A partir do século XVII, houve na Inglaterra um
renascimento da cultura celta e um crescente interesse pela religião druídica.
Thomas Paine, um dos “Pais” da nação norte-americana, escreveu um opúsculo — hoje em dia extremamente raro e pouco conhecido até pelos próprios maçons — ligando a origem da Maçonaria à antiga religião celta dos Druidas.
Desde a época de Henrique VIII, houve na Inglaterra um
Henrique VIII forçou ao exílio todas as ordens monásticas católicas de seu reino, e transferiu os arquivos dos mosteiros para a biblioteca real e para a de Oxford, para fins de preservação.
Após a restauração dos Stuarts em 1660, o Colégio Invisível recebeu a missão de fundar a famosa Royal Society.
Os Antiquarians fizeram grandes avanços científicos, principalmente graças ao trabalho de John Aubrey, quem elucidou o “mistério” de Stonehenge até então atribuído aos romanos.
Foram os membros da Royal Society que, combinando desde seu o nascimento a via cristã libertária dos Rosacruzes, com a via mais paganizante e política dos Antiquarians, depois de algumas fases preparatórias irão estabelecer a Franco-Maçonaria em junho de 1717, restaurando a Society of Antiquarism — proibida desde Charles I — em julho de 1717, além de fundar em setembro deste mesmo ano a famosa e prestigiada Ordem dos Druidas.
John Toland foi o primeiro Grão-Druida dessa Ordem entre 1717 e 1722. Toland era um filósofo comprometido e polêmco, simpatizante do partido Whig e de suas teses pré-republicanas; católico, depois anglicano, e por fim panteísta à moda de Giordano Bruno e Spinoza.
Em seu testamento filosófico de 1720, a obra chamada Pantheisticon, Toland propõe um retorno à antiga sabedoria de um panteísmo platônico, de fundo spinoziano, e usa toda esta nova e revolucionária matéria celta como uma arma educacional.
O primeiro inimigo é o imperialismo religioso do Vaticano, por causa de tantos massacres e guerras.
O segundo inimigo são os reis despóticos que usam dogmas opressivos para estabelecer um poder injustificado.
Os membros da Ordem se empenharam na múltipla e complexa constestação cultural que opunha o Norte ao Sul da Europa.
Este neodruidismo cresceu e se diversificou, e hoje é parte de instituições inglesas que envolvem até membros da família real. A Rainha Elizabeth e seu filho Charles, Príncipe de Gales, estão entre eles. Winston Churchill também foi um de seus membros.
Em 1792, em Primrose Hill, Edward Williams, ou Iolo Morganwg.
O movimento neodruida aglutinou também ideias progressistas e republicanas do século XVIII, incluindo o debate sobre os direitos humanos.
Nesta época conturbada, não era incomum que alguns grupos muito progressistas politicamente falando, tivessem um pé na Maçonaria e outro na ação revolucionária.
Os neodruidas estiveram engajados em torno dos valores mais progressistas e anti-imperialistas de seu tempo, e foram todos adeptos dos princípios revolucionários, desde que se relacionassem com a noção de democracia e direitos individuais, e também eram inimigos de todas as formas de obscurantismo.
Paine via a Maçonaria como um movimento progressista, que capacitasse os indivíduos e as nações a enfrentar os poderes pós-medievais nos seus países.
O período de independência vivido com George Washington só poderia confirmar este ponto de vista.
Também para ele, a matéria científica mais progressista, politicamente falando, era o fruto dos trabalhos dos Antiquarians de seu tempo.
Em sua tese muito pessoal — e muito inglesa em algumas partes —, ele afirma que as raízes progressistas da Maçonaria encontram-se na herança celta, mas ele está se referindo aqui à Maçonaria chamada de “moderna”, pois sobre a mais antiga as pessoas quase nada sabem nos dias de hoje.
Paine, por causa de suas amizades maçônicas, como com Nicolas Bonneville, e suas amizades celtas com personagens como Edward Williams e William Blake, situa-se individualmente em um ponto de convergência entre estas duas tradições.
