Independência do Brasil numa visão mais real...


Outro lado pouco conhecido da História do Brasil
remete o início do processo de independência
à transferência da corte portuguesa para o Brasil,
no contexto da Guerra Peninsular, a partir de 1808.
Retornando, primeiramente ao ano de 1804, quando o Napoleão Bonaparte foi aclamado Imperador da França, dando continuidade às campanhas de conquista territorial na Europa, tal atitude colocou a França em rota de colisão total contra a Inglaterra.

Na impossibilidade de derrotar militarmente os ingleses, Napoleão decidiu atacar sua economia, decretando o bloqueio continental, proibindo as atividades econômicas entre os países europeus e a Inglaterra.

Entretanto, Portugal não respeita esse bloqueio, pois tinha na Inglaterra uma antiga e poderosa aliada, além de manter com a mesma, uma grande dependência econômica.

Então, as tropas napoleônicas cruzaram as fronteiras portuguesas; na impossibilidade de combater e derrotar as forças francesas, a coroa portuguesa decidiu retirar-se para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 07 de março de 1808.

Com isso, a colônia teve uma inversão de condição, com as modificações das ordens política, social e econômica, o Brasil passa à condição de sede da coroa portuguesa!

Como consequência disto, o Rio de Janeiro, como sede da administração, passou por grandes transformações, com a adoção de novos hábitos, a receber várias mudanças de políticas públicas, urbanização e a criação de instituições e órgãos administrativos públicos.

Dentre as mais importantes, destacam-se o Banco do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, a Biblioteca Real e a Fábrica de Pólvora.

Em 1808, uma das ações mais importantes, destaca-se o decreto de abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional.

A partir daí, ficava finalizado o monopólio econômico de Portugal, o Brasil passava a ter maior autonomia econômica e financeira.

Já em 1810, importantes tratados são assinados com a Grã-Bretanha: Tratado de Aliança e Amizade, Tratado de Comércio e Navegação, trazendo enormes benefícios aos Ingleses.

Em 1816, a Coroa Portuguesa eleva a colônia à condição de Reino, dentro do Império Português, denominado Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves.

A instalação da corte no Brasil teve como principal objetivo, a instalação da supremacia da coroa portuguesa sobre o restante do império.

Porém, em 1820, com todas essas liberações e tratados, inclusive com a liberação de manufaturados, feriu diretamente os interesses dos comerciantes portugueses, em Portugal, que estavam sob a tutela da Inglaterra desde a expulsão dos franceses e sem um Rei, culminando com a Revolução Liberal do Porto.

Entre as exigências, estava o retorno imediato D. João a Portugal, criação de uma Assembléia Constituinte; antes de deixar o Brasil, Dom João deixa o seu filho Dom Pedro de Alcântara, como Príncipe Regente governando o Brasil.

Com as alterações da corte portuguesa, os brasileiros interpretaram como uma desvalorização e diminuição dos benefícios adquiridos como sede da coroa portuguesa e, principalmente, a sua autonomia.

Então, D. Pedro I, recusa-se a aceitar a exigência da corte portuguesa, de que ele fosse para Portugal, e, a partir do final de 1821, a incompreensão de Brasil e Portugal acentuou-se, ficando a possibilidade de se manter a união entre as duas nações cada vez mais distante.

Em 09 de janeiro de 1822, o conhecido episódio do “Fico” teve a inspiração e liderança de José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira.

“O Príncipe Regente recebeu três documentos feitos sob inspiração e liderança rogando por sua permanência no Brasil em descumprimento dos Decretos nº 124 e 125 das Cortes Portuguesas.

A ascensão de José Bonifácio foi claramente uma manobra de Gonçalves Ledo e seus aliados, no sentido de atrair o “poder”, já que José Bonifácio exercia forte influência sobre o príncipe regente. Certamente, Gonçalves Ledo ainda nutria esperança da independência como república democrática, utilizando os valores existentes para a causa que, apaixonadamente, defendia.

O documento paulista foi redigido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o documento dos fluminenses foi redigido pelo Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, e o documento dos mineiros foi liderado por Pedro Dias Paes Leme. No Convento da Ajuda, na cela do Frei Sampaio, reuniam-se os líderes do movimento”.

Lê o príncipe os despachos,
inclusive a carta de José Bonifácio.

D. Pedro I sente que experimenta súbita e estranha emoção.

Depois calmamente, entrega as cartas a seu ajudante, e diz a meia voz:

“Tanto sacrifício feito por mim, e pelo Brasil inteiro e não cessam de cavar a nossa ruína”... E, num momento de alma.

“É preciso acabar com isto”...

Exclamou, então, d. Pedro, para toda aquela gente:

“Camaradas! As cortes de Lisboa querem mesmo escravizar o Brasil; cumpre, portanto, declarar já a sua independência: estamos definitivamente separados de Portugal!”.

Estendendo a espada à frente do corpo,
repete, à toda força:
“Independência ou Morte!”.

Partiu dali a comitiva para São Paulo, onde chegou cerca de 6 horas da tarde; a notícia foi recebida com entusiasmo pelo povo.

Seguiram-se as comemorações.

D. Pedro permaneceu em São Paulo até o dia 9 e, na madrugada seguinte, partiu de volta ao Rio de Janeiro, onde chegou à noite do dia 14.

Havia muitos interesses por parte dos fazendeiros e senhores escravagistas, em que o Brasil se tornasse independente, que se livrasse do jugo e da submissão à Coroa Portuguesa, para conseguirem seus lucros almejados. Inclusive interesse da Inglaterra!

No dia 9 de setembro de 1822, Gonçalves Ledo,
em memorável discurso, declarou que:

“... as atuais circunstâncias políticas de nossa pátria, o rico, fértil e poderoso Brasil, demandavam e exigiam imperiosamente que a sua categoria fosse inabalavelmente firmada com a proclamação de nossa independência e da realeza constitucional na pessoa do Augusto Príncipe Perpétuo Defensor Constitucional do reino do Brasil”.

Essa afirmação de Gonçalves Ledo, aprovada e aclamada (por unanimidade), foi considerada como a declaração da independência proclamada.

Assim a Proclamação da Independência não é ato de um, mas a elaboração de muitos, Gonçalves Ledo, José Bonifácio de Andrada e Silva, José Joaquim da Rocha, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, Pedro Dias Paes Leme, alguns mais importantes citados aqui, mas seguramente outros houve que contribuíram para isso.

De nossa parte,
mantermo-nos sempre de bons costumes
e livres pesquisadores da verdade,
nos lapidando,
seguramente nos fará progredir sem cessar.

Marcos Canto.'.

PS: Crédito das fotos Carlos Varela 

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