" O inferno são os outros. "

 


SOBRE ALTER EGO, ALTERIDADE E IDENTIDADE

Um alter ego é uma personalidade alternativa que é adotada por uma pessoa. Essa personalidade pode ser completamente diferente da personalidade real da pessoa, ou pode ter algumas semelhanças.

Os alter egos são frequentemente usados ​​em contextos artísticos, como teatro, cinema e música. No entanto, eles também podem ser usados ​​em contextos pessoais, como uma forma de lidar com o estresse ou a ansiedade.

Talvez você já tenha sentido o desejo de ser outra pessoa ou viver uma vida diferente da que possui. Seja por diversão ou mesmo por necessidade, é certo que em algum momento nós já personificamos outras pessoas.

Por isso, vamos explicar melhor o significado de alter ego, o porquê de ele poder ser benéfico e alguns exemplos bem conhecidos!

O que é alter ego?

Em suma, o alter ego se trata da personificação de outra identidade fictícia e distinta da nossa personalidade padrão. Ou seja, nós criamos e encarnamos a identidade de um personagem, agindo de acordo com a índole dele.

Embora seja mantida algumas das características padrão, é comum que essa nova imagem tenha uma essência própria e independente do criador.

O termo significa literalmente “outro eu”, fazendo referência a uma persona que reside em nosso inconsciente. Também vale dizer o que é alter ego na Psicologia.

De acordo com os profissionais dessa área, o ego é a superfície da mente onde se concentram ideias, emoções e pensamentos racionais. 

Por sua vez, o alter ego seria um produto do inconsciente somado às nossas vontades, desejos e idealizações reprimidas.

Origens

Segundo registros, o médico Franz Mesmer ficou conhecido por ter introduzido o uso do termo alter ego enquanto trabalhava. De acordo com seus estudos ele acabou descobrindo que o transe hipnótico revelava partes diferentes da personalidade de uma pessoa.

Esse “outro eu”, que surgia durante as sessões, era como se o paciente mudasse por completo quem era.

Ao longo do tempo, o alter ego foi incorporado à literatura e ao mundo das artes pelos atores e escritores. Tudo porque essa outra personalidade serviria para dar vida às histórias mais diversas.

Apesar das criações serem diferentes de maneira proposital em essência de quem as criou, ainda eram partes de quem as construiu.

Não o bastante, os próprios personagens criados poderiam ter outras personalidades e facetas ocultas. Por exemplo, pense nos heróis dos quadrinhos ou personagens de filmes.

Embora carreguem alguns valores de quem os imaginou, essas personas são suficientemente independentes para pensar de modo próprio.

Por que pode ser benéfico ter um alter ego?

Talvez você não saiba, mas ter um outro eu pode ser benéfico para a saúde se você estiver sob a supervisão de um terapeuta. Tudo porque o alter ego criado pode se responsabilizar por fazer coisas que você normalmente não teria coragem.

Não somente dar liberdade a si mesmo, mas também complementar a base da saúde mental ao tratar problemas pessoais.

Por exemplo, pense em um médico que durante toda a infância quis ser um atleta ou pintor. Infelizmente, a carreira que seguiu o fez recolher os seus desejos primordiais, embora eles ainda existissem no seu âmago. Por conta disso, o médico pode se sentir sufocado, tenso e com o humor bastante sensível frequentemente.

Caso ele deixe que o atleta ou o pintor “saia” de si de forma esporádica é provável que sinta mais plenitude na vida. Outro exemplo seria alguém extremamente tímido e que teme interagir com os outros em diversas situações.

Se criar uma persona com história própria se sentirá mais à vontade ao experimentar viver sem pressão ou julgamento de alguém.

Os alter egos podem oferecer uma série de benefícios, incluindo:

  • Uma forma de expressar emoções ou desejos que não são aceitáveis ​​na vida real
  • Uma forma de escapar da vida cotidiana
  • Uma forma de desenvolver novas habilidades ou talentos

Alter ego de heróis dos quadrinhos

O uso do alter ego é frequente nos quadrinhos porque é uma forma de proteger a identidade dos heróis. Desse modo é possível para eles agirem como salvadores sem que a sua vida pessoal seja diretamente afetada.

Além disso, ele pode proteger a família e amigos, já que algum vilão poderia usá-los como reféns para ameaçar as suas vidas.

Por exemplo, o alter ego do Peter Parker é o Homem-Aranha, sendo o herói alguém distante da figura comum do seu criador. Ao longo da sua trajetória como herói, Peter percebeu que essa vida poderia colocar em risco aqueles que ele amava.