Este pequeno livro é um efeito deste fato e não tem outro propósito além de desenvolver esta sensibilidade.
A tese de Paine sobre as raízes celtas da Maçonaria coincide basicamente com as pesquisas de Charles-François Dupuis, que em 1795 publicou sua monumental obra Origine de tous les Cultes, ou la Religion universelle.
Considerada um «verdadeiro breviário de ateísmo filosófico», e apoiada sobre um vasto trabalho comparativo, ele buscou demonstrar a origem comum das crenças religiosas e astronômicas entre os Egípcios, os Gregos, os Chineses, os Persas e os Árabes.
Dupuis concluiu que todas as religiões antigas se estruturavam em torno do simbolismo zodiacal, em que o Sol representa a divindade.
Até mesmo o cristianismo não escapa a isto que se apresenta como uma mistificação, «uma fábula com o mesmo fundamento de todas as outras fábulas solares».
O Deus do cristianismo tem o mesmo caráter do Deus sol, adorado entre todos os povos sob uma multiplicidade de nomes e com atributos diferentes.
Sua obra teve grande repercussão no início do século XIX e influenciou o trabalho de vários arqueólogos e pesquisadores de religiões antigas. Com certeza Paine também a conheceu.
Os teólogos torceram o nariz para a obra de Dupuis e a ignoraram.
A refutação mais eficaz veio através de uma paródia humorística, feita em 1827 por Jean-Baptiste Pérès — que utilizou todos os argumentos de Dupuis para sustentar que … Napoleão era apenas uma «fábula solar» sem fundamento histórico.
Thomas Paine foi o propagador de suas teses para os EUA e convenceu George Washington a fazer uma assinatura da primeira edição desta publicação.
Paine, um democrata revolucionário
Entrou para o exército em 1777, mas continuou a escrever e a editar uma série de brochuras, incentivando os exércitos separatistas.
Notado por Washington, foi nomeado secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e participou no desenvolvimento desta nova república. Foi ele quem sugeriu seu nome: os Estados Unidos da América.
Paine alcançou grande sucesso com o seu livro Direitos do Homem, na França como na Inglaterra, onde se tornou o livro de cabeceira dos radicais.
Paine, em seguida, retornou a Londres entre 1792 e 1793, e começou a encabeçar o movimento pró-revolucionário; por isso quase acabou preso, mas escapou buscando refúgio em Paris, onde foi recebido como um herói.
No final de 1793 recebeu o título de “cidadão francês” e tornou-se membro da Convenção, embora não falasse uma palavra de francês.
Por se recusar a votar a favor da morte do rei, e propor a sua deportação para a América, ele se tornou suspeito e Marat o atacou. Paine foi preso sob o Terror.
A morte de Robespierre o salvou e ele encontrou liberdade em 02 de novembro de 1794.
Durante a sua detenção, escreveu o seu famoso Age of Reason (a “Idade da Razão”), um livro anticristão, que advoga o Deísmo, ataca a religião institucionalizada (as doutrinas cristãs), e promove a razão e o livre pensar.
Nessa obra, Paine opõe os direitos humanos à pedagogia infantil e culposa das religiões cristãs; ele diz que a humanidade atingiu a sua idade da razão e não precisa mais dar importância ao dogmatismo castrador que nega fundamentalmente os direitos dos indivíduos.
A Idade da Razão provocou um escândalo na Inglaterra e seus antigos amigos americanos também pareciam abandoná-lo.
Em seguida, numa série de panfletos perfeitamente injustos, até ao próprio George Washington, a sua carreira política acabou interrompida, assim como qualquer forma de reconhecimento, apesar de seus compromissos positivos assumidos anteriormente.
A convite do presidente Thomas Jefferson, em 1802 ele retornou aos Estados Unidos, e terminou a sua vida muito infeliz, morrendo de um acidente vascular cerebral.
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