Hermes Trismegisto: O Triplo Mestre do Verbo e do Silêncio (Por Mtro Oscar Israel Rubio Medrano)

 

Personagem chave na arte real, Hermes assim como suas obras é importante para o iniciado na busca de tudo, todas as escolas iniciativas atribuem sua linhagem à Nadia e a todos pertence mas no final um símbolo com vários ramos

Eu. Introdução:
o enigma do três vezes grande

Hermes Trismegisto — “o três vezes grande Hermes” — é uma figura liminar, suspensa entre a história e o mito, entre a teologia e a magia, entre a sabedoria sacerdotal e a filosofia inicática. Seu nome funde duas tradições: Hermes grego, mensageiro dos deuses, e Thot egípcio, escriba divino e guardião da palavra criadora.

O epíteto Trismegisto refere-se à sua tripla grandeza: mestre da sabedoria, da palavra e da ação; ou, em chave inicática, pensamento, verbo e obra. No seu ensino condensa o mistério da unidade entre espírito, alma e matéria.

Os três Hermes:
Egípcio, Grego e Alquímico-Alexandrino

1. O Hermes egípcio
O primeiro dos três Hermes é Thot, deus Ibis ou lunar da escrita sagrada, inventor da linguagem e das ciências. Nos templos de Hermópolis, ele era venerado como mediador entre os deuses e os homens, escriba dos decretos celestes e juiz das almas.
Para os iniciados do Vale do Nilo, Thot representava a sabedoria sacerdotal, a ciência da ordem cósmica (Maat) e o poder do verbo que cria e mantém a harmonia universal. Dele derivou a ideia do Livro dos Mortos como guia simbólico de iniciação.
2. O Hermes grego
O segundo Hermes, o Hermes helênico, foi reinterpretado pelos filósofos como o deus da inteligência, do logos e do trânsito entre os mundos. Sua figura tornou-se um símbolo do intelecto mediador, do mensageiro que une o humano e o divino.
No pensamento pitagórico e platônico, Hermes representa a razão iluminada, o espírito que guia a alma das sombras da matéria para a contemplação das ideias. É, portanto, o arquétipo do filósofo-iniciado que traduz o eterno em linguagem humana.
3. O Hermes alquímico-alejandrino
O terceiro Hermes é o Hermes alquímico ou alexandrino, nascido do sincretismo cultural de Alexandria, onde as tradições egípcia, grega e oriental se confluíram numa única escola de sabedoria.
Este Hermes é autor lendário do Corpus Hermeticum, da Tábua de Esmeralda e de textos sobre alquimia, astrologia e teúrggia. Representa a fusão do conhecimento sagrado e científico, onde matéria e espírito são reconhecidos como reflexos do Um.
Sua doutrina — “O que está acima é como o que está abaixo” — tornou-se o eixo de toda filosofia hermética e alquímica. Aqui Hermes já não é apenas deus ou sábio, mas o princípio da transformação universal.

Perspectiva hermenêutica:
o intérprete do símbolo
A hermenêutica, cujo próprio nome provém de Hermes, reconhece nele o arquétipo do mediador do sentido. O ato de interpretar é hermético porque busca revelar o invisível por trás dos sinais.
Hermes é o mestre do verbo criador e do silêncio fecundo: ambos necessários para que o mistério se faça palavra. A partir desta abordagem, cada texto sagrado, cada símbolo maçônico, cada palavra ritual é uma porta hermética para a compreensão do eterno.

Perspectiva hermética e esotérica:
a ciência da unidade
O Corpus Hermeticum apresenta um sistema filosófico onde o universo inteiro é manifestação do Nous ou Mente Divina. O homem, microcosmo desse macrocosmo, pode elevar-se para a fonte através do conhecimento interior.
Este ensinamento é a raiz da alquimia espiritual: transmutar a ignorância em sabedoria, o chumbo do ego no ouro do espírito. A Tabela de Esmeralda sintetiza esta doutrina com a afirmação de que “tudo vem de uma coisa pela vontade do Um”.
O hermetismo, portanto, é uma mística racional: combina ciência, filosofia e teologia em um único caminho para a gnose.

