
“Em busca da excelência divina, temos de ser fiéis à nossa missão, acreditar no nosso potencial e enfrentar os nossos medos. Além disso, precisamos ter um plano, formar uma equipe, depositar confiança nela, servir aos membros do grupo e lhes dar autoridade [2].”
Quando frequentava um dos últimos anos do curso escolar básico, tive uma aula de história que me impressionou bastante e fixou conceitos que persistem até hoje. Lembro bem da aula. Infelizmente, de forma ingrata, não lembro o nome do professor que tanto me ensinou e inspirou.
Hoje, é comum que este tipo de cenário seja criado e divulgado sob várias formas. Na época, aquela nova maneira de ver a história encheu a minha mente, por um lado, de luz, contudo, por outro, de muitas dúvidas.
Falando sobre as estórias da história, aquele professor, escolheu um grupo de alunos e os fez sair da sala.
Paralelamente, aos que permaneceram em sala, distribuiu um texto para que acompanhassem o que iria acontecer. Foi lá fora, leu algumas vezes este mesmo texto ao grupo que havia saído, dando-lhes alguns minutos para que discutissem a narrativa.
Após isto, começou a chamá-los individualmente para que contassem a sua versão do texto lido há apenas poucos minutos (a famosa tradição oral); como tinham que “apresentar o tema”, os remanescentes continuavam conversando e “treinando”. Não lembro mais, obviamente, o conteúdo; contudo, ficou gravada a ideia que quis nos transmitir: entre o texto escrito, o primeiro e o último aluno a relatar a sua versão, o texto foi mudando total e absolutamente, provocando, com a anuência do professor, grandes gargalhadas. Se fossem eles os historiadores do passado!
A história mais do que nunca transformar-se-ia num emaranhado de contos pouco compreensíveis.
Logo, a história deve ser respeitada dentro dos seus limites da tradição oral, ao mesmo tempo que aproveitamos o que nos ensina de melhor!
E esta parte da história que vamos abordar, traz-nos lições incríveis sobre LIDERANÇA, conceito fundamental em qualquer época!
E LIDERANÇA tem sim, tudo a ver com um dos personagens mais atordoantes da história: JESUS!
Com JESUS e com a própria Maçonaria!
Não criemos laços onde não existem. Não nos abracemos somente a conceitos místicos, elevados espiritualmente.
Falemos, pois, de LIDERANÇA!
Para saber quando se é um líder de verdade, devemos contar quantas pessoas prestam atenção ao que dizemos.
Isso poderá revelar a medida da nossa capacidade de LIDERANÇA, ou seja, a influência que podemos chegar a exercer sobre os outros.
Liderar significa ter percepção clara do que é justo e disponibilidade para tentar o que não foi tentado antes; além disto, o líder deve ter planos bem definidos, ser automotivado e perseverante nas decisões; ter personalidade positiva e o hábito de fazer além do que se pensa ser a sua obrigação; cultivar a empatia e o domínio dos detalhes; estar disposto a assumir plena responsabilidade e acreditar profundamente nos seus princípios.
Contudo, uma das principais características do líder, talvez não seja liderar, mas sim, replicar, incentivar ou despertar estas capacidades descritas noutras pessoas; de forma mais objectiva, trabalhar sempre para formar outros líderes e, assim, criar equipes vencedoras!
Poder divino sendo divino, não se questiona; portanto, resta-nos admirar e amar; no caso, seria apenas a constatação do facto óbvio de ser JESUS, filho de DEUS, nada menos que o criador de todas as coisas.
Então, pois, JESUS DEUS ou JESUS HOMEM?
Para esta análise contemplaremos somente as acções do JESUS HOMEM!
