RESUMO
A pesquisa desenvolve-se a partir de reflexões sobre o futuro da maçonaria.
Os objetivos
do artigo foi analisar qual dos valores atemporais da maçonaria continuam a ser um gatilho de atração
de novos membros e como a diferença entre gerações impactará no futuro da ordem.
Para tanto, a
pesquisa foi classificada, à abordagem, pesquisa quali-quantitativa; quanto à natureza, pesquisa
básica; quanto aos objetivos, exploratória e explicativa; quanto aos procedimentos, pesquisa
bibliográfica e etnográfica.
Na busca pela validação bibliográfica das hipóteses levantadas, foram
utilizados como fontes primordiais da pesquisa, pesquisas etnográficas sobre o perfil dos maçons, com
ênfase no relatório da Social Issues Research Centre – SIRC, de 2012.
Como resultados da pesquisa,
foi possível verificar, que o futuro da maçonaria, primordialmente, dependerá das variáveis:
pertencimento, valores, relações públicas, novas tecnologias e seus contextos com as novas gerações.
INTRODUÇÃO
Como a virada de mais uma década e,
principalmente, após atravessarmos a segunda
pandemia do século, torna-se crucial debatermos
de maneira robusta sobre o que significa ser um
maçom na sociedade contemporânea e o que
isso significará no futuro.
Mesmo reconhecendo que este debate não é
inédito, é incontroverso que parece não ter
ecoado nas terras tupiniquins.
Isto, por si só, já
torna relevante o suficiente trazer à tona este
debate no seio da maçonaria brasileira.
Algumas
inquietudes
acabaram
por
impulsionar e tangibilizar o desenvolvimento
desta pesquisa, mas duas varáveis foram
preponderantes:
a) as evidências de que os
valores atemporais da maçonaria já não são os
valores sociais mais buscados;
b) a divergência
dos perfis entre as gerações de obreiros das
Lojas maçônicas.
Mesmo sendo a maçonaria a organização
fraternal mais antiga do mundo, e tendo
princípios baseados na moralidade, o contexto
global da segunda década do século XXI é bem
diferente daquele encontrado há trezentos anos,
quando fora estabelecida.
Considerando que os ideais maçônicos
permanecem inalterados durante os séculos e,
mesmo desejoso de que se perpetuem ao longo
da história, precisamos nos perguntar se estes
mesmos ideais serão o suficiente para continuar
a fazer a organização prosperar.
Entre o antigo e o novo, a tradição e a
inovação,
há
incompatibilidades
compatibilidade
que
precisam
e
ser
continuamente revisitadas e reavaliadas para o
bem da ordem e, este amálgama nem sempre se
encaixará confortavelmente ou será ponto de
convergência entre os membros de nossa
organização.
O futuro da maçonaria dependerá, ainda, da
forma como será conduzida a sua relação
institucional com as outras organizações
públicas e privadas, sua constante adequação às
Leis dos países, estados e cidades em que
estiverem instaladas e, sobretudo, das suas
posições e comunicações com a sociedade.
Como critérios metodológicos fundamentais
para garantir a cientificidade desta pesquisa,
foram adotados: quanto à abordagem, pesquisa
quali-quantitativa; quanto à natureza, pesquisa
básica; quanto aos objetivos, exploratória e
explicativa; quanto aos procedimentos, pesquisa
bibliográfica e etnográfica.
Para tanto, a pesquisa embasou-se em
publicações
relevantes
para
o
público
etnográfico tratado, onde destacam-se Churton
(2007), Walton & Cohen (2007), Hamill e Gilbert
(2004) e Fiese (2002), dentre outros
referenciados ao final do artigo.
A NECESSIDADE DE PERTENCIMENTO
Existe uma necessidade atemporal e
universal das pessoas de estabelecerem um
vínculo profundo e um sentimento de
pertencimento a um ou mais grupos sociais.
Isso
suprirá a necessidade inata de aceitação, tão
explorada na teoria da hierarquia das
necessidades humanas de Abraham Maslow
(1943).
Essa exigência psicológica de contato social
só é superada pelas necessidades fisiológicas
(ar, água, alimentação e sono) e de segurança.
Sem esse “vínculo social”, de acordo com tal
modelo, seria impossível suprir a necessidade de
estima pessoal e demais necessidades
psicológicas.
Desde a época de Maslow, o estudo do
pertencimento ao grupo e da centralidade que
ele desempenha em nossas vidas formou uma
parte importante da psicologia social. Roy
Baumeister (1995), por exemplo, enfatiza que a
necessidade de pertencimento social, por se ver
como socialmente conectado, é uma motivação
humana básica.
