Quais são os Instrumentos de Trabalho de um Mestre Maçon?

 

Os Instrumentos de Trabalho do 3º grau são apropriados à um plano de trabalho muito superior aos dos outros Graus. 

Os Instrumentos de Trabalho do Mestre Maçom têm uma limitação muito menor que os do Companheiro e Aprendiz, pois, essencialmente livres e flexíveis, dão amplo campo ao Mestre Maçom, para que possa exercitar a sua iniciativa, assim como os seus poderes criadores e imaginativos.

A associação de cada um dos três Instrumentos com a ideia de um centro – associação que constitui um traço tão sobressalente neste Grau – é óbvio e inequívoca, estando caracterizada por esta ingenuidade inventiva que vemos tantos exemplos em todos os Rituais da Maçonaria.

De sorte que, o Cordel [1] “é um instrumento que gira sobre um eixo central”

O Lápis tem um centro de grafite ou de outra substância, com a sua ponta fazem-se desenhos e planos; e no Compasso há duas pontas, uma das quais se fixa no centro para, com a outra, descrever uma circunferência.

A liberdade e flexibilidade de movimentos destes três Instrumentos caracterizam o papel do Mestre Maçom e contrastam marcadamente com a rigidez dos Instrumentos correspondentes aos Graus inferiores, sobretudo com os do segundo grau. 

De modo que o Aprendiz deve restringir-se estritamente às medidas da sua Régua de 24 polegadas e deverá trabalhar com o seu Malho e Escopro, ajustando-se exactamente aos planos e instruções que lhe são dados, assim como às linhas que outros traçaram para guiá-lo no seu trabalho.

O Companheiro está mais confinado dentro de inflexíveis limites, pois o Esquadro, o Nível e o Prumo são invariáveis; deve pois, limitar-se a eles com toda a precisão, já que não se lhe consente nenhum desvio.

Ao contrário, o Mestre Maçom goza de perfeita liberdade, pois tratando-se de um perfeito Mestre Maçom, esta liberdade não tem outros limite senão os que ele mesmo estabeleça, sempre que se achem em harmonia com os planos do Grande Arquitecto. 

terceiro grau mestre

Com o seu Cordel traça o plano de base da projectada estrutura. 

O Cordel é perfeitamente flexível, pelo que o Mestre Maçom pode colocá-la na direcção que julgue conveniente ou de acordo com o seu gosto. 

No entanto, quando a linha foi traçada, estabeleceu-se um limite que há de ser obedecido, tão fielmente como os ditados pelo Esquadro, Nível e Prumo, porém, antes de assim proceder, o Mestre Maçom tem ampla margem para eleger onde colocará a sua linha, respeitando a orientação e outros factores em que se baseia para a eleição do local das edificações.

O segundo instrumento é o Lápis que representa a apoteose da liberdade, pois com ele, o Mestre Maçom poderá criar quantos projectos queira, o seu último cuidado constituirá em que o seu desenho se adapte ao objectivo a que queira dedicar o edifício e que esteja em harmonia com as leis da mecânica, para que a estrutura seja forte, estável e que seja proporcional e bela.

O terceiro instrumento, o Compasso, é talvez, o mais maravilhoso de todos os símbolos da Maçonaria, pois tem numerosas e variadas significações simbólicas. De sorte que é livre no que diz respeito às pontas que se podem ajustar aos nossos desejos, porém, uma vez determinada esta distância, é tão rígido e fixo como qualquer outro instrumento de precisão. As suas duas pontas podem servir para medir o comprimento de uma linha recta, ou para traçar uma curva ou um círculo. Com as suas pontas fechadas, uma linha recta; com as suas pontas separadas, um triângulo e os seus braços descrevem um círculo no seu próprio plano, quando se abrem inteiramente. O Compasso com as pontas unidas é uma unidade, os seus braços formam uma dualidade. Quando está aberto é uma trindade. Tendo-o em repouso, pode medir-se uma linha recta e pondo-o em movimento, descreve uma curva perfeita. Na união dos seus dois braços oculta-se o centro invisível em torno do qual giram todas as coisas.

