A descristianização da Maçonaria

 

igreja católica, maçonaria

Se Deus segurasse em Sua mão direita toda a verdade, e em Sua mão esquerda a perene busca pela verdade, embora com a condição de que eu deva para sempre errar, e me dissesse: Escolha”, humildemente eu escolheria a mão esquerda e diria: Dai-me, Senhor! A verdade pura é para Vós somente!”.

Gotthold Lessing

Brevíssimos apontamentos sobre o Salmo 132

SALMO 132 – Vulgata de São Jerónimo ou SALMO 133 – conforme marcação do texto em hebraico

BÍBLIA DE JERUSALÉM, 5a IMPRESSÃO, 2008
EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO
CAPÍTULO 1, 1-5

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.”

Com a leitura desses versículos, preparava-se a abertura ritualística das Lojas Referido Evangelho era tido como “(…) símbolo máximo do Cristianismo dentro da Maçonaria. 

E seu uso pelos Maçons Primitivos, acabou por dar à Maçonaria ou às Lojas – o título de Maçonaria ou Lojas de São João (…)” (pp. 42-43 do livro A DESCRISTIANIZAÇÃO DA MAÇONARIA, DE ASSIS CARVALHO, 1ª edição, editora A Trolha, 1997)

E assim permaneceu até que sobreveio a reforma empreendida pelo Irmão Albert Pike, “(…) líder norte-americano da Maçonaria do Rito Escocês, maçom do 33° grau e autor de um enorme manual maçónico (…). Era Grão-Mestre de um grupo luciferiano conhecido como Ordem do Paládio (ou Conselho Soberano de Sabedoria), que tinha sido fundado em Paris em 1737. 

O rito reverenciava o templário Baphomet (…)” (p. 336 do livro A HISTÓRIA SECRETA DO OCIDENTE, DE NICHOLAS HAGGER, edição, editora Cultrix, 2010)

Com a publicação da obra MORAL E DOGMAS, o Soberano Grande Comendador promoveu uma reviravolta, rompendo com a característica predominante do Rito Escocês Antigo e Aceito, aquilo que o distinguia e o revelava: sua natureza TEÍSTA

Ao final dessa breve comunicação, reproduzo o trecho da carta de Albert Pike dirigida a Giuseppe Mazzini, filósofo, político e maçom italiano, considerado o sucessor de Adam Weishaupt, fundador da Ordem dos Perfeitos”, mais conhecida como Illuminati.

Segundo alguns autores, o motivo que levou à descristianização da Maçonaria, portanto à ruptura com o TEÍSMO e o consequente avanço rumo ao DEÍSMO, residia na tentativa de preservar a sociedade maçónica de qualquer conotação religiosa.

Segundo o escritor Assis Carvalho, isso se deu sobretudo a partir de 1723 com a criação do 3° Grau (o grau de Mestre). Com a instituição desse novo estágio, elementos até então estranhos à Arte Real foram introduzidos, acentuando e acelerando assim o processo de descristianização. Inúmeras e variadas foram as correntes de pensamento que influenciaram essa transfiguração, convergindo para tanto desde a filosofia e religião judaicas até os princípios advindos das escolas esotéricas, ocultistas, hermetistas e teosofistas. 

É relevante frisar, posto que é fato incontroverso, que até aquele momento não se falava ou praticava a INICIAÇÃO MAÇÓNICA como a conhecemos hodiernamente, sendo o Candidato tão-somente recepcionado como um novo sócio ou membro.

Historicamente, até o final do século XVII e início do século XVIII, a Maçonaria era em sua totalidade CRISTÃ

E ainda hoje a prática TEÍSTA prevalece no rito de York em suas versões inglesa e americana e no ritual de Emulação, sem nos esquecermos do Rito Escocês Rectificado, de cunho puramente católico.

No Rito Escocês Antigo e Aceito, DOGMATIZADO hoje como está, a marca que prepondera, qualificando-o, revela sua natureza SINCRÉTICA, sobretudo a partir das mudanças empreendidas pelo escritor americano Albert Pike, como alhures mencionado.

