A CEGUEIRA MORAL

 

Diante de uma tradição sociológica que privilegia aspectos sólidos e materiais das relações sociais, ele forneceu em décadas de estudos, análises relativas a mentalidade, costumes e ações moldados e adaptados a sociedade liquida. 

Representa uma virada epistemológica. 

E  nos conduz a reflexão: sob a vigência dos valores deste estágio atual da sociedade moldados pelo mercado e pelo consumo  é  inevitável falar de moral. 

Uma das repercussões da ausência de padrão moral na sociedade é a degradação das condições de sobrevivência: atualmente não se tem somente um proletariado mas, um precariado. 

Nesta obra adquire substancial importância o conceito de adiaforização, de origem grega (ausência de aforismo, indiferença em relação de sentença moral).   

Não há mais a reflexão sobre  o certo e o errado, as ações humanas desenvolvem-se  em termos de meios e fins: todos os atos podem ser  justificados. 

O comportamento  imoral  pode ser  justificado por um fim supostamente maior. 

Protegido por esse  relativismo, oculto em diálogos e favorecidos pela tecnologia, o autor de um  ato antiético pode  se esconder  no anonimato.  

Bauman estabelece uma diferença entre a banalização do mal, (expressão criada por Hannah Arendt)  onde os mal é executado de uma forma impessoal a serviço do Estado  e a atual adiaforizacão, na sociedade onde o mal perdeu o seu significado, tornou-se uma categoria frágil.  

A banalização das guerras, injustiças, tragédias e catástrofes transmitidas em tempo real naturalizaram o mal. 

O indivíduo se acomodou diante dessas circunstâncias com a premissa de que  eventos catastróficos, trágicos e injustos estão longe, pertencem aos outros.  

A ausência de solidariedade e sensibilidade se configura na indiferença e desprezo  com relação aos excluidos. 

Uma importante referência teórica de Bauman é Georg Simmel, crítico do individualismo, que acrescenta a esse raciocínio o papel  do dinheiro. 

O dinheiro se tornou o principal mediador das relações e faz com que todas as ações passem pela supremacia da racionalidade  produzida pelos bens materiais o que transforma a moral em algo menor, como afirma Bauman: desimportante. 

O indivíduo blazee,  apático em relação ao sofrimento alheio, oculta sob sua indiferença e aparência reservada, a repulsa pelo outro. 

O título foi inspirado no  Ensaio sobre a Cegueira de Saramago e as análises são compartilhadas com o filósofo e cientista  político Leonidas Donskis. 

O legado desse livro

A moral precisa voltar ao núcleo central das ações humanas e  a sociologia não pode ficar alheia a esse fenômeno.



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