É o solstício de verão, dia mais longo e
noite mais curta.
Um limiar sagrado onde os povos antigos dançavam em círculo, lembrando que a vida é fogo, e também sombra.
Os povos antigos sabiam disso.
Nas pedras, nos cânticos, nas tranças das mulheres medicina e nos círculos dos druidas, nas fogueiras acesas com ramos de zimbro e espinho, o segredo estava guardado.
Toda luz verdadeira tem de se enfrentar para não se extinguir em sombras de soberba.
Hoje, como então, os iniciados — filhos das estrelas e da lama, herdeiros do compasso e do esquadrão — levantam as mãos para o leste com reverência, pois a chama não é apenas calor nem guia...
É consciência desperta...
E neste dia em que o sol se ergue triunfante sobre o horizonte, compreendemos que também começa a sua descida.
Porque até a luz, quando se torna absoluta, deve aprender a diminuir para não cegar.
A liturgia honra este instante solar sob a figura do Batista, o guardião do limiar, aquele que prepara o caminho no deserto, o anunciante do fogo a purificar.
Não é por acaso que o seu feriado está ancorado no final de junho, quando o sol atinge o seu zênite, pois ele representa o espírito que se entrega ao ciclo, que sabe quando crescer, quando se retirar e quando se calar para que outro fale.
Em João vive o arquétipo do mestre que não busca glória mas transmutação, que reconhece sua tarefa e sabe ceder o caminho a uma luz ainda maior.
E assim também os sábios, como discípulos da pedra viva, acendem as tochas em sua honra, não para permanecer na superfície, mas para descer ao poço interior onde habita o mistério.
A Lua, no seu discreto esplendor, observa da escuridão este festival solar. Ela, mãe da água e do tempo oculto, não compete com o sol, abraça-o com seu ritmo cíclico.
Porque só na dança entre os dois, a consciência encontra equilíbrio.
A mulher sábia — seja sacerdotisa, curandeira ou mãe — sabe disso.
"Não há colheita sem semeadura, não há fogo sem raiz, não há iniciação sem entrega ao mistério lunar que precede todo renascimento solar."
E assim, este solstício não é apenas um fenómeno astronômico, é um ato alquímico universal, onde cada alma pode lembrar que o fogo que ilumina também deve purificar, que o calor que alimenta também revela as sombras que ainda devem ser integradas.
Das raízes pagãs aos templos
invisíveis do espírito.
Das cavernas xamânicas
aos altares dos sábios...
O sol e a lua nos ensinam a nascer e morrer todos os dias, e João, com sua palavra, nos lembra que todo verdadeiro caminho é preparação para algo maior que nós mesmos...
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