Vale lembrar que, em uma história em quadrinhos, ele acabou perdendo Gwen Stacy, amiga e interesse amoroso.

Por outro lado, existem os raros casos em que há uma inversão na criação dessas identidades secretas. Em vez de ser o herói que existe em uma pessoa comum, o Superman se esconde no disfarce de um civil.

Clark Kent é o seu nome verdadeiro. Assim, o jornalista se tornou o outro eu do Superman, servindo de disfarce para o herói.

Riscos

Embora um alter ego possa ajudar na evolução e vivência de uma pessoa, nem sempre pode ser algo tão benéfico. Costuma ser o caso de quem possui dupla personalidade e outros problemas de ordem.

O perigo de se ter outra identidade é preocupante nessas pessoas, uma vez que:

  • as personalidades podem ser independentes, agindo longe do controle consciente do criador;
  • ter propósitos doentios, já que essa persona alternativa facilmente busca caminhos destrutivos;
  • o desenvolvimento de um transtorno dissociativo de personalidade;
  • a perda de contato com a realidade;
  • a dificuldade de se relacionar com os outros.

Considerações finais sobre alter ego

Os alter egos podem ser uma ferramenta poderosa para a autoexpressão e o crescimento pessoal. No entanto, é importante usar os alter egos de forma responsável e consciente dos riscos envolvidos.

Além de trazer diversão, criar um alter ego pode ter fins terapêuticos extremamente benéficos para a sua saúde. Trata-se de revelar os seus desejos sem estranheza ou culpa, preservando a sua identidade enquanto descobre novas perspectivas e experiências.

Salvo os casos em que uma pessoa tem transtorno dissociativo de personalidade, ter outra personalidade é uma atitude produtiva. 

Alteridade

"A alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras. Reconhecer a alteridade é o primeiro passo para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante, onde todas e todos possam expressar-se, desde que respeitem também a alteridade alheia.

Significado de alteridade

O dicionário Aurélio traz a seguinte definição de alteridade:

“al.te.ri.da.de - (francês alterité) - substantivo feminino - 1. 

Qualidade do que é outro ou do que é diferente. - 2. 

[Filosofia]. Caráter diferente, metafisicamente.”|1|

A palavra alteridade advém do vocábulo latino alteritas, que significa ser o outro, portanto, designa o exercício de colocar-se no lugar do outro, de perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva.

A alteridade é o reconhecimento e o respeito das diferenças entre as pessoas.

A alteridade é o reconhecimento da diferença, tanto no significado linguístico comum  quanto no significado filosófico, pois a alteridade é o que é, por essência e definição, diferente. Segundo Nicola Abbagnano, lexicólogo que publicou um imenso dicionário de termos filosóficos, alteridade significa “ser outro, colocar-se ou constituir-se como outro”|2|.

Alteridade na psicologia

O significado de alteridade para a psicologia não se encontra afastado dos significados filosófico e comum do termo, com a exceção de que os psicólogos serviram-se muito dos estudos antropológicos para incrementar um significado no termo que remete à cultura. O ato de enxergar o outro como um ser singular implica reconhecer que o outro é diferente de você. O reconhecimento da diferença individual é o primeiro passo para o exercício do respeito e da tolerância, pois se você quer que a sua individualidade seja respeitada, é necessário que, antes, você respeite a individualidade do outro.

Segundo o Dicionário de psicologia, alteridade é o “conceito que o indivíduo tem segundo o qual os outros seres são distintos dele. Contrário a ego”|3|. 

Enquanto o ego é a instância individual, a alteridade leva-nos ao reconhecimento do coletivo.

Nesse sentido, é a alteridade que pode garantir a coesão social, por exemplo. Também é a alteridade e seu reconhecimento a chave para evitar o etnocentrismo, a exploração de outros povos e a escravidão. 

Pensando com a antropologia, alteridade é o meio pelo qual é possível enxergar nas outras culturas as suas especificidades, evitando o prejulgamento.

Alteridade e etnocentrismo

A antropologia originou-se como uma ciência fortemente etnocêntrica. Edward Burnett Tylor e Herbert Spencer, os primeiros antropólogos ingleses, propuseram uma teoria, que chamaram de classificação das raças, extremamente racista e etnocêntrica.

Para os pensadores, havia uma hierarquia das raças que se atestava pela cultura: quanto mais claras as pessoas, mais desenvolvida a cultura, ao passo que as sociedades formadas por pessoas de peles mais escuras tendiam a desenvolver culturas inferiores. 

