A Mayêutica é o sistema operacional da Maçonaria? (Alcoseri)

 



Não demora muito que quando estamos no processo da iniciação maçônica, você perceba que a ideia da Maçonaria, pelo menos nesse momento da iniciação, de que as coisas apontam na Logias Maçônicas para um processo de Mayêutica Socrática, passam os graus , as Tidas, os mesmos Ágapes e sempre presente entre maçons a Mayêutica.

Desde as antigas tradições mistéricas até as logias maçônicas contemporâneas, tem-se sustentado que o verdadeiro conhecimento surge não de imposições externas, mas de uma profunda reflexão interior em busca da verdade eterna.

A Maçonaria, como irmandade simbólica dedicada ao aperfeiçoamento moral e espiritual sob a orientação do Grande Arquiteto do Universo (GADU), encarna essa busca, lembrando-nos que o homem é um construtor do seu próprio templo interior.

Em séculos passados, inúmeros pensadores, sábios e maçons tentaram desvendar os caminhos para respostas profundas, pregando métodos para iluminar a alma.

No entanto, esta nobre empresa gerou teorias contraditórias, semeando dúvidas e divisões que obscurecem o caminho para o conhecimento.

Em pleno século XXI, o materialismo desenfreado e a luta pela sobrevivência dominam as sociedades, deixando as pessoas mergulhadas numa
desorientação coletiva.

O ritmo acelerado da vida, com suas vertigens, medos e conflitos, corroem a coexistência pacífica, transgredindo limites éticos e endurecendo códigos sociais.

O ser humano é impulsionado em uma carreira alienante, perseguindo objetivos nebulosos sem pausa, ignorando aqueles que ficaram para trás e desatando instintos primitivos.

Para mitigar este caos, muitos recorrem a fugas temporárias como medicamentos, álcool ou drogas, que entorpecem a consciência mas incineram o corpo e esterilizam o espírito.

Os problemas ao nosso redor formam uma cadeia invisível, onde dramas individuais parecem únicos mas convergem em padrões comuns: corrupção, imoralidade e insensibilidade que infectam todas as camadas sociais, degradando especialmente os poderosos.

Aqueles que acumulam riquezas à custa dos povos, orquestram guerras, perpetram injustiças ou pervertem a lei, tornam-se sombras de si mesmos, zombies ambulantes que espalham dor e sofrimento.

Estes indivíduos, alguma vez crianças inocentes ou jovens idealistas, talvez tenham levantado questões importantes como "De onde viemos? "Para onde vamos? "O que é a vida? "O que é a morte? " ou "O que é o Universo? ".

Mas estes flashes de curiosidade foram ofuscados pela dinâmica mundana ou profana, relegando a introspecção espiritual para segundo plano.

Diante desta encruzilhada,
a humanidade do século XXI
tem duas vias claras:

A) Continuar a deslizar pela ilusão de progresso, uma montanha russa de subidas falsas e quedas abruptas culmina em paralisia superficial; ou

B) Reencontrar a essência perdida, invocando o GADU para fazer perguntas que despertem a consciência e guie para a luz interior.

Uma prática simples e transformadora, alinhada com os princípios maçônicos do autoexame, consiste em dedicar 30 minutos diários à quietude: sentar-se em silêncio, sem movimento, reconhecendo-se a si mesmo ao pronunciar o próprio nome como uma afirmação de identidade.

Não de dirigir a mente, mas observá-la vagueando livremente, permitindo que os pensamentos surjam sem controle, isso ajuda o autoconhecimento.

Com o tempo, surge um contato profundo com o eu interior, revelando resultados positivos.

Este caminho, traçado por grandes iniciados nos mistérios antigos — e reflectido nos rituais maçônicos — afirma que todo ser humano pode acessar o saber divino: basta fazer perguntas à Inteligência Superior, recebendo respostas que brotam espontaneamente na mente, como gotas homeopáticas de consciência.

Persistir nesta disciplina promove equilíbrio, harmonia e um estado de felicidade autêntica, nascido do despertar espiritual que cada um carrega como habitante deste planeta.

É imperativo ativar este espírito para evitar sua dissolução no vasto universo. Historicamente, o esoterismo — do grego "esôterikos", que significa "interior" ou "íntimo", referindo-se a conhecimentos, doutrinas e práticas reservadas a uma elite seleta — guardou esses mistérios para poucos, pois conhecimento é poder e com ele se domina outros.

