Druidas e Maçonaria

 

A relação entre Druidas e Maçonaria é um tema fascinante que remonta à Idade Média. 

A Maçonaria, originada na Europa, se desenvolveu a partir de reuniões de pedreiros e se expandiu para incluir outros membros, promovendo a liberdade de pensamento e expressão política e religiosa. 

Os Druidas, por sua vez, eram uma religião politeísta dos povos celtas que se espalharam pela Europa Ocidental. 

A Maçonaria e os Druidas compartilharam uma herança cultural e espiritual que reflete a harmonia com o fluxo natural do cosmos.


A origem Druida da Maçonaria, 
segundo Thomas Paine


A partir do século XVII, houve na Inglaterra um 

renas­cimento da cultura celta e um cres­cente interesse pela religião druí­dica. 


Neste caldo cultural foi fundada Maçonaria inglesa, embora Paine defendesse uma origem mais remota: a arcaica religião dos Druidas.

Thomas Paine, um dos “Pais” da nação norte-americana, escreveu um opúsculo — hoje em dia extremamente raro e pouco conhecido até pelos próprios maçons — ligando a ori­gem da Ma­çonaria à antiga religião celta dos Druidas. 

Publi­cada na Inglaterra em 1812, a sua tese, historicamente falando, na verdade não corresponde ao que se conhece sobre as origens do mo­vimen­to político e maçônico europeu nos anos 1790-1810. 

Esta, pelo menos, é a opinião dos especialistas no assunto.

Esta hipótese de Paine é melhor compreendida se levarmos em consideração os acon­teci­men­tos de seu tempo. 

E para se entender como e por que ela foi formulada ainda no início do século XIX por um per­sonagem politicamente tão atuante co­mo Tho­­­mas Pai­ne, é necessário uma pequena digressão a respeito do cruzamento entre o movimento druida e a maçonaria.

Desde a época de Henrique VIII, houve na Inglaterra um 
re­nas­­cimen­to da cultura celta e um cres­cente interesse dos eruditos pela religião druí­dica. 

Este neocel­tismo tinha um cunho político, pois quan­do 
Hen­rique rom­peu com a Igreja Ca­tólica, libertando o reino da tutela ro­ma­na, ele incentivou os eru­ditos a pes­­­qui­sa­rem as raízes celtas ou sa­xô­ni­cas, para provar ao Vati­ca­no que seu ato de secessão não era uma ruptura com a «Tradição de seus pais», muito ao contrário.

Henrique VIII forçou ao exílio todas as ordens monásticas cató­licas de seu reino, e transferiu os ar­­quivos dos mosteiros para a biblioteca real e para a de Ox­ford, para fins de preservação. 

Havia mui­tos documentos relativos à história real do país, e um trabalho de compilação gigantesco deveria ser feito. 

Para essa missão, o rei estabeleceu em Ox­ford um co­légio de cientistas. 

Desde a época de Henrique VIII, houve na Inglaterra um 
re­nas­­cimen­to da cultura celta e um cres­cente interesse dos eruditos pela religião druí­dica. 

Este neocel­tismo tinha um cunho político, pois quan­do 
Hen­rique rom­peu com a Igreja Ca­tólica, libertando o reino da tutela ro­ma­na, ele incentivou os eru­ditos a pes­­­qui­sa­rem as raízes celtas ou sa­xô­ni­cas, para provar ao Vati­ca­no que seu ato de secessão não era uma ruptura com a «Tradição de seus pais», muito ao contrário. 

No século seguinte, a revolução de Crom­­­well (1640) atrapalhou as atividades dos An­ti­qua­rians, que tiveram que se ocultar durante vinte anos na uni­ver­­­si­da­de de Oxford, enquanto se agre­gavam ao famoso Colégio Invisível — também loca­lizado em Oxford — que contou entre os seus inquilinos os adeptos da uto­pia Ro­sacruz de Valentin An­­­dreae. 

Entre eles, Ro­bert Fludd — considerado o pai do Colégio In­vi­sível — Elias Ash­mo­le, John Wil­kins, Ro­bert Plot, Tho­mas Vau­ghan, John Lo­cke, e mais tarde Isaac New­ton.

