Qual é a herança grega para a Maçonaria? O que são os Mistérios? As religiões de Mistérios e os Mistérios de Elêusis
“A contribuição da mística, da filosofia e da mitologia dos antigos gregos é de real importância na doutrina e na ciência maçônicas; estilos arquitetônicos, atributos dos deuses, de sua mitologia e o cerne do pensamento filosófico da Grécia antiga são encontrados em toda a extensão dos catecismos maçônicos.” (Passagem extraída do verbete GRÉCIA, que consta no “Vade-Mécum Maçônico” de autoria do Irmão João Ivo Girardi)
Introdução
Vários motivos ensejaram uma vontade minha em escrever sobre a Grécia, e talvez o principal deles resida no fato do bombardeio com o nome Grécia, que vínhamos sofrendo, via meios de comunicação, em virtude de acontecimentos recentes.
Uma coisa puxa a outra, e o nome Grécia, que nos últimos tempos tem ocupado as manchetes dos jornais do mundo todo, em vista dos seus problemas de ordem econômica, que, aliás, se arrastam desde o ano de 2010, faz com que, pensemos na Grécia de uma forma solidária, afinal, como não levarmos em conta, ou não pesarmos e sopesarmos tudo o que a civilização grega legou à humanidade.
Quem um dia, não estudou, ou no mínimo ouviu falar, quando da nossa passagem pelos bancos escolares e estendendo-se até a faculdade, sobre os feitos e as contribuições dos gregos?
Diante dos fatos mais recentes, e dos seus desdobramentos, é até possível detectarmos o velho espírito helênico presente, em virtude da resposta dos gregos aos poderosos, que foi a de um povo que não quis ser submetido aos ditames da austeridade, traduzidas nas imposições da Comissão Europeia.
Mas, em tempos de crise mundial, a Grécia atualmente vive a sua verdadeira tragédia contemporânea.
Há tanto para dizer sobre a Grécia antiga, o “berço da civilização”, pois, a Grécia está presente em nossas vidas desde muito cedo, a mesma Grécia que inventou e viu nascer através de alguns dos seus expoentes máximos como Sófocles e Ésquilo, o gênero tragédia.
Sinais dos tempos.
Este trabalho quer ser um pouco diferente somente em sua introdução, não deixar de lado, ao mesmo tempo em que o foco principal reside no passado desse país, comentar ligeiramente os momentos atuais, concomitantemente falar da Grécia e as suas importantes contribuições para a civilização, e também através de alguns “flashs” mostrar sobre a necessidade de ficarmos atentos aos problemas que atingem outros países, até pelo simples fato de que hoje, principalmente no terreno da macroeconomia, tudo acaba, mais cedo ou mais tarde, repercutindo pelo mundo afora.
E até nisso, a Grécia ainda pode ensinar-nos alguma coisa.
O objetivo maior seguirá sendo, ao longo do trabalho, falarmos um pouco da civilização grega e daquilo que, sem deixar de levar em consideração os prós e os contras, realmente podemos considerar como contribuição dessa mesma civilização para a Maçonaria.
Antes, como forma de mostrar um panorama geral das contribuições da Grécia à humanidade, passo à reprodução de alguns trechos referentes ao editorial que o filósofo Lúcio Packter escreveu para um número especial da revista “Filosofia”, e que versou sobre a Grécia:
“O Islã não tinha então uma teologia desenvolvida; o aprofundamento veio da mesma fonte onde o cristianismo buscara sua inspiração: o pensamento grego. Já entre as tradições que chegam ao ocidente, o direito ao voto é um dos elementos mais notórios. (…) Também a História nos foi deixada por Heródoto como mais uma contribuição grega. (…) Os gregos inovaram nas ciências e na matemática conferindo um rigorismo pouco usual se os compararmos com a matemática babilônica, por exemplo. A herança grega afeta em diferentes graus desde o modo como hoje pensamos, nosso vestuário, nossas relações com religião e religiosidade, a ciência, a Filosofia, a cultura, as relações sociais, a educação, e avança em direção a elementos como Arquitetura, Física, Biologia. Dificilmente encontraremos uma área das atividades humanas que seja deserta das inclinações gregas.”
A título de ilustração: dois brilhantes comentários, o do professor Roberto S. Kahlmayer–Mertens e do professor Fernando Gay da Fonseca
Conforme havia prenunciado antes, mais motivos se somaram para que eu fosse compelido a escrever sobre a Grécia.
A leitura que havia feito a alguns meses, de uma entrevista com o Doutor em Filosofia e Professor Roberto S. Kahlmayer-Mertens, que em uma análise do cenário da filosofia no Brasil, aproveitou para fazer um convite ao estudo dos gregos.
Antes, porém, o professor Kahlmeyer-Mertens citou uma passagem folclórica envolvendo o grande filósofo alemão Martin Heidegger. Resumidamente é o caso de um jovem que perguntou a Heidegger o que seria necessário para se fazer filosofia, ao que ele teria respondido: “Leia os gregos e não vá à universidade.”
O episódio em si denotaria as críticas pesadas de Heidegger ao academicismo de sua época. Porém, após a sua leitura, o que não me saiu da cabeça é que no conselho dado por parte do grande Heidegger ao jovem aluno, esteve implícita terminantemente a ideia de que ler os gregos é fundamental, e ao que o Prof. Kahlmeyer-Mertens após, reforçou, como sendo um saudável conselho, embora revelasse também possuir dúvidas quanto a parte em que Heidegger desaconselha a ida à universidade.