Mas na nossa era, o esoterismo deve ser democratizado, abrindo segredos e selos a todos os buscadores, permitindo ascender para a plena consciência e liberdade interior, assim como promove a maçonaria em sua essência inclusiva.

Aqui entra em jogo a mayêutica socrática, um método simples e acessível que todos podemos compreender: trata-se de um processo de "dar à luz" ideias, semelhante ao de uma parteira que ajuda uma mulher no parto. Sócrates usava-o para guiar os seus interlocutores através de perguntas, permitindo que eles descobrissem por si mesmos a verdade escondida na sua mente, sem impor respostas.

Esta técnica ressoa profundamente no contexto maçônico, onde as inicias e liturgias rituais operam de forma análoga, extraindo sabedoria interna através de interrogatórios simbólicos que despertam a alma do iniciado.

Platão, no seu diálogo Teeteto, descreve vividamente esta mayêutica através de Sócrates, que se compara a uma parteira espiritual.

Por exemplo: "Minha arte de parte tem as mesmas características que as delas, mas diferencia-se no fato de que ela ajuda os homens e não as mulheres, e examina as almas dos que dão à luz, mas não os seus corpos."

Aqui, Sócrates enfatiza seu papel em ajudar a "dar à luz" pensamentos verdadeiros.

Outra citação chave: "A maior coisa que há na minha arte é a capacidade que ele tem de testar por todos os meios se o que gera o pensamento do jovem é algo imaginário e falso ou fecundo e verdadeiro."

Isto ilustra como o método discerne entre ideias ilusórias e genuínas.

Além disso,
"O Deus me obriga a assistir outros,
mas a mim impede-me de gerar. "

Sócrates esclarece que não gera conhecimento próprio, mas facilita a sua emergência em outros.

Finalmente, no encerramento do diálogo: "Pois bem, Teeteto, se depois disto tentares ficar grávida de outras coisas, se conseguires fazê-lo, estarás cheio de coisas melhores graças ao exame que realizamos agora; se ficares estéril, serás menos pesado e mais gentil para aqueles que se relacionam contigo, pois com sensatez não acreditarás que sabes o que não sabes. "

Esta reflexão
destaca o benefício
purificador da mayêutica,
eliminando falsas crenças.

Na maçonaria, essa aproximação socrática se manifesta nas cerimônias de iniciação e nas liturgias de todos os graus, onde as perguntas não são meras formalidades, mas ferramentas maêuticas para que o candidato "dê à luz" sua própria compreensão espiritual.

Por instância,
na iniciação ao grau de Aprendiz Maçom,
o Venerável Mestre faz perguntas como
"O que você procura na Maçonaria? " ou
"Você está disposto a se submeter aos testes para se conhecer a si mesmo? ,
Qual é o Segredo Maçônico? " ...

...guiando o neófito a refletir sobre sua motivação interna e o templo simbólico que constrói na sua alma, semelhante à forma como Sócrates extrai verdades ocultas.

Isso evoca a mayêutica
fazendo com que o iniciado
descubra seu potencial moral
sem doutrina imposta.

No grau de Companheiro, as liturgias incluem catecismos com perguntas como:
"Quais são as artes liberais e como elas se aplicam à vida maçônica? " ou
"O que representa o compasso na sua busca por equilíbrio? "O que é a pedra cubica para os companheiros? ,
"O que significa a letra “G”? "...
...que impulsionam o maçom a extrair significados pessoais dos símbolos, promovendo um "parto" de ideias sobre harmonia e conhecimento.

Um exemplo concreto: o ritual pergunta: "Por que você viaja do Ocidente para o Oriente?", levando o companheiro a reconhecer sua jornada interior para a luz do GADU, desenterrando verdades adormecidas em sua consciência.

No grau de Mestre Maçom, a liturgia se intensifica com interrogatórios sobre a ressurreição simbólica, como...
"O que a lenda de Hiram Abiff significa para o seu espírito? "O que significam sua morte e ressurreição?
"O que simboliza a Acácia? " ou
"Como você reconstrói seu templo interior
após a 'morte' simbólica?"...
...que agem como parteiras da alma, ajudando a "dar à luz" compreensões profundas sobre imortalidade e virtude.

Em todos os graus, esses diálogos rituais — muitas vezes sob a forma de perguntas e respostas memorizadas — operam mayuticamente, evitando intelectualizações egoicas e permitindo que respostas fluam da Consciência Cósmica, dissolvendo o ego como inimigo distorcedor.

Ao aplicar a mayêutica na mente voltada para a Consciência Cósmica, como nas práticas maçônicas, surgem estados desconhecidos: minorar doenças através do autoconhecimento, alcançar objetivos transcendentes e dominar o eu para uma plena liberdade interior.