Após a restauração dos Stu­arts em 1660, o Colégio Invisível recebeu a missão de fundar a famosa Royal Society

Os Antiquarians fizeram grandes avanços científicos, principalmente graças ao trabalho de John Aubrey, quem elucidou o “mistério” de Stonehenge até então atri­buído aos romanos.

Foram os membros da Royal Society que, combinando desde seu o nascimento a via cristã li­ber­tária dos Rosacruzes, com a via mais paganizante e política dos Anti­qua­rians, depois de algumas fases preparatórias irão estabelecer a Franco-Maçonaria em junho de 1717, restaurando a Socie­ty of Antiqua­rism — proibida desde Charles I — em julho de 1717, além de fundar em setembro deste mesmo ano a famosa e pres­­­ti­gia­da Ordem dos Druidas.

John Toland foi o primeiro Grão-Druida dessa Ordem entre 1717 e 1722. To­land era um filósofo comprometido e po­lêmco, simpatizante do partido Whig e de suas teses pré-republicanas; católico, de­pois anglicano, e por fim panteísta à mo­da de Gior­da­no Bruno e Spinoza. 

Em seu testamento filosófico de 1720, a obra chamada Pan­theis­ticon, To­land propõe um retorno à anti­ga sabedoria de um pan­teísmo platônico, de fundo spi­noziano, e usa to­da esta nova e revolucionária matéria celta como uma arma educacional. 

O primeiro inimigo é o imperialismo religio­so do Vatica­no, por causa de tantos mas­sacres e guerras. 

O segundo inimigo são os reis despóticos que usam dogmas opressivos para estabelecer um poder in­jus­ti­ficado. 

Os membros da Or­dem se empenharam na múltipla e complexa constestação cul­tural que opunha o Norte ao Sul da Europa. 

Este neodrui­dis­mo cresceu e se diversificou, e hoje é parte de instituições ingle­sas que envolvem até mem­bros da família real. A Rainha Eliza­beth e seu filho Char­les, Prín­cipe de Gales, es­tão entre eles. Wins­ton Chur­chill também foi um de seus mem­­bros.

Em 1792, em Primrose Hill, Edward Williams, ou Iolo Mor­ganwg.

O movimento neodruida aglu­­tinou tam­bém ideias progressistas e republicanas do século XVIII, incluindo o debate sobre os direitos humanos. 

Nesta épo­ca conturbada, não era inco­mum que alguns grupos muito progressistas politicamente falando, tivessem um pé na Maçonaria e outro na ação re­volucionária. 

Os neo­druidas estiveram enga­ja­dos em torno dos valores mais progressistas e anti-imperialistas de seu tempo, e foram todos adeptos dos prin­cí­pios re­vo­lucioná­rios, des­­de que se relacionassem com a noção de democracia e direitos indivi­duais, e também eram ini­migos de todas as formas de obscurantismo.

Paine via a Maçonaria como um movimento progressista, que capacitasse os indivíduos e as nações a enfrentar os poderes pós-medievais nos seus países. 

O período de independência vivido com George Washington só poderia confirmar este ponto de vista. 

Também para ele, a matéria científica mais progressista, politicamente falando, era o fruto dos trabalhos dos Antiquarians de seu tempo. 

Em sua tese muito pessoal — e muito in­glesa em algumas partes —, ele afirma que as raízes progressistas da Maçonaria encontram-se na herança celta, mas ele está se referindo aqui à Ma­çonaria chamada de “moderna”, pois sobre a mais antiga as pessoas quase nada sabem nos dias de hoje.

Paine, por causa de suas amizades ma­çôni­cas, como com Ni­­co­­las Bonneville, e suas amizades celtas com personagens co­mo Edward Wil­liams e Wil­liam Blake, situa-se individualmente em um ponto de convergência entre estas duas tradições. 

Este pequeno livro é um efeito deste fato e não tem outro pro­pósito além de desenvolver esta sensibilidade.