Se não, vejamos: 

ao nos ajoelharmos, praticamos um acto tipicamente TEÍSTA. O juramento é igualmente TEÍSTA. A expressão GADU possui característica dúplice: DEÍSTA e TEÍSTA. O uso da Espada Flamejante sobre a cabeça do Recipiendário guarda uma conotação claramente DEÍSTA, de cunho pagão.

Assis Carvalho assevera que esses exemplos demonstram a salada em que se transformou o Rito Escocês no Brasil” (IDEM, p. 118).

Para os defensores do DEÍSMO, as religiões REVELADAS – judaísmo, cristianismo e islamismo, deveriam ser descartadas como uma ficção. 

Para eles, a verdadeira religião seria a expressão da natureza humana universal, cuja essência é a razão e é a mesma em todos os tempos e lugares. 

O termo veio a significar, segundo o Professor William Wainwright, da Universidade de Winsconsin, a crença em um DEUS AUSENTE” que cria o mundo, ordena suas leis, e depois deixa-o entregue a si próprio. 

Essa compreensão da divindade em verdade a anula, gerando como consequência a ENTRONIZAÇÃO DO HOMEM, validando o ANTROPOTEÍSMO como religião do homem, suficiente por si só. 

Essa versão gnóstica da metafísica, que pretende erigir o homem em Deus, apresenta o panteísmo, que por definição exclui a ideia de uma Divindade transcendente, como solução universal. 

Para os defensores desse neopanteísmo, a Divindade seria imanente ao universo e se confundiria com ele. 

A Matéria seria eterna e constituída por dois princípios contrários e iguais, que ocasionariam a evolução contínua do mundo da pedra bruta para a vida vegetal, desta para o mundo animal, e este para o homem.

As principais tradições TEÍSTAS – judaísmo, cristianismo e islamismo, entendem que DEUS é algo parecido com um ser pessoal, eterno, livre, omnipotente, omnisciente, criador e sustentáculo do universo, sendo o objecto adequado da obediência e da adoração humanas. 

De acordo com santo Tomás de Aquino, a existência de Deus e algumas coisas a respeito da natureza divina podem ser provadas pela razão humana, mas algumas doutrinas nitidamente cristãs como a Santíssima Trindade e a Encarnação não podem ser provadas deste modo, sendo conhecidas somente porque Deus as revelou. 

Os argumentos cosmológicos, teleológicos e morais, individualmente tomados, aumentam a probabilidade da existência de Deus, escreveu o filósofo inglês Richard Swinburne, professor da Universidade de Oxford. 

Quando acontecimentos milagrosos e de experiências religiosas é acrescentada à balança, Swinburne conclui que o TEÍSMO se torna mais possível que sua negação. 

Esteja ele certo ou errado, o fato é que realmente parece ser inteiramente correcto levar em consideração a racionalidade da crença TEÍSTA à luz dos inúmeros indícios!

TRADUÇÕES DO SALMO 132 – Vulgata de São Jerónimo ou SALMO 133 – conforme marcação do texto em hebraico

Apresento aos Irmãos algumas versões disponíveis em língua portuguesa, principiando com as traduções protestantes:

Almeida Corrigida e Revisada Fiel:

Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hérmon, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.

Almeida Revisada Imprensa Bíblica:

Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hérmon, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre.

Nova Versão Internacional:

Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de Arão, até a gola das suas vestes. É como o orvalho do Hérmon quando desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre.

Almeida Corrigida e Fiel:

Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hérmon, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.

Abaixo as traduções católicas:

Bíblia de Jerusalém, havida hoje por teólogos de confissões religiosas variadas como a melhor Bíblia de estudos e com a tradução mais fidedigna:

Vede: como é bom, como é agradável habitar todos juntos, como irmãos. É como óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão, descendo sobre a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hérmon, descendo sobre os montes de Sião; porque aí manda Iahweh a bênção, a vida para sempre.

Bíblia Ave Maria:

Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. 2. É como um óleo suave derramado sobre a fronte, e que desce para a barba, a barba de Aarão, para correr em seguida até a orla de seu manto. 3. É como o orvalho do Hérmon, que desce pela colina de Sião; pois ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna.

