DEUS E A CRIAÇÃO DE LUCIFER...

 

Se Deus sabe tudo, por que criou Lúcifer sabendo que ele se rebelaria?
É a versão clássica do problema do mal — a teodiceia — levada ao plano do mito pessoal: por que existe o adversário dentro da obra divina?
Para o maçom, a pergunta também é operacional: por que a existência da prova, da puxão oposto, da tentação que pole ou destrói?

Responder requer movimentos
em vários níveis simultâneos:
literal-teológico, simbólico-iniciático, psicológico e cosmológico.

Perspectiva teológica e filosófica
(visão breve e comparada)

Livre arbítrio e responsabilidade moral.

Muitas tradições defendem que a liberdade autêntica implica a possibilidade do mal.
Se a criatura não pudesse escolher, não seria moralmente responsável.
Criar seres livres com capacidade de se revoltar é o preço de um cosmos moralmente significativo.
Nesta ótica, a rebeldia de Lúcifer não é um “erro” divino, mas a consequência inevitável quando existe liberdade genuína.

A necessidade do contraste

No pensamento esotérico e hermético, a polaridade é condição para o conhecimento:
luz e sombra, dia e noite.

Sem contrários, não há consciência reflexiva. Lúcifer, como figura do adversário, introduz a tensão necessária para que o agente moral se confronte a si mesmo.

Finalismo pedagógico

Várias correntes interpretavam a história cósmica como uma escola: as provas (incluindo a rebelião) são catalisadores de aprendizagem e perfeição. O que parece errado no imediato pode ter função corretiva ou purificadora em uma escala maior.

A teologia do mistério

Algumas respostas teístas concluem na humildade: o desenho total da divindade excede nossa capacidade de julgamento. É um recurso teológico (e também prático para o iniciado): aceitar o mistério sem rendição intelectual.

Leitura maçônica e simbólica

Lucifer como figura simbólica

Na imaginação maçônica, Lúcifer não é apenas um “anjo caído” mas o princípio adversário: a prova, a tentação do orgulho, a energia que transforma quando manuseada com retidão ou destrói quando idolatrada.
É a força que testa o esquadrão e o compasso: mediremos a ação pela retidão ou pelo brilho da realização?

Função inicial do adversário

O adversário obriga o iniciado a exercer discernimento. Sem a prova, não há trabalho na pedra bruta. Lúcifer obriga afinar a retidão moral, humildade e temperança.
A história mítica do rebelde funciona como espelho: o iniciado vê nele a possibilidade de se tornar um tirano da sua própria obra ou um transmutador da sua própria escuridão.

Dupla leitura: tentação e aliado

Ao mesmo tempo, muitas escolas ocidentais afirmam que a energia da rebelião pode se tornar um motor criativo se for integrado sob a lei: a coluna que pode desmoronar torna-se uma coluna que sustenta. O “adversário” se transforma em um mestre severo.

Jung e a sombra: uma ponte psicológica

Carl G. Jung oferece a leitura que melhor conecta mito e experiência interior:
Lucifer = a Sombra coletiva/arquetípica.
A Sombra contém impulsos rejeitados,
orgulho, ambição, ressentimento.
Se não for integrado, projeta-se fora e externaliza-se
como “diabo” ou inimigo.

Função terapêutica: enfrentar a sombra (não negá-la nem idolatrá-la) permite que sua energia seja canalizada para criatividade e vontade. Então, o que parecia um adversário externo é uma parte própria que pede reconhecimento.

Em termos maçônicos: trabalhar a Pedra Bruta é trazer à luz a sombra e transmutá-la em pedra cúbica.

Cabala e alquimia: leitura esotérica
Cabala
Na Árvore da Vida, a queda e a reprovação aparecem como etapas pelas quais o néctar divino se torna acessível somente após a depuração. Mal e ruptura fazem parte da implantação das Sefirot em suas polaridades.
Lucifer está simbolicamente associado a aspectos que exigem correção: Gevurah (rigor) que, sem Chesed (misericórdia), pode se transformar em destruição.

Alquimia
O “adversário” é o enxofre impuro que deve ser dissolvido e sublimado. O fogo alquímico que consome não é malícia, mas sim agente de purificação.
A presença de Lucifer (o teste) ativa a operação do solve-coagula.

