LITURGIA E RITUALISTICA

Rito é o cerimonial próprio de um culto, ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia; por extensão, designa culto, religião, seita.

Ritual é tudo o que é relativo a rito, ou que contém ritos; é também, o livro que contém a ordem e a forma das cerimônias, religiosas ou não, com as palavras (ou, também, orações) que devem acompanhá-las; mais extensamente, refere-se a qualquer cerimonial ou a um conjunto de regras a seguir.

Ritualística é tudo aquilo que é relativo ao ritual, ao rito, ou ao ritualista. Não pode ser confundido com ritualismo, que é o sistema dos que se apegam a ritos, (como ritualista é aquele que é apegado a ritos).

Liturgia é termo mais aplicado à religião e designa a forma e a ordem, aprovadas pela autoridade eclesiástica, para celebrar os ofícios divinos, especialmente o da missa. Todavia, pela própria etimologia da palavra (originada do grego leitourgia = função pública), qualquer sociedade que realize um cerimonial, seja público, ou apenas reservado aos seus adeptos, em que exista uma ordenação e uma determinada forma de desenvolvimento da cerimônia, estará exercendo uma função litúrgica.
O cerimonial de rito maçônico é o seu ritual, que , na atualidade designa, realmente, o livro que contém a ordem e a forma das cerimônias.

Os rituais maçônicos, independentemente de ritos, mostram elementos de História, de Misticismo, de Metafísica e de Ciência das antigas civilizações, que tanta influência exercem sobre o mundo atual e que concentravam, por volta do século II a.C., em torno do mar Mediterrâneo, às margens do rio Nilo e à volta dos rios Tigre e Eufrates, ocupando a Ásia Menor, a África e a Europa Oriental.

Toques, sinais e palavras

Os toques, sinais e palavras de senha têm origem nas corporações de ofício da Idade Média, assim como as muitas orações e invocações (que são em maior ou menor grau, dependendo do rito), já que essas corporações viviam sob a tutela da Igreja medieval.
As palavras, todavia, tanto as Sagradas, como as de Passe, em todos os ritos, são todas hebraicas e relacionadas com o Templo de Jerusalém, com o trabalho artesanal, com passagens na história hebraica (todas de fonte bíblica), ou com a lenda do 3° grau, relativa a Hiram Abi, responsável pela confecção e entalhe dos objetos metálicos do Templo de Jerusalém (colunas, mar de bronze, bacias, etc.), mas que , na lenda foi o construtor do templo.

O Cortejo de entrada

O cortejo, com duas fileiras de componentes, formado para dar entrada no Templo tem a sua principal origem nos hábitos das antigas cortes reais; durante audiências públicas e recepções, as pessoas adentravam o salão (de audiências, ou de festas), formando duas fileiras, um de cada lado da passagem, no meio das quais passavam, devidamente anunciados pelo arauto, o rei, a rainha e, eventualmente, ministros mais importantes, dirigindo-se, todos, para o fundo da sala, onde o casal real (ou só rei, nas audiências) subia aos tronos, ali colocados, enquanto os ministros presentes ocupavam um plano inferior.
É por isso que, na maior parte dos ritos, as fileiras do norte e do sul, abertas, respectivamente, pelos Aprendizes e Companheiros, seguidos pelos Mestres e com os respectivos Vigilantes, o Venerável; este, com todos os presentes já postados (e em pé) em seus lugares, nas Colunas, passa entre eles, indo até o Trono.

Circulação no Templo

A circulação é feita no sentido horário, ou seja, da esquerda para a direita, contornando o Painel da Loja, simbolizando, no caso, a marcha do sol e significnado que o maçom sempre caminha em direção à luz.
Isso tem uma profunda origem histórica e mística, pois desde a Pré-história, o homem interrogava as forças cósmicas e, olhando para o céu, via os astros e os considerava como seres sobrenaturais, como deuses, que dirigiam o moldavam a sua vida. Entre esse astros celestes, o que sempre lhe chamou mais a atenção foi o Sol, por ser o mais evidente e ofuscante, por dar o conforto da luz e do calor, por fazer germinar os vegetais, base da alimentação, por ser, enfim, a fonte da vida.

Abertura dos trabalhos

A real abertura dos trabalhos ocorre quando são colocados na posição apropriada, as Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria, ou seja: o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso. A presença do Esquadro e do Compasso é sempre constante e igual, de acordo com o grau em que a Oficina trabalha.
Essa abertura é feita, na maior parte dos ritos, por um Mestre Instalado, de preferência o ex-Venerável 
mais recente, mas no Rito Escocês Antigo e Aceito, essa incumbência é dada ao Orador.