Bíblia da CNBB:

Oh! como é bom, como é agradável os irmãos morarem juntos! 2. É como óleo precioso sobre a cabeça, que escorre pela barba, pela barba de Aarão, e desce sobre a gola do seu manto. 3. É como o orvalho do Hérmon, descendo sobre os montes de Sião. Pois é lá que o SENHOR dá a bênção e a vida para sempre.

Bíblia Sagrada traduzida da Vulgata e anotada pelo Padre Matos Soares:

Oh! Quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união! É como o azeite precioso derramado na cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, que desce sobre a orla do seu vestido; é como o orvalho do Hérmon, que desce sobre o monte Sião: porque o Senhor derrama ali sua bênção, a vida para sempre.

Os trechos bíblicos acima citados, cada qual com seus elementos de distinção – o Evangelho de São João, claramente TEÍSTA, enquanto o Salmo 132 – Vulgata de São Jerónimo ou Salmo 133 – conforme marcação do texto em hebraico, flagrantemente DEÍSTA, aponta-nos a razão pela qual não mais iniciamos os trabalhos nas maiorias das Oficinas com a leitura do Evangelho de São João. 

As reformas empreendidas claramente produziram uma quinada de natureza DEÍSTA, a despeito das CONSTITUIÇÕES DE ANDERSON apresentarem o TEÍSMO como marca distintiva dos franco-maçons (IN As obrigações de um franco-maçom, item I).

O tema DESCRISTIANIZAÇÃO DA MAÇONARIA foi aqui apenas pincelado. 

Como Neófito, limitado pela pouca leitura e insuficiente bibliografia, espero não ter tornado o assunto ainda mais obscuro. 

E não é do interesse daquele que escreve servir-se da obscuridade para com isso conquistar a atenção dos ouvintes. 

Como asseverou Heráclito, os tolos só estimam e admiram o que se lhes apresenta em termos enigmáticos”. 

Esforcei-me para tornar minhas ideias inteligíveis, ainda que precariamente, sobretudo em razão do objecto do presente estudo.

Avaliem-me com generosidade. Corrijam-me sempre. Estimulem-me com abundância.

Luiz André Barra Couri – ARLS Antenor Ayres Vianna – Grande Oriente de MG

Adenda

Trecho da carta escrita por Albert Pike e dirigida a Giuseppe Mazzini em 15 de Agosto de 1871. Esta missiva esteve exposta por um breve período de tempo no British Museum Library” de Londres, em 1925:

“Vamos pôr à solta os niilistas e ateístas e provocar um formidável cataclismo social que, em todo o seu horror, mostrará claramente às nações o efeito do ateísmo absoluto, origem da selvageria, e do mais sangrento tumulto. Em toda a parte, os cidadãos, obrigados a se defender contra a minoria mundial de revolucionários, exterminarão esses destruidores da civilização. A multidão, desiludida com o Cristianismo, cujo espírito deístico estará daí em diante sem bussola, ansioso por um ideal, mas sem saber onde depositar sua adoração, receberá a pura luz (…) de Lúcifer, trazido finalmente à visão pública, uma manifestação que resultará do movimento reaccionário geral que se seguirá à destruição do Cristianismo e do ateísmo, ambos subjugados e exterminados ao mesmo tempo”

(IN A História Secreta do Ocidente, pp. 336-337, de Nicholas Hagger, 1a edição, editora Cultrix, 2010)

Adenda

Em resposta à questão apresentada pelo jornalista se se deveria ser tolerante inclusive com a reorganização da Ku Klux Klan, assim se pronunciou o Professor negro norte-americano, Walter Williams, da Universidade George Manson, na Virgínia:

“Sim, desde que não saiam matando e linchando pessoas, tudo bem. O verdadeiro teste sobre nosso grau de adesão à ideia da liberdade de associação não se dá quando aceitamos que as pessoas se associem em torno de ideias com as quais concordamos. O teste real se dá quando aceitamos que se associem em torno de ideais que julgamos repugnantes. O mesmo vale para a liberdade de expressão. É fácil defendê-la quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas.”

Comentários