Aos Pavões de Salão (Edilson Santana)

 

Tu, que desfilas pompa em solo alheio, crendo ostentar domínio na chegada,
ergues o peito em vão — qual falso meio de parecer senhor de honra inventada.
O sábio ri do passo torto e feio; o néscio aplaude a máscara envernada;

e, enquanto giras tonto em próprio enleio,
mostras que a glória é tua fantasia ousada.

Gabando feitos que jamais viveste,
teces lenda que nunca se viu posta,
crente de que o mundo crê no que disseste.
E, ao fim, quando o adorno vira crosta,
teu brilho oco cai, tal pó celeste,
revelando o nada onde te encosta.

O Espelho dos Vaidosos - prosa poética
A vaidade costuma ser um disfarce que o próprio vaidoso acredita vestir como se fosse uma armadura luminosa, quando na verdade é apenas um tecido frágil, sustentado por vento e quimera.

Em ambientes onde as aparências se impõem com mais força do que a substância, nasce o pavão de salão:
figura que confunde gesto com grandeza e que imagina que um peito inflado basta para impor respeito.

Não percebe que o respeito verdadeiro não floresce da encenação, mas da inteireza silenciosa que habita aqueles que não necessitam exibir-se.

O sábio, distante, não ri por maldade, mas porque conhece bem o destino das pompas vazias:
elas sempre se quebram no peso do próprio exagero.

O ingênuo, porém, aplaude porque se deixa enganar pelo brilho superficial, confundindo reflexo com luz verdadeira. Assim, o vaidoso gira em torno de si mesmo, acreditando comandar o cenário, quando na verdade é apenas mais um personagem de um teatro que o ultrapassa.

A cada palavra exagerada, ele reforça a lenda que inventou acerca de si; a cada gesto teatral, afasta-se ainda mais do que é e se aproxima da sombra que projeta.

A vaidade vive de si mesma, e por isso se desgasta rápida e silenciosamente.

Basta uma fresta de sinceridade para que todo o verniz rache:
a pompa se desfaz,
as cores se apagam,
o som se cala.

A cortina cai não com ruído, mas com a leveza de uma verdade que finalmente se impõe.

E, diante do espelho, aquele que se viu gigante descobre que seus adornos eram pó, seus triunfos eram fumaça, e sua história, invenção sem raiz.

Aprende — quase sempre tarde demais — que quem vive para parecer termina por desaparecer.

A grandeza verdadeira, essa não busca palco:
apenas acontece.

Pois só permanece aquilo que nasce do ser, não da pose; da lucidez, não da fantasia.

Assim, o espelho devolve sua lição final:
nenhuma vaidade sustenta o peso da realidade quando a luz da verdade enfim se acende.


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