ERRAR, UM ATO HUMANO ...


Erramos, talvez, porque carregamos em nossas mãos não o peso da verdade, mas a leveza das versões. A história, esse mosaico de fragmentos e ecos, jamais foi apenas um repositório de fatos, mas antes um palco onde as interpretações dançam ao som das conveniências do momento.


Nos arquivos do tempo, a objetividade é uma quimera, uma promessa nunca cumprida.

Cada linha escrita é tingida pelo viés de quem narra, pela sombra dos interesses que se escondem atrás da pena.

O que chamamos de história, afinal, é o artifício de uma memória seletiva, que silencia vozes, que exalta heróis forjados no calor da necessidade e esquece os anônimos que sustentaram os pilares do mundo.

Somos, assim, herdeiros de um tecido remendado, feito de lacunas e bordados floridos que disfarçam os buracos.

E erramos porque tomamos os ornamentos como substância, os adornos como essência.

Erramos porque esquecemos que o passado não é uma pedra imóvel, mas um rio que se molda à paisagem das margens, fluindo ao sabor das narrativas de quem o contempla.
E, no entanto, há beleza nessa falibilidade.
Pois é na multiplicidade das interpretações que se encontra o humano – esse ser incapaz de abarcar a totalidade, mas obstinado em tentar.

Nosso erro é a prova de nossa condição: a de criaturas que caminham na neblina, guiadas por lampejos de luz e pela força de seus próprios desejos.

Que erro mais sublime do que acreditar no mito e, ainda assim, continuar buscando o real?
Que desvio mais poético do que a tentativa de tocar o eterno, sabendo que tudo o que temos são instantes?

Nossa história, com seus enganos e suas máscaras, é também um reflexo de nosso anseio pelo impossível: o sonho de decifrar o mundo em toda a sua plenitude, mesmo sabendo que só possuímos fragmentos.

E assim seguimos, entre o erro e a busca, entre a conveniência das versões e o desejo de transcendência.

Pois errar, afinal, é um ato de humanidade, e o humano é, acima de tudo, um intérprete do infinito.

Oliver Harden

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