Perspectiva histórico-lendária:
a continuidade do mito
Dos textos egípcios ao Renascimento, Hermes foi reinterpretado como patriarca da sabedoria primordial. Filon, Lactâncio e Marsilio Ficino consideraram-no precursor de Platão e Moisés; para os rosacruzes e os maçons ilustrados, foi o pai das ciências ocultas e do simbolismo universal.
A lenda afirma que escreveu 36.000 volumes sobre todas as artes divinas e humanas escondidas nos templos do Egito. Além do mito, Hermes representa a cadeia ininterrupta do conhecimento inicático, transmitido de mestre para discípulo ao longo dos séculos.

Perspectiva mágico-esotérica:
o verbo criador e a teúrgia
No plano mágico, Hermes é o senhor do verbo eficaz, da theurgia, a arte de agir segundo as leis divinas. A verdadeira magia hermética não manipula, mas harmoniza a vontade humana com a vontade Universal.
Os símbolos do caduceo, do olho solar e da serpente dupla aludem ao equilíbrio das forças opostas, ao domínio da alma sobre o caos interior.
O adepto hermético — como o maçom em sua oficina — cria ordem no microcosmo, refletindo assim a obra do Grande Arquiteto no universo.

Perspectiva Maçônica:
Hermes e o Verbo Perdido.

Na Maçonaria Filosófica, Hermes Trismegisto é símbolo do sábio iniciado, do intérprete dos mistérios.

Sua tripla grandeza reflete-se nas três colunas do templo:

Sabedoria, Força e Beleza;
ou nos três graus simbólicos que levam
à descoberta do Verbo.

Sempre perdemos a palavra
e estamos em sua busca...
O Corpus Hermeticum é, de certa forma, um tratado de iniciação: o homem que busca a luz interior deve morrer simbolicamente à ignorância e renascer na consciência do Um.
Hermes é o antecessor espiritual de Hiram,
o guardião do segredo que só
o coração puro pode receber.

O Kybalion:
eco moderno do hermetismo
Em 1908, três iniciados anônimos — os chamados Três Iniciados — publicaram El Kybalion, síntese moderna do pensamento hermético. Embora não pertença ao hermetismo clássico, o seu propósito foi reacender os princípios fundamentais da filosofia de Hermes Trismegisto.
O Kybalion enuncia sete princípios universais:
1. Mentalismo – Tudo é mente; o universo é mental.
2. Correspondência – O que está em cima é como o que está em baixo.
3. Vibração – Nada descansa; tudo vibra.
4. Polaridade – Tudo tem seus opostos.
5. Ritmo – Tudo flui e reflui.
6. Causa e efeito – Nada acontece por acaso.
7. Gênero – Tudo tem princípio masculino e feminino.
Estes axiomas, embora expressos em linguagem moderna, retomam a essência do princípio hermético de unidade e equilíbrio. Neles se resume a arte de viver segundo a lei cósmica.

Para o iniciado contemporâneo, o Kybalion funciona como ponte entre a filosofia antiga e a psicologia moderna, entre a alquimia interior e a ciência do pensamento.

Conclusão:
Hermes como espelho do Iniciado
Os três Hermes representam os três graus do conhecimento humano:
• O Hermes egípcio, a sabedoria ritual e sacerdotal.
• O Hermes grego, a razão iluminada.
• O Hermes alquímico-alejandrino, a síntese de ambos em uma gnose universal.
Seu ensinamento é eterno:
conheça a si mesmo
e conhecerá o universo e os deuses.

No coração do iniciado, a Tábua de Esmeralda brilha como espelho da alma.

Lá o homem se reconhece
como o verdadeiro templo onde
o Verbo perdido se pronuncia novamente.


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