A tese de Paine sobre as raí­zes celtas da Maçonaria coincide basicamente com as pesquisas de Charles-François Du­puis, que em 1795 publicou sua monumental obra Origine de tous les Cultes, ou la Religion universelle

Considerada um «verdadeiro bre­­viário de ateísmo filosófico», e apoiada sobre um vasto trabalho comparativo, ele buscou demonstrar a origem comum das crenças religiosas e astronômicas entre os Egípcios, os Gre­gos, os Chineses, os Persas e os Árabes.

Dupuis concluiu que todas as religiões antigas se estru­tu­ra­vam em torno do simbolismo zo­diacal, em que o Sol representa a divindade. 

Até mesmo o cris­tianismo não escapa a isto que se apresenta como uma mis­ti­ficação, «uma fábula com o mesmo fundamento de todas as outras fábulas solares». 

O Deus do cristianismo tem o mes­mo caráter do Deus sol, ado­rado en­­tre todos os povos sob uma multi­pli­ci­da­de de nomes e com atributos diferentes. 

Sua obra teve grande repercussão no início do século XIX e influenciou o trabalho de vá­rios arqueólogos e pesquisadores de religiões antigas. Com cer­teza Paine também a conheceu.

Os teólogos torceram o nariz para a obra de Dupuis e a ig­no­raram. 

A refutação mais efi­­caz veio através de uma paródia humorística, feita em 1827 por Jean-Baptiste Pérès — que utilizou todos os argumentos de Dupuis para sustentar que … Napoleão era apenas uma «fábula solar» sem fundamento his­tórico.

Tho­mas Paine foi o pro­pa­gador de suas teses para os EUA e conven­ceu George Washington a fazer uma assinatura da primeira edição desta publicação. 

Paine, um democrata revolucionário 



Thomas Paine (1737-1809), inglês de nascimento (1737-1809), foi para a América em 1775. 

Na Filadélfia, dirigiu um jornal, no qual escreveu artigos contra a escravidão, e em seguida publicou um livro a favor da independência americana (1776), O senso comum, que teve considerável sucesso. 

Entrou para o exército em 1777, mas continuou a escrever e a editar uma série de brochuras, incentivando os exércitos separatistas. 

Notado por Washington, foi nomeado secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e participou no desenvolvimento desta nova república. Foi ele quem sugeriu seu nome: os Estados Unidos da América.

Paine alcançou grande sucesso com o seu livro Direitos do Homem, na França como na Inglaterra, onde se tornou o livro de cabeceira dos radicais. 

Paine, em seguida, retornou a Londres entre 1792 e 1793, e começou a encabeçar o movimento pró-revolucionário; por isso quase acabou preso, mas escapou buscando refúgio em Paris, onde foi recebido como um herói. 

No final de 1793 recebeu o título de “cidadão francês” e tornou-se membro da Convenção, embora não falasse uma palavra de francês.

Por se recusar a votar a favor da morte do rei, e propor a sua deportação para a América, ele se tornou suspeito e Marat o atacou. Paine foi preso sob o Terror. 

A morte de Robespierre o salvou e ele encontrou liberdade em 02 de novembro de 1794.

Durante a sua detenção, escreveu o seu famoso Age of Reason (a “Idade da Razão”), um livro anticristão, que advoga o Deísmo, ataca a religião institucio­nalizada (as doutrinas cris­tãs), e promove a razão e o livre pensar. 

Nessa obra, Paine opõe os direitos humanos à pedagogia infantil e culposa das religiões cristãs; ele diz que a humanidade atingiu a sua idade da razão e não precisa mais dar importância ao dogma­tismo castra­dor que nega fundamentalmente os direitos dos indivíduos.

A Idade da Razão provocou um escândalo na Inglaterra e seus antigos amigos americanos também pareciam abandoná-lo. 

Em seguida, numa série de panfletos perfeitamente injustos, até ao próprio George Washington, a sua carreira política acabou interrompida, assim como qualquer forma de reconhecimento, apesar de seus com­promissos positivos assumidos anteriormente.

A convite do presidente Thomas Jeffer­son, em 1802 ele retornou aos Estados Unidos, e terminou a sua vida muito infeliz, morrendo de um acidente vascular cerebral.









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