O senso de conexão social prevê resultados
favoráveis, disponibilidade percebida de apoio
social e amortece a saúde física e mental.
Para
Gregory Walton (2007) e Geoffrey Cohen (1986),
seguem uma linha semelhante, examinando as
formas em que um forte senso de identidade de
grupo melhora o desempenho e o bem-estar em
uma variedade de contextos.
Muitos outros
profissionais da área revelaram com mais
detalhes as maneiras como os laços sociais são
estabelecidos e as consequências negativas que
surgem da alienação social ou da simples
solidão.
A bem da verdade, porém, talvez nem
precisássemos de famosos psicólogos para
afirmar o quão importante é realmente um
sentimento de pertencimento.
Todos nós
sabemos disso - e todos provavelmente já
experimentamos a sensação de dúvida pessoal
e baixo valor social quando os laços sociais
estreitos são rompidos ou enfraquecidos.
A célebre afirmação de que o homem é um
ser social pode soar um tanto banal, mas é,
apesar de tudo, verdadeira.
A afiliação social está ligada a nossos
cérebros e não temos que aprender do zero a
buscar um sentimento de pertencimento,
fazemos isso com naturalidade, desde que
passamos a nos perceber como indivíduos e
perceber os demais indivíduos nos grupos em
que estamos inseridos.
Como Mary Ainsworth (1989) enfatiza, essa
propensão inata para estabelecer laços sociais
teve benefícios distintos de sobrevivência e
reprodutivos - por exemplo, compartilhamento de
alimentos, provisão de parceiros em potencial,
ajuda e cuidado para a prole, proteção contra
rivais e maior eficácia na caça.
Na Maçonaria, é claro, o potencial para fortes
afiliações e amizades duradouras é uma das
principais atrações que todos os membros do
passado e do presente identificam e,
provavelmente,
os
do futuro também
identificarão.
No entanto, esse vínculo exclusivamente
masculino, encapsulado no conceito de
fraternidade, já não é uma unanimidade.
Na
sociedade contemporânea, onde as instituições
de gênero desapareceram em grande parte, o
fato de que a filiação a loja é restrita aos homens,
e que os laços maçônicos têm a ver apenas com
'irmãos', pode parecer anacrônico.
O vínculo masculino, no entanto, tem suas
raízes em um período anterior da evolução
humana - o Paleolítico Superior ou o final da
Idade da Pedra, há cerca de quarenta mil a cem
mil anos ou mais.
O final da Idade da Pedra foi a era das tribos
de caçadores-coletores e, durante esse período,
muitos dos processos formativos que moldaram
as maneiras pelas quais nossos cérebros
evoluíram
e,
consequentemente, nossos
comportamentos evidentes.
Este período,
anterior ao desenvolvimento da agricultura, é
frequentemente referido como o da modernidade
comportamental, pois vemos nele evidências do
desenvolvimento
de
padrões
de
comportamentos que são surpreendentemente
semelhantes aos de hoje.
Podemos pensar que agora somos muito
diferentes do que éramos quando sobrevivíamos
e prosperávamos com a caça e a coleta, mas na
verdade, evoluímos muito pouco como espécie
desde aquela época, neste quesito.
O papel das mulheres principalmente como
coletoras de frutas silvestres, nozes, etc., e dos
homens principalmente como caçadores de
proteína animal, estabeleceu a base para a
separação de papéis de gênero que ainda molda
nossas vidas, mesmo com muitas equiparações
já alcançadas.
É esse legado de longa data da união
masculina, afirma Tiger (1971), que vive nos
tempos modernos em muitas nuances sociais.
Isso não significa que os laços entre as
mulheres eram, ou são, menos fortes.
As
fraternidades masculinas são espelhadas por
irmandades femininas de todos os tipos, mesmo
em organizações maçônicas.
É incontroverso, ainda, que, embora Grande
Loja Unida da Inglaterra – GLUI, a potências
filiadas
à
Confederação
da Maçonaria
Interamericana – CMI e as demais principais
jurisdições maçônicas ao redor do globo não
admita mulheres, há diversas ordens de
mulheres maçons que seguem cerimônias e
tradições masculinas – em grande parte não
adaptadas – referindo-se uma à outra como irmã.
Este
ponto é sensível no mundo
contemporâneo, em que a nova geração é cada
vez mais simpática e atenciosa às questões de
gênero.