Fica disso tudo, porém, não o que Heidegger teria dito, mas a maneira com que o Prof. Kahlmeyer-Mertens rematou a questão: “Leia os gregos e vá à universidade”.
Comentários
Confesso que sendo Maçom, e sendo apaixonado pela leitura e pelo estudo, não conseguiria visualizar o perfeito entendimento daquilo tudo que até aqui assimilei nessa caminhada (e que falta muito ainda), do conhecimento que julgo ter adquirido, das analogias, principalmente, que pude estabelecer, enfim da própria facilitação do que ouvi e aprendi ao longo da estrada maçônica, sem ter recorrido aos gregos, sem ter contado com a ajuda dos gregos, sem ter lido alguns dos gregos ou não ter bebido das fontes gregas.
Quem poderia refutar a assertiva de que somos dependentes dos pensamentos dos filósofos gregos, e em todos os momentos das nossas vidas estamos mergulhados no universo de um ou de outro desses filósofos?
O que nos direciona também, para o universo maçônico, pois, são muitos os canais de ligação. Portanto, leiam os gregos, meus Irmãos!
Prosseguindo com os comentários dos professores citados, agora é a vez de outro professor, que escreve eventualmente artigos em jornais, Fernando Gay da Fonseca, em um artigo recente que intitulou “A dívida da Grécia e a dívida com a Grécia”, onde comentou a rejeição do povo grego, na consulta popular que foi realizada para que respondessem sobre se aceitariam ou não as condições a serem impostas pelos seus credores, e do qual destaco essa passagem:
“Na consulta popular, saiu vitorioso o “não” por mais de 60%. Não entendo de microeconomia, quanto mais de uma macroeconomia, mas sei o que é galhardia e independência. Nesta decisão o povo grego honrou essas qualidades. A velha Grécia está sempre jovem pela riqueza da sua história, na qual temos a presença de pensamentos dos seus maiores filósofos, como Anaxímenes, Anaxágoras, Heráclito, seguindo na direção de Sócrates, com sua maiêutica, Platão e o seu mundo das ideias que foi traduzido para o cristianismo por Santo Agostinho. E o grande Aristóteles, preceptor de Alexandre, que foi a luz que iluminou o pensamento de São Tomás de Aquino. Tudo isso reporta a esse povo que disse não a uma limitação que queriam que fosse aceita, limitando a sua liberdade de avaliação. Essa gente é aquela que busca o húmus debaixo das pedras, para plantar suas oliveiras, e dança quebrando pratos, como querendo destruir tudo o que lhe é adverso. Eles continuam fiéis à mensagem de um Paulo de Tarso, que pregou, por todos os cantos do seu território, a história do Deus desconhecido. Atenas, o seu Partenon, Ágora e tantos outros monumentos refletem no povo que fez história e conta histórias, como a do Minotauro, para alimentar firmeza. Os credores buscam elementos para retomar negociações. Como disse inteligentemente um presidente francês, a Europa sem a Grécia não é Europa.”
Esses motivos já valem por si sós, uma viagem no tempo pela Grécia, aquela para rememorarmos o muito que representa da sua contribuição para a humanidade, ainda que, como já disse, o foco maior é tudo aquilo que possa guardar referência ao que a Maçonaria pôde colher, assimilar ao longo da sua existência e reparte hoje com os seus adeptos.
Como saber a real dimensão do que a Maçonaria teria bebido dessas fontes, e o quanto nós Maçons sabemos dos tesouros do conhecimento grego?
A Grécia deixou três legados fundamentais para o mundo, entre outros tantos, conforme o que foi citado anteriormente pelo filósofo Lúcio Packter.
Mas, vejamos sob outro ângulo: a Filosofia, a Democracia e o Teatro.
Na Filosofia há a liberdade de pensar sem ter de obedecer às imposições de cunho religioso.
Na Democracia, podemos conviver socialmente de forma que os opostos se reconheçam e se respeitem.
No Teatro, podemos vivenciar os horrores desta vida, com base na representação, sem que haja a culpa ou o risco de sequelas. (Vasconcellos, pág. 3, Jornal ZH, 21.07.2015)
Com certeza, o Teatro exprime a liberdade, e como na Filosofia e na Democracia essa liberdade está implícita, conforme o exposto acima, podemos dizer então, que a Grécia nos deixou áreas bem definidas para que exercitemos as ideias sobre o que seja ou o que se imagine que seja a liberdade.
Há muito para ser avaliado no que se refere às contribuições extraordinárias da civilização grega para o progresso da humanidade, e no que tange aos ensinamentos maçônicos, o Irmão Theobaldo Varoli Filho, já se manifestava escrevendo sobre o cabedal que interessa à Maçonaria e que é proveniente dessa civilização, aliás, isso envolveria assuntos tão variados como: a filosofia, as três ordens arquitetônicas, a mitologia, a iniciática, o desenvolvimento da democracia, o simbolismo e o alegorismo, as artes, os templos e as construções.
Frente a isso tudo, a vontade seria mesmo poder abordar cada um dos tópicos que foram elencados acima.
De alguns deles já estamos falando desde o começo, seja nas entrelinhas, seja diretamente: democracia, liberdade…
O resto virá, durante o desenvolvimento do trabalho, e não necessariamente na ordem disposta.
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