O APRENDIZ: DESENVOLVIMENTO, LIMITAÇÕES E ASPIRAÇÕES

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      Antes de iniciar a falar sobre o “desenvolvimento, limitações e aspirações” de um Aprendiz Maçom, necessário é definir, se possível, o que significa a palavra Aprendiz. Parafraseando Searle, as palavras tem sentido dentro de um contexto; logo,, a palavra Aprendiz tem um significado quando aplicada em um contexto profano e outro no contexto Maçom.
    No primeiro contexto Aprendiz é aquele que aprende uma arte, novato, principiante. Ou seja, aquele que está no princípio. Filosoficamente, o Aprendiz está vinculado ao “Aprendizado”. Como ensina Nicola Abbagnano, o primeiro a trabalhar a noção de “Aprendizado” foi Platão, que definiu em sua teoria da “anamnese”:
    Sendo toda a natureza congênita e tendo a alma aprendido tudo, nada impede quem se lembre de uma só coisa – que é o que se chama aprender – encontre em si mesmo todo o resto, se tiver constância e não desistir da procura, porque procurar e aprender nada mais são do que reminiscência. 
    Já no ambiente maçônico tem maior sentido a definição de Aprendiz, pois recebe ela “significantes” que decorrem do “contexto” próprio que a própria definição está inserida. Ser Maçom significa ter deveres, como ensina Rizzardo da Camino quando em seu livro “Simbolismo do Primeiro Grau” diz..
    [...], e que se admitido Maçom encontrará nos símbolos maçônicos a realização do dever, pois o Maçom não combate somente as próprias paixões, trabalhando para a autoperfeição, mas aos outros inimigos da humanidade, quais sejam os hipócritas que enganam, os pérfidos que defraudam, os ambiciosos que a usurpam e os corruptos e sem princípios, que abusam da confiança dos povos; a estes não se combate sem preparo prévio e sem perigos.
    Em síntese, ser Aprendiz Maçom significa ir para além da racionalidade profana, chegando em um “entre-lugar”, ou seja, um lugar diferenciado, mas inserido nesta sociedade, não fora dela. O Maçom não pode se afastar da busca da “[...] justiça e da retidão que regem todos os atos de quem, realmente, tem consciência de ser maçom.”
    Para buscar a retidão e a justiça, o Maçom inicia-se na caminhada por meio do seu ingresso no Grau de Aprendiz, pois deve ser a partir desse “entre-lugar” que ele inicia a busca do seu aprimoramento interno e com isso fazer com o Recipiendário se aperfeiçoe e a sociedade que vivemos torne-se melhor.
    O Aprendiz Maçom ao ingressar na Ordem passa a ser um “[...] obreiro do Grande Arquiteto do Universo [...]” para desenvolver-se apresentando trabalhos e sendo ministrado pelo corpo administrativo da Oficina. É a partir destes trabalhos e das instruções que o Aprendiz Maçom desenvolve o “[...] aperfeiçoamento moral e intelectual [...]”. Logo, o desenvolvimento do Aprendiz Maçom se dá em volta de um aprimoramento pessoal e intelectual para que seja aplicado no seu cotidiano. 
    Esse primeiro grau da Ordem Maçônica é consagrado a “Fraternidade”, com  o objetivo que é a “união de toda a humanidade”. Neste grau o Aprendiz dedica-se a aprender os fundamentos da Maçonaria, com o foco no aprendizado da filosofia, dos símbolos, das alegorias, da ritualística, da doutrina, sendo que com eles busca então o seu “aprimoramento interior”.  
    A condição de Aprendiz denota limitações, dentre tantas que podia citar, pois somos seres humanos e por tal natureza somos limitados. Todavia, para delimitar o trabalho necessário que seja indicada, dentro de um recorte, que é a principal identificada pela doutrina. A maior limitação do Aprendiz Maçom é a “Luz” que vê ao ser iniciado. Ela é um fenômeno que ele não consegue ver na sua totalidade, tão pouco enxergar tudo aquilo que está em sua volta. Faz lembrar a “Alegoria da Caverna”, de Platão. Nela, pessoas estão trancafiadas desde a infância, trancadas estão por grilhões em suas pernas e também pescoço, pois se quer podiam virar o rosto para ver de onde estava vindo a “Luz”. Sendo essa a que incide em objetos, e por cima de um muro reflete em sua frente imagens distorcidas, essas que tem eles como própria imagem dos objetos que conhecem porque ali estão desde a infância. 
    Imagina Platão, narrando a história, se um destes trancafiados fosse solto, haveria a quebra do paradigma da imagem dos objetos que só conhecia por meio da imagem projetada e que não é a imagem real dos objetos. A quebra do paradigma só ocorreria se fosse dado àquela pessoa o conhecimento daquilo que não conhecia, a não ser pela imagem refletida. Mas a limitação está na falta de condição de conhecer os objetos e para isso necessária que fosse tomada a “Luz” de forma progressiva.
    Precisava de se habituar se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objetos, refletida na água, e, por último, para os próprios objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que fosse o Sol e o seu brilho de dia. 
    Iniciado, o Aprendiz consegue se soltar dos “grilhões” que os prende pelas pernas e pelo pescoço e, a partir de então, começa a lutar pela quebra do paradigma, qual seja, a de ultrapassar as barreiras imaginárias da caverna e das condições impostas por aquele mundo a qual estavam vivendo. Mundo de limitação, mundo de coisas impostas e postas pela imagem refletida na parede da caverna como sendo ela verdade absoluta. O Aprendiz foi solto e vai ao encontro da “Luz”, pois quer conhecer aquela imagem que tinha em sua retina de forma distorcida, todavia tem dificuldade por que está apenas no início da caminhada.
    A maior dificuldade é a falta de compreensão, pois nem tudo que vê entende. A limitação do Aprendiz Maçom está no próprio grau que ele se encontra na Ordem, pois é o primeiro grau. Logo, a limitação é imposta pela falta de vivência Maçônica que com o tempo naturalmente ocorrerá. Essa limitação aliada à própria origem profana do Aprendiz faz com que mesmo vendo a “Luz” não a entenda, pois não tem conhecimento de mundo para tanto. Quanto às aspirações do Aprendiz Maçom, no recorte proposto, uma delas e a principal ao meu entendimento é o aprimoramento pessoal. A outra é galgar os graus existentes na própria Ordem por que se existe o primeiro grau, decorrência lógica, é por que existem outros mais.
    Mas o mais importante não é o galgar (de)graus apenas, ma sim o aprimoramento com a subida deles, vivencias e ensinamentos de cada um é o que importa. Como ensina Compte-Sponville, ninguém será mais o mesmo após banhar-se num rio e nem o rio será mais o mesmo após o decorrer do tempo. A busca do crescimento individual, do entendimento sobre a sublime Ordem Maçônica, que tem seus alicerces na fraternidade, na liberdade e na isonomia, o entender a tudo isso se torna a principal aspiração do Aprendiz.
    Ao fim o desenvolvimento é uma constância, e mesmo que não queiramos seremos mais desenvolvidos por conta do tempo passado e do ingresso na Ordem. Estamos inseridos em um grupo que pela convivência, pelas experiências de cada um, e nos trabalhos da Loja, passamos a fazer parte de um “todo”, sendo que este “todo”, nas palavras de Francesco Carnelutti, é demais para nós, ou seja, é demais para a nossa compreensão, logo, o crescimento é intrínseco ao grupo. Quem está no grupo está crescendo.
    Já as limitações decorrem da própria natureza humana que é imperfeita e, também, do “todo” relatado que não conseguimos compreender.
    Quanto às aspirações, são sempre renováveis e presentes no caminho da vida.

