Quando se fala de Maçonaria, uma das perguntas mais frequentes é:
“Em que acreditam os maçons? ”
A resposta, surpreendentemente simples, é esta:
Maçonaria não é uma religião.
Não impõe credo, não propõe dogmas, não oferece revelações nem promete salvação.
É uma escola ética, simbólica e inicática, onde o homem trabalha sobre si mesmo, afinando mente, espírito e comportamento.
E, no entanto, na tradição maçônica regular, existe um requisito fundamental:
acreditar em um Princípio Criador
Na Maçonaria regular de origem anglo-saxónica, para ser iniciado não é necessário aderir a uma religião específica, mas é necessária a fé em algo superior ao homem:
um Princípio Criador, uma Causa Primeira, uma Ordem originária, como lhe queiram chamar.
Nem todas as obediências modernas mantêm este critério, mas na tradição histórica da linhagem anglo-saxónica representa um fundamento moral:
quem reconhece algo maior do que si mesmo compreende o peso dos seus atos, responsabilidade, retidão.
Não importa o nome:
Dios
YHWH
Alá
Brahman
Leis universais
A ordem natural
A causa principal da existência
O que importa é o reconhecimento
do sagrado, sem dogma.
As Constituições de Anderson de 1723
e o "ateu estúpido"
As Constituições de Anderson de 1723 (o texto que ainda hoje é considerado referência fundamental para a maçonaria regular no mundo) afirmam que o maçom não deve ser “um ateu estúpido, nem um libertino irreligioso”.
Hoje esta frase pode parecer dura ou superada:
deve ser compreendida dentro do pensamento
do seu tempo.
No século XVIII, o ateu não era visto como “quem não acredita”, mas como quem negava todo fundamento moral e cósmico.
Em um mundo profundamente religioso, o ateísmo era percebido não como uma posição filosófica, mas como desordem social e falta de princípios.
Hoje nenhum maçom progressista consideraria "estúpido" quem não acredita.
A frase pertence a outro tempo e deve ser interpretada com atenção.
Maçonaria regular ainda exige fé em um Princípio Criador, mas reconhece plenamente a dignidade de muitas visões filosóficas.
O tema, no entanto, continua a ser discutido.
Hoje, lendo essa passagem, minha reflexão é simples:
o que importa não é no que um homem acredita, mas como ele se comporta.
Não é a ausência de fé que torna uma pessoa inadequada, mas a ausência de valores firmes, de ética e de pensamento crítico.
É nisso, na minha opinião, que a Maçonaria pede para trabalhar.
Para reunir homens com crenças diferentes, a Maçonaria usa um símbolo universal:
o Grande Arquiteto do Universo, GADU.
O GADU não é o Deus de uma religião específica.
É o nome simbólico do Princípio Criador, escolhido para ser inclusivo, neutro e respeitoso de todas as culturas.
Assim, na mesma loja:
O cristão vê no GADU o Deus Pai.
O muçulmano vê Alá, o Misericordioso.
O judeu vê o Eterno.
O Deísta reconhece a Causa Primeira.
O panteísta vê o próprio universo como sagrado.
O budista vê as leis morais e naturais que regem a existência.
Um único símbolo,
para muitos caminhos diferentes.
Uma breve digressão:
Deísmo e Panteísmo.
Durante o século XVIII muitos Irmãos foram influenciados pelo deísmo:
crença em um Deus criador,
racional, não dogmático.
Outros estavam atraídos pelo panteísmo, que vê o divino no próprio universo.
A Maçonaria nunca impôs preferência.
Permitiu que os homens refletissem, dialogassem e buscassem sua própria verdade sem conflitos.
Na Maçonaria ninguém te dirá quem é Deus, qual livro sagrado seguir
ou qual doutrina professar.
O que importa é o respeito, a busca pela verdade e a convicção de que cada homem é parte de algo maior do que ele mesmo.
Pensem só nisto:
Quanto sofrimento teria sido poupado a humanidade se cada homem tivesse aprendido a respeitar a fé um do outro?
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