Uma vez que se ensina o homem a dizer
o que não entende,
abre-se a porta para o triunfo
do simulacro.
O verbo, outrora templo do pensamento, converte-se em vitrine do vazio. Falar deixa de ser um gesto de revelação, torna-se uma coreografia de ruídos.
O sujeito, enfeitiçado pelo som de suas próprias palavras, já não busca compreender, mas apenas impressionar.
E assim nasce a tirania dos que manipulam o discurso, pois quem domina o vocabulário do incompreendido governa o reino da aparência.
Ensinar a repetir o que não se pensa é fabricar autômatos eloquentes, marionetes de linguagem que confundem expressão com sabedoria.
O poder, nesse cenário, não pertence mais à verdade, mas àquele que define o sentido do que os outros dizem sem saber.
A linguagem, quando se desprende do pensamento, torna-se instrumento de domesticação.
O homem que fala sem compreender já não fala, é falado. Seu discurso não lhe pertence, é um eco alheio que o habita.
E o mais trágico é que, convencido de sua própria eloquência, acredita-se livre, quando na verdade repete o roteiro que lhe foi soprado.
Toda civilização corrompida
começa por esse descompasso,
o verbo se separa do logos,
a palavra se emancipa da lucidez,
o som se sobrepõe ao sentido.
E o mundo passa a girar em torno de frases que brilham, mas não iluminam.
O desafio, portanto,
é reaprender a falar como quem pensa,
e a pensar como quem escuta o silêncio antes da palavra.
Pois onde o verbo perde a consciência, o homem perde a alma, e a verdade se cala sob o aplauso da impostura.
Oliver Harden
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