Interpretação maçônica prática
(o que ensina o Irmão)
O adversário como espelho moral.
Cada tentação a que chamamos de “luciferina” é um convite para verificar se o esquadrão governa nossos atos. Eu atuo por orgulho ou por dever?

Transformação, não destruição.
O trabalho do maçom é transformar adversidades em exercício de virtude. Energia adversa não se nega; seja disciplina com compasso e esquadrão.

Responsabilidade pela liberdade
Possuir liberdade também é aceitar as consequências da liberdade alheia. A presença do adversário obriga a exercer fraternidade ativa, não julgamento fácil.

Breviário Maçônico
Máxima: “A prova que você teme contém a lição que você procura. ”
Lembrete: Lúcifer, como figura, não é um monstro a ser removido, mas uma força a conhecer.
Prática curta (diária): Ao meditar, imagine a tentação que mais te desafia. Não a reprima, diga-a em voz baixa.
Pergunta: "Que verdade me traz? ” Anote a primeira resposta e procure uma ação concreta (1 coisa) para alinhar seu comportamento no dia seguinte.
Leitura: Proponha na Sociedade uma troca sobre uma passagem onde cada irmão identifique o seu “adversário interior” e a lição que extraiu.

Sermão Maçônico
Irmãos:
Não chamemos demônio ao que exige esforço. A criação que nos deu liberdade nos deu também a possibilidade de errar.
O adversário — Lúcifer — é a sombra que bate na porta da nossa oficina para que possamos sair para lavrá-la.
Se o jogarmos fora sem olhar, só prolongamos a cegueira. Se olharmos para ele com compasso e coragem, transformaremos o seu fogo em luz que purifica a pedra.

Não há contradição no cosmos:
a tarefa do maçom é reconciliá-la
em seu próprio peito.
Que o esquadrão marque nossos atos; que o compasso governe nossas paixões; que a luz seja sempre nossa medida.

Exercício de ritual sugerido
para a Sociedade.

Breve invocação de silêncio.
Leitura de uma breve parábola sobre queda e redenção.

Trabalho em pares: um ouve o outro descreve sua “tentação recorrente” sem julgar. O ouvinte retorna três perguntas esclarecedoras.
(Duração: 10 min/casal).
Fechamento com três golpes de baralho e leitura coletiva da máxima do breviário.

Conclusão: um parágrafo para salvar

Deus — se a palavra for admitida — não falha criando liberdade porque sem liberdade não há obra moral.
Lucifer, então, é menos “erro divino” e mais “instrumento pedagógico”-energético.
Para o iniciado, a pergunta não conclui em teoria, mas em trabalho:
o que faço com a energia adversa que
aparece na minha vida?
O workshop responde:
Eu medi-a, eu nomeei-a, transmuto-a.
Aí está a resposta que a teologia promete, mas a prática realiza.

Comentários

  1. Workshop é uma reunião de um grupo de pessoas interessadas em um determinado assunto. Pode ser também uma atividade para discussão sobre um tema que é de interesse para todos.

    Um workshop é uma espécie de seminário, grupo de discussão ou colóquio que enfatiza a troca de ideias e a demonstração e aplicação de técnicas e habilidades.

    A pessoa que vai participar de um workshop, pretende aprender algumas coisas (muitas vezes práticas) sobre o assunto abordado.

    Um workshop é diferente de uma palestra, em algumas áreas específicas, pois no workshop a plateia é convocada a participar do evento ativamente, e não são meros espectadores, eles interagem com o que está acontecendo.

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  2. O workshop tem caráter mais prático e sua realização requer uma abertura ao diálogo por parte do palestrante, ou instrutor, e da plateia.

    Em geral, workshop é uma exposição ou mostra de trabalhos, e normalmente são realizados em locais diferentes dos habituais, como fazendas, estâncias, lugares turísticos, hotéis e muito mais, para as pessoas poderem sair de sua zona de conforto.

    Existem workshops dos mais variados assuntos, como teatro, culinária, defesa pessoal, escrita criativa, fotografia, dramaturgia e etc.

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