Ora, essa visão racista e etnocêntrica, que vinculou o antigo conceito de raça à cultura, vai ao extremo oposto do que diz o significado de alteridade.

Franz Boas foi um importante nome para o estudo das sociedades e etnias periféricas, de acordo com o eurocentrismo.

Somente o geógrafo e antropólogo alemão, radicado nos Estados Unidos, Franz Boas  conseguiu enxergar a necessidade de desvincular “raça” de cultura. 

Para o pensador, entender uma sociedade significava entrar nela, aprender a sua língua, conviver com seus nativos e, sobretudo, deixar de lado os preconceitos e a visão da sua própria cultura. Caso contrário, o efeito esperado poderia ser o de olhar para a cultura diferente da sua como sendo inferior.

Outro importante antropólogo do século XX, o polonês Bronislaw Malinowski defendeu que a imersão na cultura deve ser total e completa e que o antropólogo deve passar muito tempo na sociedade em questão para de fato compreendê-la.

Esse exercício, enunciado pela primeira vez por Boas e colocado como método por Malinowski, foi bem descrito no livro Argonautas do Pacífico Sul. Interpretando a obra de Malinowski, podemos dizer que a alteridade é uma peça fundamental ao antropólogo, pois sem ela o estudioso cai na armadilha do etnocentrismo.

Alteridade e empatia

É comum o pensamento de que alteridade e empatia são sinônimos, porém são termos diferentes. Enquanto a empatia refere-se à capacidade de colocar-se no lugar do outro, sentir a dor do outro de maneira imaginária ou por analogia, a alteridade é a capacidade de reconhecer que o outro é daquele jeito porque ele é, essencialmente, diferente de você. Além do reconhecimento da diferença, a alteridade propõe um respeito ético ao outro como ser singular. É na alteridade que surge a tolerância.

Reconhecer a dor do outro e respeitá-lo é um duplo exercício de empatia e alteridade.

Exemplos de alteridade

Segundo o sociólogo polonês contemporâneo Zygmunt Bauman, o mundo está cada vez mais fragmentado. A tendência atual é a do individualismo, um estilo de vida que leva ao egoísmo. Nesse sentido, a alteridade encaixa-se em momentos de coletividade, dando lugar à tolerância. Vejamos alguns exemplos de alteridade:

Imagine que imigrantes e refugiados comecem a entrar em seu país, passando a habitar a sua cidade. Exercer a alteridade, nesse caso, é reconhecer que aquelas pessoas sofreram e que elas saíram de suas terras natais porque foram obrigadas ou porque queriam levar uma vida digna. Exercer a alteridade, nesse caso, é acolher e oferecer o apoio possível a elas.

Imagine que você seja praticante de uma religião cristã, de vertente católica. No mundo existem cristãos protestantes, cristãos espíritas, muçulmanos, hindus, candomblecistas etc. 

A alteridade reside, nesse exemplo, no fato de que você deve reconhecer a história e a individualidade de cada pessoa e respeitar a escolha religiosa dela sem prejulgá-la.

Notas

1| HOLANDA, Aurélio B. Dicionário da Língua Portuguesa. 6. ed. Curitiba: Positivo, 2004.


IDENTIDADE

O que é a identidade e como ela é definida? A identidade pode ser entendida como o conjunto de características, valores, crenças, experiências e memórias que fazem de cada indivíduo uma entidade única. 

Ela responde perguntas como: Quem sou eu? Como me vejo? Como os outros me percebem? A definição de identidade é dinâmica e evolutiva, refletindo as transformações pessoais ao longo do tempo. É importante destacar que a identidade não é fixa; ela se constrói por meio das interações sociais, culturais e até biológicas. Na psicologia, por exemplo, a identidade é vista como uma construção que integra aspectos conscientes e inconscientes da personalidade. 

Quais são as origens e os fatores que influenciam a formação da identidade? 

A origem da identidade é multifacetada, tendo raízes tanto na história pessoal quanto na coletividade. 

Entre os principais fatores que moldam nossa identidade, podemos destacar: 

Família: 

O núcleo inicial onde aprendemos valores, tradições e modelos de comportamento. 

Cultura: 

Normas, crenças e práticas que circundam o indivíduo e influenciam suas percepções.  

Experiências pessoais: 

Momentos marcantes que moldam a autoestima, confiança e visão de mundo. 

Sociedade e contexto histórico: 

Eventos sociais, políticos e econômicos que influenciam a perceiveção do mundo. 