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    1. A iniciação do aprendiz

      Ela pressupõe a transmissão, no seio de uma comunidade iniciática, de um “segredo” por meio de símbolos expressos por um ritual que fará de um profano um verdadeiro iniciado ao grau de Aprendiz maçom. A primeira das qualidades que faz com que o iniciado (Aprendiz Maçom) seja reconhecido como tal, é, sem dúvida, a aquisição e a prática de valores morais. Estes valores situam-se em um palno geral, e vão muito além do que é certo ou errado. Para participar nesta cerimônia de recepção, o profano vem, voluntariamente, buscar conhecimento e luz, que farão dele a personagem ativa de sua aprendizagem por meio de ritos iniciáticos. É por uma sucessão simbólica de mortes e ressurreições que a iniciação torna-se uma passagem do tempo ao não tempo. O iniciado aprendiz maçom, ao final de suas mortes e ressurreições simbólicas torna-se cada vez mais presente no outro mundo, este mundo oposto ao mundo da aparência e do ciclo temporal.

      O renascimento

      O iniciado, durante a sua iniciação deve operar sobre si mesmo uma transmutaçã parecida com aquela dos alquimistas. Compete ao futuro aprendiz executar a primeira parte com o ritual do grau que traça para ele um programa fiel de operações a realizar para esta finalidade. O caminho iniciático em direção do qual o iniciado avança repousa sobre valores fundamentais essenciais, sem os quais é impossível perceber e experimentar o sagrado, com força e verdade. O iniciado possui apenas parcialmente esses valores. O profano para se tornar um aprendiz maçom deve assim ser iniciado. Ele é introduzido pela primeira vez em um lugar isolado para refletir e se despojar de todos os metais. O homem que quer ser livre deve se desapegar de coisas frívolas. Sem fazer voto de pobreza, é importante lembrar que a ganância é o pivô de todos os vícios.



      O número 3

      É assim que o Aprendiz Maçom será reconhecido por seus irmãos quando lhe for perguntado onde foi recebido, ele responderá: em uma loja justa e perfeita. Esta resposta está na ciência fundamental. A iniciação maçônica ensina que a loja onde o homem foi recebido é a sua forma corporal, que é o Templo da sua inteligência. Esta forma tendo em sua origem o número 3, que expressa especificamente os três princípios fundamentais simples de qualquer corporatization chamados enxofre, sal e mercúrio, e portanto corpo do homem se origina como todos os outros corpors da natureza elementar. Estes três princípios se manifestam nas diferentes substâncias que o compõem, e é com razão que se reconhece a presença do enxofre ou do fogo no fluido chamado sangue; aquele do Princípio sal ou água salgada nas partes moles ou insensíveis; e o do mercúrio ou terra nas partes sólidas ou obscuras. Neste sentido estritamente verdadeiro 3 formam a loja do homem, isto é, o seu envelope material.

      Este número e outros são onipresentes na Maçonaria. Diz-se também, por outro lado, ao aprendiz maçom “não se esquecer de que para aperfeiçoar o seu conhecimento é preciso consultar as Escrituras.” Pois quem quer que bebe da fonte que é a Escritura pode compreender a verdadeira natureza do sagrado e seu simbolismo e, assim, entrar na busca humana do desejo de descobrir a Verdade, eis aqui o propósito do aprendiz maçom recém-iniciado.

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