Circulação de Troncos e Bolsas de Propostas

A circulação do Tronco de Solidariedade (ou de Beneficência) e da Bolsa (ou Sacola, ou Saco) de Propostas e Informações quando feita com as devidas formalidades ritualísticas, é a seguinte:
São atendidos, pela ordem: o Venerável, o 1° Vigilante, o 2° Vigilante, o Orador, o Secretário, o Cobridor Interno, o Cobridor Externo (se a Loja o tiver), os Irmãos postados no Oriente, os Mestres da Coluna do Sul, os Mestres da Coluna do Norte, os Companheiros e finalmente, os Aprendizes.
Pode-se notar que no início dessa circulação é formada, pelo Oficial circulante (Mestre de Cerimônias, ou Hospitaleiro), uma estrela de seis pontas, com dois triângulos entrecruzados, sendo, o de ápice superior, formado pelo Venerável e pelos dois Vigilantes, enquanto que o de ápice inferior é formado pelo Orador, pelo Secretário e pelo Cobridor. Essa estrela de seis pontas que no Rito de York é chamada de Estrela Flamejante. É um antiqüíssimo símbolo, que foi aproveitado pelos hebreus e foi sempre importante no judaísmo, sob o nome de Estrela de Davi. 
Como símbolo bem antigo, ela tem dupla interpretação esotérica:

a) Os dois triângulos representam as duas naturezas humanas, masculina e feminina, que se interpenetram e se harmonizam, formando uma figura inteiramente nova, embora ambos os princípios originais conservem a sua individualidade. Graças a isso, a estrela (formada por dois triângulos eqüiláteros) é considerada como o símbolo do matrimônio perfeito e, por extensão, a eternidade, pela perpetuação da espécie, já que simboliza o macho e a fêmea que se unem para formar um novo ser (é a figura inteiramente nova, a estrela), sem perder a sua individualidade (os dois triângulos).

b)  Representa a relação Espírito-Matéria, como segue: o triangulo de ápice superior representa os atributos da espiritualidade, enquanto que o triangulo de ápice inferior simboliza os atributos da meterialidade.

Na administração de uma Oficina, o Venerável e os Vigilantes representam o triangulo da espiritualidade, pois a eles compete a condução espiritual da Loja; o Orador, o Secretário e o Cobridor simbolizam o triangulo da materialidade, pois a eles compete a execução das atividades materiais da Oficina (peças de arquitetura, interpretação da lei, redação das atas, expedientes e segurança do templo). Assim ao atender, inicialmente, ao Venerável, aos Vigilantes, ao Orador, ao Secretário e ao Cobridor, o Mestre de Cerimônias estará atingindo os três ângulos de cada triangulo e formando o antigo símbolo da estrela hexagonal.

O Rito Escocês Antigo e Aceito

escocesismo nasceu na França como Maçonaria stuarista (referente à dinastia dos Stuart, da Inglaterra e da Escócia).
Em 1649, depois da vitória na Inglaterra, da reforma puritana de Oliver Cromwell, rei Carlos I, da dinastia dos Stuart, era decapitado e a sua viúva, Henriqueta de França, filha de Henrique IV e de Maria de Médicis, aceitava do rei francês Luis XIV, o asilo político no castelo de Saint-Germain, onde não tardaram a juntar-se a ela muitos membros da nobreza escocesa e inglesa que passaram a preparar a reação contra Cromwell. Esses nobres, precavendo-se contra os elementos hostis à dinastias stuarista, abrigavam-se sob a capa das Lojas maçônicas, sob cujo caráter secreto podiam, sem grandes riscos, comunicar-se com seus partidários na Inglaterra e tramar a derrubada do regime  de Cromwell, o que conseguiriam.

Em 1661, às vésperas de subir ao trono inglês, Carlos II criou em Saint-Germain, um regimento com o título de Real Irlandês, que depois seria alterado para Guardas Irlandeses. Esse regimento criou uma 

Loja, cujos documentos chegaram até à atualidade. No dia 13 de março de 1777, o Grande Oriente de França admitiu que a constituição dessa Loja datava de 25 de março de 1688, sendo, portanto, a única Loja do século XVII cujos vestígios chegaram à época atual, acreditando-se, todavia, que os stuaristas tenham criado outras Lojas em território francês, principalmente a partir de um segundo regimento, formado em Saint-Germain, com integrantes escoceses e irlandeses.
Muitos autores situam a fundação da primeira Loja stuarista em 1689, em Saint-Germain-em-Laye, sede da corte de Jaime II, que foi o sucessor de Carlos II e acabou sendo expulso da Inglaterra após a revolta de 1688. Essa Loja teria sido fundada pelo regimento irlandês Walsh de infantaria, tornando-se, então, a primeira loja jacobita (jacobita foi o nome dado, na Inglaterra, após a revolta de 1688, aos partidários da casa real dos Stuarts, principalmente dos regimentos escoceses e irlandeses compostos, em sua grande maioria, por católicos). Daí a origem católica do rito, ao contrário do York, cuja origem é anglicana.