Biologia e genética: 

Aspectos herdados que também contribuem para nossos traços e predisposições. A interação entre esses elementos dá origem à nossa singularidade, tornando cada pessoa uma combinação única de influências. 

Qual a importância do conceito de identidade na vida moderna? 

No mundo contemporâneo, entender a própria identidade é fundamental por diversos motivos. Afinal, vivemos em uma sociedade plural, marcada por múltiplas identidades culturais, de gênero, de orientação sexual e de crenças. 

Conhecer e afirmar a sua identidade permite: 

Autenticidade: 

Ser verdadeiro consigo mesmo. 

Resiliência emocional: 

Lidar melhor com mudanças e desafios. 

Relacionamentos autênticos: 

Construir conexões baseadas em respeito às diferenças. 

Autonomia: 

Tomar decisões alinhadas com seus valores e desejos. Na era da tecnologia e das redes sociais, a definição de quem somos também pode ser influenciada por fatores externos, o que torna ainda mais importante uma reflexão consciente sobre nossa verdadeira essência. 

Como a sociedade influencia a construção da identidade? 

A influência social é um componente essencial na formação da identidade. A sociedade fornece os símbolos, normas e expectativas que moldam o comportamento e a autoimagem do indivíduo. 

Desde a infância, somos socializados por meio de interações familiares, escolares e midiáticas. Essas experiências acumulam-se e contribuem para a percepção de nós mesmos. 

Quais aspectos sociais mais impactam na identidade? Normas culturais e valores predominantemente aceitos Estereótipos de gênero e papéis sociais. 

Contexto econômico e político Grupos de pertença, como religião, etnia e profissão Incorporar ou resistir a esses elementos revela a capacidade do indivíduo de moldar sua própria identidade frente às pressões sociais. É a partir dessa interação que a identidade se revela fluida e multifacetada. 

Qual o impacto da tecnologia na definição da identidade hoje? 

A tecnologia, especialmente as redes sociais, tem revolucionado a forma como percebemos e construímos nossas identidades. 

Hoje, é possível criar uma versão idealizada de si mesmo, em diferentes plataformas, e receber feedback instantâneo. Isso pode fortalecer a autoestima, mas também criar conflitos internos, como a tensão entre a aparência digital e a autenticidade pessoal. 

Vantagens da Tecnologia na Construção da Identidade 

Desafios 

Ampliação do networking e troca cultural 

Comparação social e baixa autoestima 

Autoafirmação digital e expressões de criatividade 

Dependência e perda do contato com a realidade 

A sociedade digital traz benefícios de conexão e expressão, mas também exige uma reflexão consciente para manter a autenticidade e o equilíbrio emocional. 

Como podemos fortalecer nossa identidade? 

Fortalecer a identidade é um processo contínuo. 

Algumas dicas práticas incluem: 

Praticar autoconhecimento: 

Conhecer suas emoções, valores e limites 

Buscar experiências diversas: 

Expandir horizontes e aprender sobre si mesmo 

Resistir às pressões sociais: 

Manter-se fiel aos seus princípios 

Cuidar da saúde mental e emocional: 

Buscar apoio quando necessário 

Valorizar sua história de vida: 

Reconhecer as conquistas e aprendizados Ao investir na construção de uma identidade sólida, você promove uma vida mais autêntica, plena e alinhada com seus propósitos. 

O que podemos aprender com histórias de pessoas que redescobriram sua identidade? 

Diversas histórias de transformação mostram o poder de autoconhecimento na conquista de uma identidade mais autêntica. 

Por exemplo, pessoas que superaram preconceitos, crises existenciais ou conflitos internos descobriram a força de se aceitarem como são, contribuindo para a sociedade de forma mais genuína. 

Essas experiências reforçam a ideia de que a identidade é uma jornada, e não um ponto de chegada fixa. 

Conclusão 

Entender o conceito de identidade, sua origem, definição e significado, é fundamental para quem deseja entender melhor a si mesmo e as relações humanas. 

A identidade é uma construção dinâmica, influenciada por fatores internos e externos, que evolui ao longo da vida. 

Investir no autoconhecimento e na apreciação da própria história permite uma vida mais autêntica, com relações mais verdadeiras e maior bem-estar emocional. 

Afinal, ao compreender quem somos, também fortalecemos nossa capacidade de conviver com o outro, contribuindo para uma sociedade mais empática e diversificada.

NOTAS

|2| ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia.  3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 35.

|3| Dicionário de Psicologia. São Paulo: Itamaraty, v.5, 1973., p. 75"



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