Naquela época, a medicina era
mais tortura do que cura.
As feridas de guerra eram cauterizadas com óleo fervente, uma prática brutal que transformou a dor em um tormento insuportável.
Mas Paré não aceitava a crueldade como remédio.
Dois anos depois, em 1537, Paré se encontrou no
meio do horror da Batalha de Turim.
À sua volta, os gritos dos soldados feridos perfuravam o ar.
Seguindo a prática comum, eu derramava óleo fervendo sobre suas lacerações... até o óleo acabar.
Desesperado, improvisou um bálsamo com a única coisa que tinha à mão: gema de ovo, óleo de rosas e terebintina.
Aplicou a mistura, com a certeza de que ao amanhecer encontraria corpos.
Mas quando a luz do dia banhou o campo de batalha, viu o impossível: aqueles tratados com seu remédio estavam vivos, com menos dor e sem sinais de gangrena.
Aquilo foi apenas o começo.
Paré questionou as cruéis práticas medievais, introduzindo uma mudança que horrorizou os médicos do seu tempo: em vez de cauterizar com ferro o vermelho vivo, usou ligaduras para parar as hemorragias.
Ele foi considerado um insensato,
um herege da cirurgia.
Mas os seus pacientes deixaram de sangrar até morrer.
Desenhou próteses para amputados com mecanismos avançados, escreveu tratados médicos em francês em vez de latim para que o conhecimento chegasse a mais pessoas e revolucionou a cirurgia de uma forma que nenhum acadêmico da sua época poderia ignorar.
Apesar do desprezo da elite médica por sua origem humilde, Paré não precisou de títulos para mudar o mundo.
Salvou vidas. E quando a morte o atingiu em 1590, as suas últimas palavras reflectiram a sua filosofia:
"Eu o curei, mas Deus o curou. "
Hoje, cada bisturi em uma sala de operações, cada paciente que sobrevive a uma cirurgia, carrega o seu legado.
Porque um dia, num campo de batalha, quando o óleo acabou, um homem decidiu mudar as regras em vez de aceitar a morte.
Comentários
Postar um comentário