Presença de Deus nas lojas maçónicas

Presença de Deus

Existem dois dogmas considerados gravados na pedra, em Maçonaria: A crença no Grande Arquitecto do Universo e a Imortalidade da alma; nenhum candidato a pertencer a Ordem poderá ser admitido se não responder afirmativamente à crença nestes dois pré-requisitos.

O iniciado percorrerá, ao longo da sua vida maçónica, um longo caminho na procura da verdade, metafisicamente falando, à procura do absoluto; aprendemos com Hiram, o construtor do templo de Salomão (2 crónicas Ii-13), segundo pensamos, um dos nossos irmãos do passado, esta terrível e ao mesmo tempo intrigante constatação: Viver não é toda a vida, indicando, para quem tem ouvidos para ouvir, que deverá haver uma existência futura.

Esta afirmação ecoa, para nós Cristãos, nas palavras de Jesus que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida!” Não iremos voltar à história longínqua do passado da nossa Ordem, fase a que, embora, histórica e filosoficamente, os iniciados podem ter acesso e comparar com os nossos manuais, mas que, para o profano, muitas vezes possa parecer que estão encobertas por lacunas documentais, cujos ecos reverberam nas curvas dos séculos.

A moderna maçonaria foi instituída na Inglaterra a partir de 1717 e está toda alicerçada num documento promulgado em 1723 e que se tornou a trave mestra da nossa Instituição: A Constituição de Anderson; a partir daí, até aos dias actuais, nenhuma cláusula pétrea desta Constituição foi modificada por qualquer corpo maçónico de todo o mundo.

Este documento foi escrito por James Anderson, um pastor protestante escocês, que compilou e ordenou os velhos arquivos, comparando-os e conciliando-os com a cronologia da história do mundo.

Interessa-nos, para o momento, destacar deste documento o seu 1° Capítulo: Deveres para com Deus e a religião, onde se lê ipsis litteris (na tradução do original inglês):

“Um Maçon é obrigado, pela sua condição, a obedecer à Lei moral; e se compreende bem a Arte, não será jamais um Ateu, nem um libertino irreligioso”.

Mas se bem que nos tempos antigos os Maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religião, qualquer que fosse, desse país, contudo é considerado mais conveniente de somente sujeitá-los àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um as suas próprias opiniões; isto é, serem Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou confissões que professem.

Em 1949, as três Grandes Lojas da Inglaterra, Irlanda e Escócia, fizeram a seguinte declaração conjunta (resumo):

“A primeira condição para ser admitido na Ordem como membro é a fé no Ser Supremo; condição considerada essencial e que não admite contemporização; a segunda é que a Bíblia, considerada pelos maçons como o Livro Sagrado da Lei, permaneça aberta em Loja. Todo o candidato deve prestar o seu juramento de compromisso sobre este livro sagrado, nos três troncos religiosos monoteístas, a saber, o Hebraísmo, o Cristianismo e o Islamismo, segundo a sua crença pessoal, dando carácter solene ao seu juramento ou à promessa por ele feita”.

No Brasil, um dos maiores críticos da Maçonaria, por razões que não cabe aqui discutir, frei Boaventura Kloppenburg. No Capítulo VI do seu livro publicado em 1961 “A maçonaria no Brasil – Orientação para os católicos” afirma:

“A maçonaria merece, sem dúvida, os nossos mais vivos aplausos pelo facto de manter, intransigentemente, em repetidas e solenes declarações de princípios, a crença num Ser Supremo e mesmo na espiritualidade da alma e no primado do espírito sobre a matéria. Na vigorosa afirmação deste princípio não podemos incriminar a maçonaria; pelo contrário: deve merecer o nosso reconhecimento e louvor”.

Deve-se considerar, ainda, que a maçonaria considera esta crença num Ser Supremo como uma doutrina Teísta, tendo sido sufocada pelas discussões, a ideia do Deísmo no seu seio. Albert Pike, autor de uma das mais impressionantes obras da maçonaria universal (Moral and Dogma of Freemasonry, 1871) afirmou neste mesmo livro que “A fé presente num homem pertence-lhe tanto como a sua razão. No homem, o Divino está unido ao humano”.

Embora o filósofo espanhol Ortega y Gasset não tenha sido um Maçon, permito-me repetir uma das suas famosas frases para fazer ilações com o que disse Pike:

O homem é ele e as suas circunstâncias!

Adaptado de Hélio Moreira

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