Neste século, o esoterismo maçônico deve se espalhar livremente, usando esses métodos para elevar a sensibilidade inata e as faculdades do homem, construindo um mundo de irmãos iluminados.

Alcoseri

Comentários

  1. Maiêutica ou Método Socrático consiste numa prática filosófica desenvolvida por Sócrates em que, por meio de perguntas sobre determinado assunto, o interlocutor é levado a descobrir a verdade sobre algo.

    Para este filósofo grego, todo o conhecimento está latente na mente humana, podendo ser estimulado por meio de respostas a perguntas direcionadas.

    A arte de "parir" o conhecimento
    A maiêutica é associada com a técnica de "parir o conhecimento", visto que este está presente em todo o ser humano. O conhecimento deve apenas ser aflorado gradualmente, com a ajuda de alguns estímulos de orientação.

    Uma das frases mais icônicas deste filósofo simplifica a ideia do que seria a maiêutica: "Conhece-te a ti mesmo". Segundo a dialética socrática, a verdade está no Homem, cabendo a ele refletir e atingir as chamadas "verdades universais".

    Etimologicamente, maiêutica se originou a partir do termo grego maieutike, que significa "arte de partejar". Sócrates usou essa expressão em associação ao trabalho das parteiras — profissão de sua mãe — visto que, para o filósofo, seu método proporcionava o "parto intelectual" dos indivíduos.

    A maiêutica é apresentada por Sócrates no diálogo com o jovem Teeteto, transcrito por Platão. Sócrates não deixou nada escrito, sendo grande parte do que se conhece sobre o pensamento socrático foi escrito por seu discípulo, Platão.

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  2. Método Dialético Socrático

    O método dialético foi criado por Sócrates durante o século IV a.C.. Visava a elucidação do verdadeiro conhecimento sobre determinado assunto, a partir da reflexão sobre as respostas obtidas de perguntas aparentemente simples e ingênuas.

    Também chamado de diálogo socrático, esse método era utilizado por Sócrates para que seu interlocutor atingisse o conhecimento. Para ele, existia uma verdade universal, que está dentro de cada um.

    É o que revela sua frase: “Só se pode alcançar a verdade se dela a alma estiver grávida”.

    A primeira fase desse método, momento em que são feitas as perguntas, é chamada ironia.

    A maiêutica seria a parte final desse método, quando o conhecimento “nasce” a partir das conclusões tiradas pelo próprio interlocutor.

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  3. Ironia e Maiêutica
    O método socrático é composto pela ironia e pela maiêutica. Ironia, nesse caso, tem um significado diferente do que conhecemos no português, tem origem na palavra eirein do grego, que significa perguntar. A ironia no método, portanto, é o momento em que o interlocutor era interrogado.

    Na prática, Sócrates questionava seu interlocutor sobre alguma ideia ou conceito, por exemplo: “O que é justiça?”. A medida que seu interlocutor lhe respondia, ele fazia outras perguntas que o faziam cair em contradições.

    Dessa forma, o interlocutor era levado a duvidar sobre o assunto que julgava conhecer, até o momento em que admitia ignorância em relação ao tema. O objetivo de Sócrates não era constranger, mas sim, purificar o conhecimento, desfazendo ilusões, preconceitos ou conhecimentos baseados em opiniões, sem fundamento racional.

    A maiêutica é o final do processo, quando o interlocutor, após questionar suas ideias e concepções, reconstrói seu entendimento com ideias mais complexas. Isto é, quando ele dá à luz ao novo conhecimento.

    Esse é um processo que ajuda o interlocutor a despojar-se de tudo o que acredita saber, pois somente a partir do reconhecimento de sua própria ignorância, ele poderá encontrar as respostas.

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  4. Quem foi Sócrates?
    Sócrates foi um filósofo grego nascido entre 470 e 469 a.C. em Atenas. Tudo o que se sabe sobre esse filósofo foi escrito por seus discípulos, especialmente Platão. Ele mesmo não deixou registros escritos sobre suas ideias.

    Modelo de integridade e ética na sociedade ateniense, Sócrates acreditava que os homens deveriam dedicar seu tempo mais a buscar o que não se sabe do que em transmitir os conhecimentos que acreditavam saber, isto é, eles deveriam estar em constante investigação.

    Segundo o filósofo, a sabedoria só seria possível com o reconhecimento da própria ignorância, é o que retrata sua famosa frase: “só sei que nada sei”

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