Portanto, aqui, mesmo dissecando a variável
do pertencimento como extremamente positiva
para o constante reabastecimento das fileiras
maçônicas, as questões de gênero que a
envolvem podem ser um dificultador, quando
confrontadas com o modelo de aceitação
exclusivamente masculina da maior parte das
organizações maçônicas.
Nos grupos focais, em uma pesquisa
encomendada pela GLUI, em 2012, foram
exploradas as noções dos participantes sobre
onde eles se sentiam pertencentes e a
importância que atribuíam isto.
Houve poucas surpresas em qualquer uma das
discussões.
Fico claro e estabelecido que as
principais fontes de um senso de identidade
social estão entre grupos familiares, de amigos
próximos, afiliações profissionais, religiosas e
esportes coletivos.
Houve um consenso esmagador entre os
participantes que eles tinham uma forte
necessidade de pertencer a algum lugar e
compará-los com outros definíveis.
Para alguns,
o
senso de identidade foi impulsionado
principalmente pelo sentimento de pertencer à
família maçônica e sua história, enquanto para
outros, eram suas redes sociais alcançadas pela
maçonaria que eram mais dominantes neste
contexto.
Os resultados ressaltaram que as conexões
sociais maçônicas fornecem aos seus membros
mais do que apenas a oportunidade de se
reunirem e se socializarem, mas apresentaram
se bem mais complexas do que isto.
Em vez de
fornecer um processo simples de pertencimento,
demonstraram ser um elo bidirecional: rede de
apoio (pertencimento) e status.
OS VALORES
O fato de que, universalmente, as pessoas
estão preparadas para agir de maneiras que
beneficiam os outros com um custo para si
mesmas há muito representa um problema para
as ciências sociais e biológicas - e
particularmente para as teorias da evolução.
A premissa fundamental da biologia
evolutiva, por exemplo, é que os custos e
benefícios são medidos em termos de aptidão
reprodutiva (a capacidade de um animal de
acasalar e produzir descendentes), garantindo
assim o futuro de seus genes. Isso se aplica a
humanos tanto quanto qualquer outra espécie do
planeta.
A questão difícil aqui, no entanto, é que este
modelo da seleção natural opera apenas a nível
individual e não no nível coletivo.
É verdade que estamos mais dispostos a
fazer o maior sacrifício em benefício ou
sobrevivência de nossos parentes mais
próximos.
Se eu salvar a vida de, digamos, meu
filho enquanto perco a minha, asseguro que a
parte de mim que é meu filho (meus genes) irá
sobreviver em uma geração futura.
Mas por que
deveríamos ajudar nossos vizinhos ou pessoas
em partes do mundo que nunca conhecemos e
nunca conheceremos?
Nossas vidas são dirigidas mais por códigos
morais do que por instintos básicos.
E, no
entanto, talvez de forma desconfortável, o
altruísmo está tanto em evidência em pássaros e
mamíferos quanto em nós.
Muitas espécies
soam o alarme para seus companheiros quando
identificam um predador nas proximidades,
expondo-se a um risco considerável por
tornarem-se mais visíveis.
Esses tipos de
comportamento altruísta são os mesmos que
vemos como características fundamentais nos
seres humanos.
Nos seres humanos, o efeito manada e
outros aspectos sociológicos apontam para uma
mudança.
O que temos aqui é um foco no grupo,
ao invés do interesse individual.
As perspectivas atuais, no entanto,
geralmente apoiam a visão de que os genes que
nos levam a ser generosos com nossos parentes
também podem nos levar a expressar altruísmo
de uma forma mais generalizada, desde que não
reduza nossa aptidão pessoal a um grau
prejudicial.
Um produto vantajoso disso é o aumento da
aptidão da tribo, comunidade ou sociedade em
que vivemos que, por sua vez, aumenta o que é
conhecido como aptidão 'inclusiva' - uma noção
que abrange a aptidão pessoal de cada um mais
a aptidão de todos os outros membros da
espécie na população.
Uma consequência do que podemos
descrever como "instinto de doação" é que
alguns membros terão, em termos gerais, mais
do gene altruísta do que outros.
Nós, como no
reino animal, sempre teremos aqueles que se
beneficiam do altruísmo dos outros enquanto dão
pouco ou nada em troca.
Mas isso, por si só, não representa um
problema sério até que os doadores sejam
superados em número pelos recebedores.
A
seleção natural, ao que parece, é voltada para a
prevenção desse estado de coisas.
