
A Maçonaria especulativa é baseada no uso de símbolos como ferramentas para introspecção moral, especulação filosófica e desenvolvimento pessoal. Esses símbolos são projetados para estimular a reflexão crítica e o crescimento ético, servindo como uma ponte entre o indivíduo e os mais altos ideais de fraternidade. No entanto, em alguns espaços maçônicos, surgiu um fenômeno preocupante: a simbolatria. Este termo refere-se à prática de atribuir aos símbolos maçônicos significados religiosos, mágicos e místicos que distorcem seu propósito original e ameaçam transformar a Maçonaria em um sistema dogmático e excludente.
Neste post, analisaremos a natureza da simbolatria, discutiremos seu impacto negativo na prática maçônica e exploraremos a diferença entre o estudo legítimo do esoterismo e a imposição de sincretismos e conteúdos exógenos como verdades inquestionáveis dentro dos espaços maçônicos.
Idolatria e simbolatria: uma distinção necessária
É importante distinguir entre idolatria e simbolatria para entender os desafios que esta última apresenta dentro da Maçonaria.
A idolatria, em sua definição clássica, é a veneração excessiva de ídolos ou imagens, atribuindo-lhes um poder que não lhes corresponde.
Em contraste, a simbolatria, no contexto maçônico, não é simplesmente uma adoração excessiva de símbolos, mas se manifesta quando esses símbolos são investidos de significados religiosos ou místicos que prejudicam sua função original.
Em vez de serem usados como ferramentas para reflexão moral, especulação filosófica e autodescoberta, os símbolos tornam-se objetos de interpretações esotéricas e dogmáticas que carecem de uma base verificável e restringem toda a atividade do pensamento livre.
Isso não apenas banaliza o simbolismo maçônico, mas também transforma a prática maçônica em um sistema fechado e rígido, onde qualquer interpretação alternativa ou racional é impedida.
O estudo do esoterismo vs. a divinização de ritos e símbolos
É crucial enfatizar que uma coisa é apresentar uma prancha contendo informações esotéricas e outra bem diferente é divinizar os ritos e símbolos maçônicos.
Em uma loja, é perfeitamente legítimo decidir estudar esoterismo como forma de enriquecer o conhecimento e a compreensão dos maçons sobre assuntos mais amplos.
O esoterismo pode oferecer insights valiosos sobre cultura e simbolismo que, em muitos casos, podem complementar o aprendizado maçônico.
Fundamentalismo simbólico: uma ameaça à maçonaria
O fundamentalismo simbólico surge como uma das manifestações mais preocupantes dentro da simbolatria e representa um desafio direto à essência especulativa da Maçonaria.
Esse fenômeno ocorre quando certos grupos, seja dentro de uma loja, corpo filosófico ou obediência, adotam uma interpretação dogmática dos símbolos maçônicos.
Essa prática não apenas distorce o propósito original dos símbolos, mas também transforma a Maçonaria em um espaço fechado e excludente, onde o pensamento crítico e a diversidade de perspectivas são sufocados
É importante notar que a Maçonaria, como instituição, respeita profundamente a diversidade de crenças entre seus membros.
Um maçom pode ser um católico praticante, um judeu praticante, um agnóstico ou um ateu e, em todos os casos, sua posição merece a mais absoluta consideração.
De fato, constitui uma falta de respeito fundamental quando, dentro dos espaços maçônicos, dogmas específicos são impostos a outros, como afirmar que “a verdade está na angelologia”, “na cristologia” ou “na Cabala”.
Tal imposição não apenas desonra a diversidade espiritual dos irmãos, mas também infringe o princípio maçônico da liberdade de pensamento.
O fundamentalismo simbólico, ao promover uma interpretação fechada dos símbolos, aliena os irmãos que não compartilham tais visões, criando divisões dentro da fraternidade.
Em vez de promover um ambiente de inclusão e diálogo, essa abordagem gera exclusão e confronto, prejudicando a coesão da loja e distanciando-a de seu propósito fundamental: o desenvolvimento moral e intelectual de seus membros por meio do pensamento livre e da reflexão crítica.
Simbolatria e exclusão: bullying maçônico
Um dos efeitos mais perniciosos da simbolatria é sua tendência de promover a exclusão e o assédio dentro dos espaços maçônicos.
Quando certos grupos adotam interpretações esotéricas como verdades absolutas, eles marginalizam aqueles que não compartilham suas crenças, criando um ambiente de intolerância que é incompatível com os princípios de igualdade e liberdade de pensamento que são fundamentais para a Maçonaria.
Simbolatria e livre-pensamento: uma relação antagônica
A simbolatria é, por sua própria natureza, incompatível com o livre- pensamento, um valor essencial da Maçonaria.
O livre-pensamento é a capacidade de formular julgamentos e opiniões com base na razão, evidências e reflexão pessoal, sem estar sujeito a dogmas pré-estabelecidos.
Ao impor suas interpretações místicas como verdades imóveis, os simbólatras negam essa liberdade, restringindo a capacidade dos irmãos de interpretar os símbolos de forma crítica e pessoal.
Essa imposição de sincretismos exógenos aos princípios maçônicos tradicionais não apenas distorce o propósito dos símbolos, mas também impede que a ordem funcione como um espaço para o pensamento livre e o debate aberto.
Isso é especialmente problemático em um contexto em que a Maçonaria deve promover o desenvolvimento moral e intelectual de seus membros por meio da reflexão livre e crítica.
É essencial que os maçons rejeitem a simbolatria e qualquer forma de sincretismo que imponha doutrinas exógenas ao conteúdo da Maçonaria.
Somente reafirmando nosso compromisso com a Maçonaria como espaço para o exercício do livre pensamento, podemos garantir que a fraternidade continue sendo um farol de liberdade, igualdade e progresso moral e intelectual para todos os seus membros.
Publicado originalmente em: Fil-Infos-Loges
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