No silêncio do Templo, onde a sombra e a luz dialogam desde as origens do tempo, nasce a verdadeira luta do Maçom. Não é guerra exterior nem disputa de homens; é combate interior, discreto e perpétuo, travado nos cantos invisíveis da alma.
O iniciado que atravessa o limiar não busca vencer o mundo, mas dominar a si mesmo.
Cada passo que ele dá dentro do recinto sagrado
é uma metáfora para o avanço da consciência,
frágil mas determinada,
em direção ao seu próprio centro.
Esquadro e compasso
não são ferramentas de pedra,
mas chaves
que abrem portas de entendimento.
Eles medem a alma como o arquiteto mede o espaço: com precisão, com temperança, com verdade.
Franklin dizia que a maçonaria ensina pela prática, não pela pregação, e nessa prática encontra-se a arte de viver acordado.
O aprendiz que cambaleia e cai descobre, na queda, a raiz da sua humanidade; e quem persevera encontra o equilíbrio entre força e beleza, confiança e sabedoria.
A primeira batalha do maçom é contra
o seu próprio automatismo.
Essa inércia invisível que o faz repetir pensamentos e gestos, esse sono profundo que o afasta do ser essencial.
Gurdjieff avisou que quem muda sem consciência só repete seu erro com outro nome.
É por isso que o maçom se observa: estuda seus pensamentos, examina suas emoções, enfrenta seus reflexos.
Não luta contra demônios externos, mas contra os principados que habitam sua mente, como ensina o Livro da Lei:
“Não temos luta contra sangue e carne,
mas sim contra os governadores das trevas deste século. ”
O trabalho começa quando o homem se atreve a agir contra os ditados do seu ego.
Fazer o que o eu profano não gosta é vencer a tirania do costume; é domesticar o dragão interior com a espada da vontade.
Essa é a verdadeira “marcha de poder”:
seguir em frente com fé mesmo na incerteza,
caminhar com a alma erguida
mesmo que o corpo estremeça.
Cada ato consciente, cada gesto deliberado,
é uma faísca de luz na vasta oficina interior.
E, no entanto, o fracasso espreita.
O iniciado tropeça mil vezes na sua própria sombra, e o desânimo o tenta.
Mas quem conhece a corrente não se deixa arrastar:
nada contra ela,
como o salmão que procura sua origem.
Pike expressou claramente: “A maçonaria é o subjugação do humano pelo divino.”
Não se trata de negar a humanidade, mas de transmutá-la, de elevar a matéria até que revele o seu espírito.
Só quando o homem enfrenta o terror da sua prisão interna é que está preparado para o trabalho real.
Então procure os verdadeiros trabalhadores da luz, aqueles que preferem sinceridade ao dogma e liberdade ao poder.
Às vezes, a vida concede ao maçom todos os louros do mundo profano:
ciência, riqueza, família, prestígio.
Mas a alma, insatisfeita, continua perguntando: "O que eu realmente consegui? ”.
Nesse momento, a sabedoria oriental e a filosofia maçônica convergem em uma mesma verdade.
Um professor respondeu uma vez:
"Não espere nada, não exija nada, não deseje nada,
não seja nada.”
O iniciado confuso pensou que aquilo significava morrer. E o sábio respondeu: "Morre antes de morrer.”
Morrer ao ego, renascer ao espírito.
Despojar-se da máscara que a vida impõe e derreter-se com a força que dá origem a todas as coisas.
Assim o maçom aprende que o mal não se destrói com violência, mas com compreensão.
“Não seja vencido pelo mal,
mas vence o mal com o bem”
...diz o apóstolo; e nesse mandamento se resume toda a Arte Real.
Hoje, em uma era dominada por máquinas invisíveis e algoritmos que moldam pensamentos, a luta maçônica ganha uma nova urgência.
O ego digital tenta erguer templos falsos onde antes havia consciência.
Mas o maçom moderno, fiel ao espírito eterno da Ordem, ergue seu próprio muro de fogo:
a observação consciente.
Esse é o escudo dele para o barulho, a espada para a mentira.
Em um mundo programado para dormir,
sua vigília é resistência.
Maçonaria nunca foi um refúgio; é uma forja.
Quem entra procurando conforto encontrará trabalho; quem entra procurando poder encontrará silêncio.
Mas quem entra procurando a verdade
encontrará a liberdade,
porque o templo não é feito de pedra,
mas de atos, pensamentos e palavras
que vibram em harmonia com o divino.
O maçom que "morre antes de morrer" não perde nada: acorda.
Sua morte simbólica é o alvorecer
de uma vida mais alta,
uma existência consagrada à Luz.
Ao longo dos séculos, a maçonaria estendeu essa luta da alma à sociedade.
Combateu o fanatismo, a ignorância e a opressão, pagando com perseguições a sua fidelidade à liberdade do pensamento.
Voltaire clamou: "Esmaga o infame", não contra a fé, mas contra a superstição que escraviza a razão.
Desde então,
cada maçom digno do nome sustenta,
com os três pilares de
Sabedoria, Força e Beleza,
o edifício moral do mundo.
O caminho é longo, e o trabalho é infinito.
Mas quem persevera na obra interior participa da peça universal.
Porque resistir ao mal,
submeter-se a Deus e trabalhar com humildade
é a única maneira de levantar o templo eterno.
Toda pedra polida no coração de um homem é uma vitória do Espírito sobre a matéria.
Cada ato consciente é um raio de luz que atravessa a escuridão.
Assim, o iniciado, o mestre e o irmão são um só:
três rostos de um mesmo viajante
que avança do caos para a harmonia.
E quando o véu se levanta, compreenda que a luta nunca foi contra outro, mas sim contra si mesmo.
Que o inimigo era o esquecimento
e a vitória o despertar.
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