Embora nossa predisposição para dar aos
outros, e às nossas famílias em particular,
pareça ter uma base biológica, existem muitas
outras maneiras de explicar atos altruístas
individuais.
Um óbvio é o senso de retidão moral que vem
de atos de caridade - nos sentimos melhor sobre
nós mesmos depois de fazer o bem.
Dessa
forma, isso nos permite confirmar nossas
autopercepções positivas. Esse fator de
'sensação de bem-estar', entretanto, também
pode ter raízes biológicas.
Estudos recentes
indicam que atos de caridade acionam os centros
de recompensa do cérebro e aqueles associados
a emoções e comportamento social (Tankersley,
et al, 2007).
Há também o aumento na secreção
do neuroquímico dopamina, novamente levando
a sensações gratificantes, nessas ocasiões.
Talvez assim possamos explicar o motivo
pelo qual alguns dos valores maçônicos
principais, como a caridade, continuem a ser um
dos imãs de atração de novos obreiros.
Mesmo
que, particularmente no Brasil, estejamos longe
de estar entre os povos mais caridosos do
mundo.
As recompensas neurais e sociais que vêm
do envolvimento em atos de caridade
normalmente são subestimadas.
Por mais que os impulsos nos levem a querer
tratar de outras questões morais, é fundamental
esclarecer que a moral é relativa, temporal e
geográfica. Mesmo na maçonaria ela teve uma
variação contundente ao longo do tempo.
Segundo pesquisa realizada pela Social
Issues Research Centre – SIRC (2012), a
caridade é a principal fonte de atração de
maçons dentre os seus membros a nível global.
Mais do que qualquer outro valor moral, familiar,
de justiça social ou patriótico.
Segundo o estudo,
principalmente no Estados Unidos e Inglaterra, a
maçonaria é vista eminentemente como uma
associação de caridade.
Por mais que este resultado possa causar
alguma estranheza aos maçons tupiniquins, é
um dado que, se confirmado no nosso contexto,
pode ser um dos alicerces da maçonaria
brasileira no futuro e uma das grandes linhas de
discurso de recrutamento de novos membros.
AS RELAÇÕES PÚBLICAS
É notório que, em nosso país, uma das
maiores dificuldades das instituições maçônicas
está na sua dificuldade em projetar a sua imagem
adequadamente, quebrar os paradigmas antigos
de sociedade secreta, e se relacionar mais
transparentemente com a sociedade de maneira
geral.
Por mais que haja esforços de potências
maçônicas nos Estados Unidos e Europa para
aproximar a ordem da sociedade com ações
conjuntas de projetos sociais, mantenedoria de
hospitais e, até mesmo, campanhas publicitárias
de larga escala na televisão e no streaming, no
Brasil, as organizações maçônicas ainda estão
muito distantes de uma conexão social completa
com seus stakeholders.
Na contramão, aliás, em via de regra, as
organizações maçônicas brasileiras, continuam a
se fechar.
Apesar do discurso comum ser de uma
associação discreta, a maçonaria não tem se
aberto à sociedade e se apresentado
claramente, mostrando o que realmente faz e os
motivos pelos quais ela pode ser muito útil à
sociedade nestes tempos de intolerância e
polaridade.
Infelizmente, há uma clara e expressa
barreira em forma de preocupação comum dos
maçons mais antigos sobre uma possível perda
do caráter distintivo da Maçonaria à medida que
a organização se abre demais para a sociedade.
O futuro da maçonaria certamente passará
pela a sua habilidade ou inabilidade, enquanto
instituição, de enterrar os mitos sobre si que se
construíram ao longo dos séculos e que, por
omissão da própria maçonaria, foi se tornando a
visão do senso comum sobre a ordem.
As suas históricas rusgas com as religiões,
principalmente, a Católica Apostólica Romana,
sua conturbada relação com as instituições
legislativas atuais, como em Portugal e na
Inglaterra e tantas outras questões institucionais
precisam ser analisadas com profundidade caso
queiramos transformar a forma como a
sociedade nos percebe.
AS NOVAS TECNOLOGIAS
A pandemia do COVID-19 parece ter
acelerado os debates sobre os modelos
comunicacionais maçônicos.
As Lojas maçônicas precisaram deixar de se
reunir presencialmente e apenas poucas delas
(mesmo a nível global), por motivos variados,
adaptaram-se
e
desenvolveram modelos
comunicacionais mais modernos.
Este duro momento em que atravessamos (e
ainda não saímos dele) evidenciou um déficit de
acompanhamento
tecnológico por parte das
organizações maçônicas.
