Em tempos de incerteza, lembre-se de quem você é ...

 

Escrevi esta mesa para mim.
Mas talvez esteja a falar contigo também.
Não é quando caminhamos em segurança que nossa força interior é medida, mas quando a dúvida sussurra e o conforto tende a véu da Luz.

É nesse momento – quando a mente vacila e o coração fica pesado – que o Começo é chamado a lembrar.

Lembrando sua origem, seu amanhecer interior, as mãos fraternas que o acolheram, o silêncio sagrado que precede a Luz.

É nessa hora que você precisa voltar para si mesmo, não para olhar para trás, mas para encontrar a fonte de onde tudo começou, para que o homem que tenta possa renascer Irmão.
Há momentos em que o irmão se sente cansado.

Não estou cansado fisicamente,
mas na parte mais fina de mim.

Enquanto lá fora tudo flui, dentro sobe uma neblina que confunde as certezas adquiridas, enfraquece os ideais, faz silenciados os mesmos símbolos que um dia iluminaram o coração.

O homem que um dia bateu à porta do Templo em busca da Luz, hoje encontra-se batendo dentro de si, perguntando-se se essa Luz ainda brilha, ou se não foi envolta nas sombras da dúvida, do hábito e da desilusão.

Há onze anos que levo comigo a memória da minha iniciação.

Não é apenas uma data ou um ritual: é um ponto fixo do meu ser, o nascimento de uma nova identidade.

Sempre que o conforto se aproxima, sempre que a minha mente sugere que os esforços são fúteis, eu volto lá.

Vejo novamente as mãos fraternas que me acolheram, o calor dos olhares, a vibração do silêncio que antecede a Luz.

Naquele momento nada me pertencia, e por essa razão tudo me foi dado: eu não era um indivíduo, mas sim um começo.

Não um homem entre os homens,
mas um irmão entre irmãos.

No entanto, é humano que a chama interior, ao longo do tempo, parece diminuir.

Após anos de caminhada, o entusiasmo inicial pode deixar espaço para uma forma sutil de tensão moral.

Você se pergunta se o trabalho em pedra bruta realmente dá frutos, se o esforço, presença, estudo e dedicação são compreendidos, compartilhados ou até mesmo úteis.

Nestes momentos, a sombra da solidão pode esgueirar-se entre colunas que falam de fraternidade.

Mas é nesses momentos que o Irmão tem que lembrar: o que foi vivido não foi, ainda está vivo. A corrente não é um símbolo estático, é um coração que continua a bater através de nós.
Lembro-me de cada passo: lembro-me das velas acesas, das palavras ditas baixamente, do abraço fraterno que me fez entender que já não estou sozinho no caminho da pesquisa.

Lembro-me das obras que nos fizeram uma mente, dos silêncios cheios de significado, das alegrias compartilhadas, das discussões acaloradas, até dos mal-entendidos: tudo isto não é sinal de fraqueza da cadeia, mas sim uma prova da sua vitalidade.

Porque onde há vida, há atrito,
e onde há fração,
a pedra bruta pode ser polida.

O desconforto não é um inimigo, mas um professor severo que nos lembra porque começamos este caminho.

A incerteza não é sinal de fracasso, mas a prova de que estamos vivos.

Só quem realmente aspira à Luz sente a dor de estar longe dela.

O leigo não avisa de noite, porque dorme.

O Irmão, por outro lado, percebe isso,
porque está vigiando esperando o amanhecer.

Em onze anos vi Irmãos se afastarem, alguns voltarem, outros ascendem, outros tropeçam.

Eu vi a minha própria vontade vibrar.

Mas todas as vezes que eu me pergunto "Por que devo continuar? ” dentro de mim uma voz subiu, doce mas ainda assim: porque você foi Iniciado.

É a voz do nascer do sol interior
que não se desliga,
esperando por um gesto, um pensamento, uma memória para irradiar novamente.

Toda vez que minha mão tremeu, eu sentia a outra mão de um irmão a abanar.
Sempre que meu coração estava cansado, um olhar fraterno levantava-o.
Ninguém pode andar sempre num ritmo seguro.
Mas quem recebeu a luz nunca caminha sozinho.

Nesses momentos,
o que salva não é a força,
e sim a memória.

Lembrar o Começo significa lembrar quem somos. Recordar os rostos dos Irmãos é lembrar porque viemos.
E quando a memória ganha vida, o conforto dissolve-se como nevoeiro ao sol.

Não porque as dificuldades sumiram, mas porque a Luz voltou para me mostrar que toda dificuldade é uma passagem, não um obstáculo; um degrau na Escada, não o fim do caminho.

Eu não esqueço.
E só porque eu não esqueço, eu continuo.
Porque eu sei que sempre que entro no Templo, invisível ou visível, eu renasço.

E se hoje eu sinto o peso dos anos, dos desentendimentos, das lutas, é só porque estou caminhando.

E caminho que não cansa
não leva a lugar nenhum.

Então, no silêncio da minha consciência, repito para mim mesmo as palavras de princípio: bate à porta, e ela será aberta para ti.

Onze anos depois, ainda bato à porta.
Mas hoje eu sei que aquela porta não está fora de mim.
Já está.
E atrás daquela porta, mais uma vez, a Luz espera.

Desde então, algo em mim já não espera pela Luz: ela gera.

E se o sol exterior nasce todas as manhãs, maior é meu dever fazer nascer o nascer do sol interior, aquele que ilumina não os olhos, mas a alma.

É por isso que posso dizer:
nasci na altura,
mas continuo a nascer agora.

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