mesa de pedra com velas acesas, cada uma representando um estágio do caminho.
Um deles, chamado Lysias, perguntou com brilho nos olhos:
— Mestre... Quando terei acesso aos graus maiores? Quando saberei dos segredos que só os elevados conhecem?
Andros permaneceu em silêncio por um instante, depois ergueu a mão. Um dos discípulos trouxe uma caixa de madeira envelhecida. Ele a abriu, revelando um pequeno espelho de prata antiga. Entregou-o a Lysias.
— Olha, Lysias… e diz-me: o que vês?
— A mim mesmo, Mestre.
— E quem és tu?
— Um Aprendiz… Mas desejo ser Mestre. Um dia, talvez, um Grande Mestre…
Andros sorriu e se levantou.
Caminhou até o centro da roda e falou em voz firme, para todos ouvirem:
— Há homens que alcançam todos os graus, mas jamais enxergam a si mesmos. E há aqueles que, mesmo no primeiro passo, já são mais elevados do que imaginam.
Ele então ergueu o espelho para o alto.
— O verdadeiro grau não é o que se confere no Templo, mas aquele que emerge no silêncio da alma. Muitos desejam luzes, insígnias, títulos… Mas se esquecem de que o maior trono foi dado ao maior dos humildes aqui na terra, e a maior ascensão é aquela que te leva de volta ao chão, onde os homens simples se curvam diante da verdade.
— Mestre (indagou outro discípulo) então não devemos buscar os graus?
— Devem, sim. Como se busca uma escada para acender a lamparina mais alta. Mas lembrem-se: quem sobe para se exibir escurece; quem sobe para iluminar, permanece.
O maior dos iniciados é aquele que entra como um aprendiz e permanece aprendiz mesmo quando lhe chamam mestre.
Andros então se voltou para a Montanha, onde os degraus de pedra antiga levavam ao alto santuário.
— Subiremos hoje, não por orgulho, mas para relembrar que cada passo exige desapego, e cada grau exige o abandono de uma vaidade. Só quem sobe sem se perder merece ver o nascer do sol do espírito.
E assim, todos seguiram o Mestre em silêncio, cada qual carregando não seus livros, nem seus títulos… mas o espelho.
Pois Andros os ensinara:
“O grau mais elevado não se recebe, se torna.
E quando o homem de bem olha para si
e ainda se vê pequeno…
então ele está pronto para a grandeza.”
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