Mesmo que todas as jurisdições tenham seus
sites e que,provavelmente, todas as Lojas
possuam – no mínimo – um canal de
comunicação de mensagens instantâneas, isto
não significa necessariamente que elas estejam
acompanhando os avanços tecnológicos para
melhorar seus processos de gestão, de ensino
aprendizagem ou de comunicação.
No sentido contrário, mesmo ainda como
minoria absoluta, tivemos Lojas exclusivamente
virtuais sendo fundadas, reuniões virtuais com
palestras, instruções e apresentações de
trabalhos de Lojas tradicionais – que
conseguiram se adaptar mais rapidamente ao
contexto – e inovações no modelo de ensino
aprendizagem que foram desenvolvidos neste
período.
Com a chegada cada vez maior dos New
Millennials, que findam a Geração Y, e até
mesmo de membros da Geração Z, é factível
afirmar que o futuro da maçonaria também por
uma forte conexão com as novas tecnologias. Do
contrário dificilmente obterão a atenção
prolongada destas gerações que já nasceram
conectadas.
Será uma missão cotidiana dos maçons no
futuro – já deveria estar sendo no presente –
fazer com que a tradição e a inovação possam
caminhar lado a lado.
Prezar por tudo aquilo que
faz parte dos usos e costumes, mas lembrar que
a maçonaria sempre foi e sempre será (assim
espero) uma instituição progressista.
Como tal, é preciso evoluir para se adequar
aos novos contextos sociais, para que continue
sendo atrativa aos olhos dos futuros obreiros e
de seus membros atuais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qual então será o futuro da maçonaria?
Antes de buscarmos responder a esta questão
devemos nos perguntar: qual o futuro que a
maçonaria quer para si?
O que a maçonaria poderia fazer para
finalmente possa garantir que sua relevância na
sociedade contemporânea seja mais facilmente
reconhecida e compreendida?
Qualquer que seja a reposta, a manutenção
dos princípios fundamentais da ordem deve ser
algo inegociável.
A manutenção de seus rituais, da atualização
de suas lendas, símbolos e alegorias peculiares
também servirão para garantir um futuro em linha
reta.
No entanto, alguns pontos não são tão claros
como os anteriores.
A atração e retenção de
membros das gerações Y e Z não se darão com a utilização das mesmas estratégias e gatilhos
utilizados nos últimos séculos.
Os membros mais jovens precisarão receber
mais apoio e orientação contínua dos membros
mais experientes.
Para isso, será necessária
uma trégua entre as gerações que normalmente
estão mais em conflito do que em sintonia.
Há evidências do sucesso do modelo de
mentoria dos mais experientes para os mais
jovens na GLUI quando avaliado a partir de
indicadores como a redução da evasão nos
primeiros três anos.
Uma possível solução para atrair e reter toda
uma nova geração de maçons aplicados, é
investir no apoio à ordem DeMolay e no incentivo
à iniciação de seus membros sêniores.
Ao considerarmos o futuro mais amplo de
maçonaria, talvez seja útil tomar uma
retrospectiva do início do século XVIII, no qual a
maçonaria foi formada.
A sociedade à época,
claro, era muito diferente. Mas o contexto a ser
explicitado é que aquela época foi conhecida
como a Idade da Razão.
Um período em que as
superstições da Idade Média estavam sendo
substituídas por formas mais racionais de
argumentação, debate e consideração de
dogmas religiosos.
Foi, ainda, uma época de
rápido progresso nas ciências naturais. Um novo
espírito de investigação científica estava em
evidência e movimentos filosóficos travavam
debates genuínos sobre uma verdadeira moral.
Os séculos se passaram e, em algum
momento, a maçonaria foi se distanciando do
cientificismo e se aproximando do misticismo e
do “achismo” histórico.
Para garantir um futuro sustentável,
a
maçonaria certamente precisará se reaproximar
da busca pela luz da ciência.
Considerando a inovação tecnológica em
patamares sem precedentes, é um inconcebível
que a jornada do desenvolvimento maçônico seja
dissociada da ciência e do racionalismo.
Por fim, a maçonaria deve continuar
a
garantir a possibilidade de que
todos os homens
livres
de consciência e de bons costumes
possam, se assim desejarem,
ter acesso às suas
fileiras.
A necessidade de pertencimento inerente
a todos os indivíduos continuará a ser um fator
determinante para a atração de novos membros.
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O FUTURO DA MAÇONARIA. SERÁ?
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