Além disso, quando o Compasso se põe em movimento, descreve no espaço uma figura de três dimensões com o nome de cone, cujas secções são respectivamente: um ponto, duas linhas rectas, círculos, elipses, parábolas, hipérboles, elementos interessantíssimos para os matemáticos e geómetras, nos quais os místicos e simbolistas encontram numerosos segredos de suprema importância relacionados com a geometrização do mundo.

A maneira de utilizar o Compasso para medir a distância existente entre dois pontos é digna de especial interesse, pois proporciona-nos um débil reflexo da faculdade de percepção directa da verdade, a qual vem a ser para alguns, uma perfeita síntese das demais faculdades enquanto outros opinam que é uma faculdade distinta e separada do organismo humano, vulgarmente denominada de intuição, faculdade elevada da mente.

Ao medir a distância entre dois pontos – distância que, por ser uma linha recta, tem uma só dimensão – o Compasso serve de uma segunda dimensão, a qual podemos momentaneamente dar o nome de altura; dimensão que forma ângulos rectos com a primeira, portanto, não está contida na linha recta. Ao fazer esta medição com o Compasso, não se tem em conta o espaço interposto entre os dois pontos, pois pode haver montanhas ou profundos abismos entre eles e até ocorrer que um ponto seja invisível do outro. Neste caso, não seria possível traçar uma linha recta entre dois pontos sem medi-la com uma régua, como se faz correntemente; não obstante, a medição se pode fazer, fácil e rapidamente, por meio do Compasso, uma vez que os espaços que acabamos de mencionar não estorvam, no mínimo a este instrumento. A distância entre dois pontos pode-se conhecer com precisão, pela distância angular existente entre os braços do Compasso.

Pelo que acabamos de explanar, observa-se que este instrumento é um formoso instrumento geométrico e mecânico dessa faculdade que nos permite perceber, num abrir e fechar de olhos, a relação existente entre dois fenómenos ou factos quaisquer, sem necessidade de ter que traçar, passo a passo, a conexão casual existente entre eles ou de medir o terreno que os separa. A intuição salta, repentinamente, à sua conclusão ou visão, do mesmo modo que o Compasso abraça a distância que há entre dois pontos quaisquer, sem importar, em nada, os obstáculos que os separa no espaço.

O Cordel, que representa a linha recta, é indesviável da virtude, e tem também um simbolismo interessante. O seu Cordel é ou deve ser perfeitamente flexível e, portanto, quando se ache em estado de repouso, adaptar-se-á à forma do terreno ou do objecto em que se encontra. Nesta perfeita flexibilidade se estriba a sua utilidade, como meio de obter uma perfeita linha recta. Basta pô-la esticada para que se adapte à posição que nos convenha. Se o Cordel fosse rígido e carecesse de flexibilidade, o nosso trabalho não poderia ser perfeito. Quanto mais esticado esteja a Cordel mais perfeita será a linha recta resultante. Nisto vemos um exemplo evidente da vida humana e do seu objectivo. Se o homem tem um ideal claramente definido, e se caminha para ele com toda a energia, toda a sua vida estará alinhada com o seu propósito e, então, poderá dedicar-se ao seu objectivo de maneira “recta e indesviável”, enquanto a sua natureza esteja livre de “rigidez” e o seu carácter não forme “nós”. Porém, se ele é débil, indolente e inábil em dedicar-se ao seu trabalho, se produzirão curvas e outros defeitos, resultando prejuízos e preocupações.

Podemos levar mais longe esta analogia concreta, porque, se puxamos o cordel estendido pelo centro, para afastá-lo da linha recta ideal, resistirá ao nosso esforço em proporção à sua fortaleza e a sua reacção e, quando o soltemos, voltará rapidamente à sua posição anterior, vibrando durante uns instantes, para recobrar logo depois, a sua quietude e rigidez. Do mesmo modo, se um homem se dirige pelo caminho da virtude e dedica todas as suas energias a conservar um perfeito alinhamento, a sua natureza oporá resistência se ele tentar desviá-la da recta e tratará de voltar à sua rectidão, quando termine a pressão lateral, vibrando durante uns instantes por causa do esforço adicional a que foi submetido, e retornando finalmente à sua verdadeira linha, aparentemente estática, conservando a rectidão graças a esta infatigável constância de encaminhar a vida em direcção do ideal sonhado. De maneira que este é mais um exemplo da maravilhosa criatividade com que foram escolhidos os singelos símbolos da Maçonaria, para que possam ilustrar de forma simbólica os progressos vitais da vida e da conduta humanas