Desde a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, desenvolveram-se na França, dois ramos distintos da Maçonaria: um inglês, dependente da Grande Loja londrina, e outro “escocês”, livre do sistema obediencial e, desta maneira, trabalhando de acordo com os antigos preceitos maçônicos, pelos quais os maçons tinham direito de formar Lojas livres sem prestar conta de seus atos à uma autoridade suprema, procedimento que seria mudado posteriormente, com a generalização do sistema obediencial. 

As lojas escocesas, todavia, formavam a esmagadora maioria: em 1771, das 154 Lojas existentes em Paris, mais as 322 da Província e 21 de regimentos, não havia dez delas que houvessem recebido sua patente da Grande Loja de Londres.
O rito que iria se estabelecer, definitivamente, só a partir de 1801, acabou sendo chamado de Escocês, apesar de não ter uma ligação evidente com a Escócia; esse nome, estritamente nacional, terminou por tornar-se universal, designando um conjunto obediencial a partir de uma organização nitidamente política (jacobita ou stuarista). Isso aconteceu porque a maioria dos fiéis jacobitas era formada por escoceses, o que acabou por fazer com que todos os jacobitas fossem chamados de escoceses e, assim, com que o termo passasse a ser um rótulo político que atingiria o rito maçônico.

O termo “Antigo e Aceito”, adicionado ao Rito Escocês, surgiu quando na França, o Grande Oriente resolveu proceder a uma severa revisão dos Altos Graus, no sentido de diminuir o seu número, o que acabaria acontecendo.  

Essa redução, levada a efeito em 1786, numa época em que o escocesismo já cuidava de aumentar os seus graus, fez com que os adeptos do Rito Escocês combatessem o novo sistema e passassem a usar a denominação de Maçons Antigos e Aceitos, em oposição aos Modernos do Rito Francês, numa imitação do que já ocorrido na Inglaterra.

Comentários

  1. Um texto irretocavel, dotado de sutileza e habilidade na construção de seu valioso conteúdo.

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  2. Toda instituição que possua um trabalho ritualístico, cultivando com esmero e fidelidade, certamente haverá de perpetuar seus ensinamentos. A própria história da Ordem Maçônica nos mostra esta realidade.

    O trabalho ritualístico não é somente uma bela e dramática forma de atuação, é, também, uma parte eficiente e importante da marca e do estilo da Ordem Maçônica.

    Uma ritualística pobre tende ofuscar o brilho da reunião!

    Quando a parte ritualística é feita corretamente, com amor e dedicação, faz com que uma reunião – que muitas vezes não apresente riqueza maior de programação – se torne uma grande arte. O significado de cada gesto, de cada passo, de cada movimento, aumenta a beleza de uma reunião, quando bem executados.

    Como qualquer drama respeitável, nosso trabalho ritualístico mostra não só a beleza de nossa história e tradição, mas também a verdade inconteste dos ensinamentos legados pelo Criador.

    Mais ainda, quando nosso trabalho ritualístico é apresentado da forma mais correta possível, até memorizado ou, ainda, lido corretamente. Torna-se parte integrante de cada um de nós. Cada sílaba fica gravada em nossa memória e cada gesto e lição impressos em nosso espírito.

    Quando transmitimos este conhecimento a um novo irmão da melhor forma, fazemos com que ele sinta em cada palavra e movimento, o desejo de cultivar com carinho as lições aprendidas e a ânsia de aprender cada vez mais.

    Quando nós dissermos a um neófito o quanto o amor Fraternal pode significar, o quanto nossos ensinamentos são importantes na edição do caráter humano, a perpetuidade dessa verdade não se perderá. A beleza de um trabalho ritualístico dá a idéia de unidade que é, com efeito, a essência de nossas vidas.

    Quando entramos no Templo Maçônico não estamos meramente preenchendo espaços vazios; juntos formamos um fluxo de unidade, de confiança mútua e nos sentimos devotados reciprocamente, todos voltados aos ensinamentos de uma Verdade Perene. Nossa passagem de forma respeitosa através dos espaços cria uma linha ordenada de significado, uma demonstração de vontade uníssona de bons propósitos.

    Encaremos sempre o nosso trabalho ritualístico com seriedade e tornaremos cada reunião maravilhosa.

    Já se disse que a mais refinada espécie de orgulho é aquela que faz com que o elemento humano dê o melhor de si, juntamente quando ninguém o está observando. Flui divinamente.

    Devemos agir de forma rigorosa e natural para que possamos sentir este orgulho.
    Nós somos Maçons, escolhidos dentre muitos.

    Podemos criar e perpetuar Beleza e Amor Fraternal!

    Que Deus nos dê sempre esta disposição de espírito para que possamos preparar o caminho para aqueles que virão depois de nós. Caminhado firmes e resolutos fortaleceremos nossa Loja, assim nossa união se fortalecerá cada dia, mais e mais.

    Devemos nos orgulhar desta condição, porque somos Obreiros da Paz, Homens Livres e de Bons Costumes.

    Postado por Paulo Edgar Melo

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