Você não pode ter tudo: o preço do "Nós"

 

Um Mestre uma vez me disse:
“Não se pode ter tudo. Sempre há que sacrificar algo. ”
E tinha razão.

Porque amar de verdade exige uma escolha profunda:
escolher construir algo novo significa deixar morrer algo velho.

Para ser um casal, você tem que deixar de ser filho.

É preciso soltar a necessidade de aprovação.
o costume de pedir permissão,
o impulso de colocar a família de origem acima
do vínculo que estamos criando.

O casal – seja qual for o nível – torna-se o coração do novo lar.

E se esse coração for negligenciado, tudo o resto será ressente.
Também tem que parar de ser solteiro.

Você não pode continuar tomando decisões que só olham para o "eu".

O Nós exige responsabilidade, coordenação,
vontade de pensar e sentir como um sistema.
Quando dois seres escolhem se amar,
Nasce uma terceira entidade viva: o Nós.


E manter essa entidade requer prioridade absoluta.
Até os filhos, por mais amados que sejam,
não devem ficar acima do link.

Porque o melhor presente que se pode dar a um filho
é mostrar a ele um casal que se ama, se respeita e se escolhe todos os dias.

Se o Nós se fracturar, toda a família perde o seu centro gravitacional.

Amor maduro não é colocar limites para fora,
mas entender a ordem sagrada das coisas.
Amor à família, aos filhos, ao mundo,
flui com mais pureza quando o Nós se sustenta
forte, estável e consciente.
Por isso amar é um ato de sacrifício.
mas também de criação.

Não dá pra ter tudo ao mesmo tempo...
mas você pode ter o essencial: coerência, presença e propósito compartilhado.
O sacrifício alquímico
Muita coisa tem que sacrificar sim
mas não desde a negação ou repressão.
Temos que sacrificar nossas sombras, não para destruí-las.
mas para iluminá-las.
Essa é a base do trabalho alquímico:
a sombra é a matéria-prima do nigredo,
o material escuro que, ao receber a luz da consciência,
se transforma em ouro espiritual.

Sacrificar a sombra significa entregar as nossas feridas.
nossos padrões inconscientes, nossas identidades antigas.
E isso dói.
Porque o ego confunde a ferida com a sua identidade.
Ele acha que ao deixá-la ir, ele morre também.

Mas não é uma morte do ser,
mas uma revelação da sua forma mais pura.
É por isso que o sacrifício não quer nos anular.
mas revelar-nos.
Não é sobre nos perdermos no outro,
mas de descobrir quem somos sem o fardo do que já não somos.
Amar requer vulnerabilidade.
Mas vulnerabilidade não significa deixar o outro carregar sua sombra.
Significa atrever-se a segurá-la você mesmo.
enquanto o outro te acompanha de sua própria luz.
Aprende-se a diferentes níveis.
Todo relacionamento — seja um vínculo breve ou um amor profundo — nos ensina a manter mais consciência,
a nos reconhecer mais integralmente,
a nos aproximarmos mais um passo em direção ao amor real.
Nós na luz e na sombra
O Nós não é uma fusão nem a perda da individualidade.
Quando um se dilui no outro, o que nasce não é um vínculo consciente, mas uma forma subtil de co-dependência:
um Nós na sombra.
No entanto, esses laços também têm sua função.
Mostram-nos o que não é.
Para poder reconhecer o que é.

Assim aprende o ego: através do contraste.

O ego não pode viver o que nunca conheceu.
mas pode ser reconhecido no erro, no desconforto, na repetição.
Aí começa o despertar.
Relacionamentos que nos drenam ou nos confundem não são fracassados,
São professores.
Eles nos ensinam a distinguir a possessão do verdadeiro encontro. necessidade do propósito, o costume do amor vivo.

Aprendemos através do que não somos.
e essa compreensão nos permite abrir o espaço
para viver o que nunca tínhamos experimentado:
um relacionamento onde dois indivíduos inteiros se mantêm sem se anular, são acompanhados sem controlo,
e eles são escolhidos sem medo de se perder.
O Nós consciente não exige renúncia de ser individual,
mas maturidade:
a capacidade de permanecer autêntico e, ao mesmo tempo, colaborar em uma dança comum.
Nós como caminho de expansão
Nem todos os casais vêm para percorrer o mesmo tipo de estrada.
Algumas chegam para curar feridas.
Outras para mostrar limites.

E algumas - muito poucas - para expandir a consciência através do vínculo.
Mas todas, absolutamente todas, fazem parte do mesmo processo evolutivo da alma.
Porque embora o crescimento individual seja importante,
a maior expansão ocorre em relação.
O outro é o espelho mais honesto que existe.

Nele vemos nossa sombra refletida,
nossas feridas, nossas reações e nossos medos.
E também a nossa capacidade de amar, perdoar e sustentar.
Hoje, como humanidade, estamos atravessando uma fase de transição.

É por isso que há tantas separações, tantos conflitos entre homens e mulheres.
tanta confusão sobre amor, poder e papéis.
Não é o fim do amor. é o início de uma nova forma de amar.
Todas as sombras que não foram resolvidas nos laços antigos. estão vindo à luz para serem integradas.
Estamos aprendendo coletivamente passar do amor baseado na necessidade, ao amor baseado na consciência.
Alquimia interior:
o nascimento da criança alquímica
Para alcançar esse amor consciente,
cada alma deve fazer o seu próprio trabalho.
Antes de construir um Nós, temos que parir o nosso próprio menino alquímico. essa parte pura e criadora da alma
que não reage mais desde a ferida, mas responde pela verdade.
Esse nascimento interior acontece quando o masculino e o feminino internos param de brigar entre si e começam a colaborar.

Quando o impulso e intuição, ação e sensibilidade,
são reconhecidos como aliados.

Este processo está descrito em
todas as tradições:

• Na alquimia hermética, chama-se filius philosophorum, o Filho dos Filósofos.
• No tantra budista (Vajrayana), é a bodhichitta, a mente desperta que surge da união entre upaia (método) e prajna (sabedoria).
• No cristianismo místico, é o Cristo interior, a criança divina nascida da alma (Maria) e o Espírito (Logos).
• Na Kábalah, é Tiféret, o filho que equilibra misericórdia e severidade.
Todas as culturas compreenderam: quando a dualidade interior se reconcilia,a alma lembra sua luz original.
Amor como prática sagrada
Só quando ambos fizeram aquele trabalho interior,
pode nascer um Nós real:
uma terceira consciência viva, sustentada por dois seres completos.
Esse Nós não se alimenta da necessidade, mas do propósito.
Não procura completar-se, mas servir o Dharma juntos.
manifestar beleza e sustentar a chama do Espírito na Terra.

Nem todos são chamados a
percorrer este caminho.

E isso também é bom.
Todo laço tem seu propósito.
Mas para aqueles que já percorreram o suficiente dentro de si, o amor se torna uma prática sagrada, uma co-criação consciente entre duas almas acordadas.

Talvez esse seja o paradigma da nova humanidade:
entender que o amor não morre,
Apenas evolua.

Que a alma não foge do outro,
mas usa-o como espelho para parecer mais clara.

E que o que antes chamávamos de "sacrifício"
hoje podemos chamá-lo pelo nome verdadeiro:

transformação!

Comentários