Observe-se por alto que, assim como o Compasso pode ser utilizado para medir linhas rectas e descrever círculos, assim também, pode a corda ser empregue para assinalar linhas rectas e para medir curvas de todos os géneros, já que o melhor meio de medir o comprimento destas últimas, consiste em rodeá-la com um cordel flexível. Ainda mais, se sujeitarmos um extremo da corda a um ponto fixo e atamos um lápis no outro extremo, poderemos traçar um círculo. Os que sabem geometria não ignorarão que é possível traçar uma elipse, fixando os dois extremos do cordel em foco, de maneira que a distância entre estes seja menor que o comprimento daquele.

A explicação que se dá no Ritual ao Lápis é suficientemente clara e explícita

Segundo o que se nos diz, ensina a “formar planos prévios e claros do que possamos fazer, para que o nosso trabalho possa ser inteligente e equilibrado”

De modo que, agora que o Mestre Maçom chegou ao seu desenvolvimento completo, trata-se de inculcar-lhe que deve converter-se em verdadeiro Mestre Maçom, um Mestre senhor de si mesmo, elegendo qual há de ser a sua linha de trabalho, e dirigindo a sua própria vida e o seu destino. 

O seu dever consistia a princípio, em escutar os que eram mais prudentes e sábios, e em deixar-se guiar por eles, obedecendo implicitamente às suas instruções, porém, agora que chegou à condição de Mestre Maçom, receberá poucas instruções ou ordens uma vez que não é mais criança, mas um homem maduro e, portanto, deve aprender a empunhar a batuta da sua vida e “tomar as rédeas da sua evolução”. 

O Mestre deve fazer, por si próprio, os planos e desenvolver, por meio dos seus poderes criadores, os desenhos das partes do Templo em que há de contribuir para a perfeição do edifício. 

Têm ele um lápis próprio com que planear e todos os instrumentos necessários para a realização dos projectos que conceba. 

Chegou a ser um “arquitecto” cujo dever consiste em criar. Agora tem grandes responsabilidades sobre si e será julgado pelas suas obras, porque, tudo quanto faça será “observado e anotado pelos Ministros da Lei”, que lhe devolverão “o resultado das acções que realizou” com precisão matemática.

E, para completar a analogia, pode-se dizer que assim como o Cordel e o Compasso podem ser utilizados para traçar tanto linhas rectas como curvas, assim o Lápis é capaz de descrever qualquer classe de linhas, seja recta, circular ou curva.

Por esta breve descrição de algumas características dos instrumentos de trabalho correspondentes aos três graus Maçónicos de que temos tratado, estamos em condições de observar que o conjunto deles formam séries e sequenciais que proporcionam ao Maçom um completo conjunto de instrumentos, de desenho e de utensílios de trabalho. 

Primeiro, o Mestre Maçom deve observar e medir a todo o momento, com a sua régua, a necessidade do seu próprio trabalho que os seus companheiros e o mundo precisem, aplicando o seu Malho e Escopro diligente, inteligente e poderosamente, com incessante cuidado e perseverança. 

Deve obedecer, escrupulosamente, às leis da Natureza e da moralidade, actuando sempre sobre o Esquadro, o Nível e o Prumo, estudando continuamente os Mistérios Ocultos da Natureza e da Ciência, com o objectivo de adquirir conhecimentos aplicáveis a quaisquer das tarefas que possa vir a empreender.

Também deve ocupar o lugar que lhe corresponda numa obra superior, como indivíduo das grandes hostes que levam a cabo, com precisão e com interminável júbilo, os mandatos do GADU que planeou todas as coisas com infinita Sabedoria, e é o Supremo Artífice, cujos milagres de engenho e beleza constituem para nós uma riquíssima e inextinguível mina, na qual devemos trabalhar, dando forma a pedras cada vez mais perfeitas, as quais hão de constituir as nossas humildes oferendas para esse glorioso Templo, eterno nos Céus, do qual o de Salomão não era mais que um símbolo.

Arthur Edward Powell

Notas

[1] Skirret, em inglês.


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