Como pensa o personagem criado por Augusto Cury no livro “O vendedor de Sonhos” [3]: que poder tinha este homem, tanto em gestos como em palavras, capaz de “… convencer jovens judeus, na flor da idade, malucos por aventuras, com famílias nucleares organizadas e negócios estabelecidos, a abandonar tudo para segui-lo. Que loucura! Seguiram no escuro um homem sem poder político notório e sem identidade visível. Deixaram barcos, amigos, casas e o seguiram sem direcção. Ele não lhes deu dinheiro, não lhes deu conforto, não lhes prometeu nem mesmo um reino terreno… Perderam tudo, por fim perderam o homem que os ensinou a amar crucificado numa trave de madeira… Após a sua morte, o grupo poder-se-ia te dissipado, mas uma força incompreensível os invadiu. Tornaram-se mais fortes depois do caos. Difundiram para o mundo a mensagem que tinham ouvido… (e) Sob a mensagem difundida por estes jovens toscos e sem cultura clássica, as sociedades europeias e depois inúmeras outras nas Américas, na África e na Ásia foram construídas. As bases dos direitos humanos e dos valores sociais foram estabelecidas”.
Que homem era este que reunia todas as características necessárias a um grande líder?
Era justo, fazia o que não tinha sido feito antes e tinha uma automotivação incomparável; os seus planos eram muito claros, perseverava nas suas decisões e sempre fazia muito além do que imaginavam ser o seu papel; tinha uma personalidade altamente positiva, esbanjava empatia, tinha pleno domínio dos detalhes do que o cercava e acreditava profundamente nos seus princípios; quando teve que assumir para si a responsabilidade, só entregou a própria vida.
Mas tudo podia ter parado por aí e talvez hoje, não passasse de mais um nome na história como tantos outros filósofos, religiosos, escritores ou cientistas. Por ser um líder completo, fez com entusiasmo o que melhor deve fazer um líder: mais que replicou ou estimulou; formou uma plêiade de novos líderes que espalharam as suas palavras e os seus exemplos que viajam e influenciam a sociedade há mais de 2000 anos e que, seguramente, continuará através dos tempos.
Com as profundas mudanças no mercado de trabalho, hoje mais do que nunca as empresas e as instituições precisam de líderes e gerentes inovadores e criativos.
Muitas organizações desperdiçam energia e inteligência dos seus colaboradores por causa do autoritarismo, da negligência e da falta de visão dos superiores. A consultora Laurie Beth Jones no seu livro “JESUS, o maior líder que já existiu”2 foi buscar inspiração Nele para propor princípios de liderança voltados para o crescimento, para a harmonia e para a realização de todos. A autora compara JESUS a um empresário que montou uma equipe com 12 pessoas que estavam longe de serem perfeitas, de terem talentos especiais; mas conseguiu treiná-las e motivá-las para cumprirem a sua missão com sucesso. E que sucesso: mudaram o mundo!
O seu objetivo era construir, e não destruir; educar, e não explorar; dar apoio e fortalecer, e não dominar.
A força e a esperança do mundo estão em pequenos grupos de pessoas conduzidos por líderes que incorporem ao trabalho valores fundamentais, como cooperação, boa vontade e amor. JESUS foi craque nisto!
ELE retirava das pessoas o que elas tinham de melhor, mas sempre exalando amor, sempre fazendo com que se sentissem amadas, valorizadas; não ficava sentado numa cadeira; exigia obediência, mas era obediente; fazia parte da equipe; acompanhava os seus liderados; sentia o ‘mercado’; nunca impôs, sempre propôs; já era o que se denomina hoje, um verdadeiro “coach” [6] [7].
“Coach” [6] [7] (treinador, aplicando uma tradução ipsis litteris) é aquele que actua encorajando e/ou motivando o grupo; procura transmitir capacidades ou técnicas que melhorem as suas qualidades profissionais e/ou pessoais; busca o compartilhamento de pensamentos e ideias, organizando-os, transformando-os numa meta desafiante, num plano de acções, levando à concretização de antigos sonhos.
O “Coach” [6] [7] permanece com a pessoa ou grupo até o momento em que ela atingir o resultado. Procura dar poder para que a pessoa produza, para que as suas intenções se transformem em acções que, por sua vez, se traduzam em resultados e influencie no desenvolvimento de padrões éticos, comportamentais e de excelência.
“Coaching” [6] [7] é determinação, é a coragem necessária quando se tem desafios a superar. As emoções são essenciais para construir uma ponte vigorosa que sustente o percurso desde a intenção até a realização. Sem emoção, não há envolvimento nem energia para a acção. Alegria, determinação e, principalmente, confiança são as bases para um relacionamento/projecto bem-sucedido. Respeito, solidariedade e afecto tornam o caminho mais suportável.
Embora nem todo “Coach” [6] [7] seja um líder, todo líder deveria ser um ‘coach’.
JESUS foi e apesar do tempo continua sendo, mais que um líder: foi e continuará sendo um verdadeiro “Coach” [6] [7].
Competente é aquele que consegue cumprir as suas tarefas. Metacompetente [5] é quem está além da competência, é aquele que tem a capacidade de construir, criar, inovar, estimular o pensamento, gerar curiosidade, aumentar o espírito crítico e mobilizar pessoas para recuperar a utopia: construir um mundo melhor com pessoas melhores. Pessoas verdadeiramente metacompetentes, criativas, comunicativas, gregárias, estudiosas, comprometidas, visionárias, felizes e líricas.
JESUS sempre buscou a metacompetência [5].
JESUS HOMEM, pois, não é diferente do JESUS filho de Deus!
A divindade e a humanidade misturam-se e se autoengrandecem, são indissociáveis.
JESUS foi, pois, um homem divino.
E a Maçonaria que tem sempre dificuldade em assumir o seu papel histórico de liderar os seus membros rumo à excelência, à metacompetência?
Os seus líderes deveriam espelharem-se em JESUS!
Os seus Veneráveis Mestres deveriam buscar o exercício da LIDERANÇA, transformando-se em verdadeiros “Coaches”.
É fundamental que estes líderes encabecem o movimento de preparar todos os membros da sua Loja para assumirem cargos, privilegiando o ensino não só das bases práticas, mas estimulando o aprofundamento do conhecimento.
A Maçonaria precisa, através dos seus múltiplos mecanismos, exigir que a educação do Maçom tenha um sentido amplo, ou seja, filosófico, litúrgico e simbólico, porém, também e especialmente, profano, no preparo do homem Maçom para a actuação na sociedade abordando temas importantes e modernos como liderança, resiliência e assertividade. Isto deve ser uma meta imprescindível e inadiável do quotidiano das Lojas.
É preciso estimular a criação de líderes, de metacompetentes, de verdadeiros “Coaches”.
Como diz Laurie Beth Jones [2], “… Ao se inspirar no exemplo que Ele (JESUS) nos deu, cada um de nós, mulheres e homens, pode tornar-se um líder capaz de mudar o mundo”.
E diz ainda que, ao estudar as técnicas que JESUS empregava na condução do seu grupo de seguidores, percebeu que Ele utilizava três tipos de forças: a do autodomínio, a da acção e a das relações.
É mister que a Maçonaria ensine aos seus estas técnicas.
A Maçonaria, pois, precisa de se espelhar no exemplo de JESUS e repensar o seu papel. O mundo mudou e bastante. Caso contrário, no futuro, poderemos correr o risco de sermos conhecidos apenas como bons contadores de estórias ou apenas óptimos guardadores de um passado de orgulhos.
Walter Roque Teixeira, GOB–GOB/SC–CIM 184.372–ARBLS Palmeira da Paz nº. 2121
Bibliografia
[1] Almeida, João Ferreira de: Bíblia Sagrada, Nova tradução na linguagem de hoje. Sociedade Bíblica do Brasil;
[2] Jones, Laurie Beth: Jesus, o maior líder que já existiu. Sextante, 2006, Rio de Janeiro, RJ;
[3] Cury, Augusto: O Vendedor de Sonhos (O Chamado). Ed. Academia de Inteligência, 2008, São Paulo, SP;
[4] Girardi, João Ivo: Do meio-dia à meia-noite (vade-mécum maçónico), Nova Letra Gráfica e Editora Ltda., 2006, Blumenau, SC;
[5] Mussak, Eugênio: Metacompetência, Editora Gente, 2003, São Paulo, SP;
[6] Di Stefano, Rhandy; “O Lider Coach: Líderes criando Líderes”, Editora Qualitymark, 2007, Rio de Janeiro, RJ;
[7] Araújo, Ane: “Coach: um parceiro para o seu sucesso” – Editora Gente, 1999, São Paulo, SP.
Comentários
Postar um comentário