TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA

Maçonaria e o Hermetismo - Loja Maçônica Liberdade e Amor - Cássia ... 
 
De fato, as corporações de construtores medievais deram a estrutura à Maçonaria, inclusive os três graus iniciáticos, e sua simbólica fundamental vinculada com a Arte de Construir.

Esta influencia deriva, ou ao menos tem antecedentes nos Collegia ou Scholae romanos, vinculados às Religiões de Mistérios, as quais, por sua vez, fazem-no com o Egito.

Por outra parte, na Alexandria greco-egípcia, dos primeiros séculos anteriores e posteriores ao cristianismo, volta-se a produzir um ressurgimento tanto das religiões mistéricas, que ainda subsistiam, como dos estudos neoplatônicos, pitagóricos e teúrgicos-gnósticos, que desembocam numa corrente onde a Tradição Hermética veiculará estas energias até o Renascimento (em que tornarão a florescer), passando pela Idade Média, onde revestiram formas cristãs, o que não foi difícil dada a identidade de ambas as tradições quanto a suas origens e fins.

É precisamente na Idade Média (quando se construíram em toda a Europa milhares de templos, castelos, e cidades inteiras, tanto em estilo românico, quanto gótico, por meio destas associações corporativas, incorporadas à cidade medieval como elementos constitutivos de sua ordem) onde se assenta a gnose Hermética, por intermédio de Pitágoras e da Aritmosofia, quer dizer, o sentido verdadeiro dos números, das proporções, da orientação, dos ciclos, etc., ou seja: os mistérios da Cosmogonia, os segredos do ofício, manifestados pela Filosofia dos Pais da Igreja e Dionísio Areopagita, entre outros, e sobretudo, sem dúvida, pelo Evangelho Cristão, São Paulo, e o fundo tradicional mitológico, religioso e agrícola das culturas anteriores ao cristianismo. 

Todas estas influências espirituais, ou intelectuais, passam diretamente à Maçonaria, como se encontra documentado em manuscritos alemães e ingleses, e é sobre esta estrutura que se adicionam os outros elementos que mencionamos.

Assim a Alquimia se integra a este pensamento posto que ela não é mais que uma expressão ou adaptação a mais deste saber tradicional, e os mesmos Adeptos se colocam sob a filiação Hermética e seu patrocínio.

O mesmo vale dizer dos Rosacruzes, herdeiros do pensamento hermético e historicamente relacionados com eles e com a Maçonaria. Também por suas raízes medievais, deve se buscar a associação da Ordem com outras Ordens construtoras e de Cavalaria.
Quanto ao elemento judeu, assombrar-nos-ia que não estivesse presente numa Ordem iniciática nascida na Europa, pois junto com o cristianismo, que deriva dele, este veiculou os elementos diversos que hoje chamamos Ocidente, aonde se destaca a figura do sábio, rei e construtor, encarnada por Salomão.


De fato, o simbolismo do templo maçônico é fundamental na maçonaria e se o reconhece como o modelo e como o depósito de toda ciência, opinião compartilhada pelos sábios; assim no manuscrito de Isaac Newton intitulado "The original of religions" diz-se: "De maneira que era propósito da primeira instituição da religião verdadeira no Egito pôr à humanidade, mediante a estrutura dos antigos templos, o estudo da estrutura do mundo como o verdadeiro Templo do grande Deus ao qual adoravam … ". 

A Maçonaria é, segundo tudo isto, o resultado feliz da relação e síntese entre diferentes formas de acessar o Conhecimento, e a unicidade que essas formas proclamam.

Mas está claro que tamanho empreendimento não foi obra de algumas pessoas, ou do conjunto de ações individuais, encaminhadas para obter essa síntese, apesar da gratidão que merecem variadas personalidades nesse sentido.
A Maçonaria é ­e seguirá sendo­ um depósito de Sabedoria Tradicional que outorga o Conhecimento àqueles que são capazes de recebê-lo, e ao qual generosamente expandiu de modo espiritual ­a loja maçônica é um condensador de energias­, e divulgou culturalmente mediante os escritos e a participação de seus membros em diferentes instituições, sem falar de leis públicas, obras sociais, ou de beneficência. 

A isto deve acrescentar a perene dignificação do trabalho, verdadeiro objeto de culto de sua disciplina e o instrumento de conhecimento de um Maçom e portanto atividade humana por natureza.

Assinalaremos que, quaisquer que sejam as origens maçônicas, elas apontam, uma e outra vez, para os artesãos e construtores medievais e não aos sacerdotes e nobres da época. Sabe-se que os testamentos sociais eram muito fixos na Idade Média e que incluíam basicamente quatro categorias de decrescente importância: a) a Igreja, o Papado e o clero como sabedoria; b) a realeza e a nobreza, particularmente em seu aspecto militar; c) os administrativos, comerciantes e profissionais (artistas e artesãos); e d) o grupo de camponeses, dedicado ao serviço e a produção.
  
A doutrina dos ciclos nos indica que, em sucessão indeterminável, estes se encadeiam, uns com outros, mas que cada um possui uma organização prototípica quaternária comum, que se desenvolve numa ordem invariável, pela qual determinado elemento constitutivo do ciclo prepondera sobre os restantes, o que é óbvio na quaternaridade das idades do homem: infância, juventude, maturidade e ancianidade.

De qualquer maneira a Tradição Hindu também acredita nesta divisão em Castas (que nada tem que ver com as "classes sociais"), que por outra parte se encontra presente nas culturas mais arcaicas, que são fixadas pelo Destino, já que as determina o nascimento, embora como vimos na época atual os estamentos estão tão mesclados que sua validade se desintegra já que a humanidade se encontra no último estado de um período de dissolução que, como se sabe, é chamado Kali Yuga.

Do ponto de vista histórico, nasce a Maçonaria numa época onde as corporações de artesãos passavam a ser instituições de poder, e o profissionalismo de seus integrantes ocupava uma função no enquadramento do Estado.

Esta influência é parelha à perda de importância da Igreja, e da Monarquia, e se correspercadores e administrativos, em séculos posteriores.
E esta determinação que faz os ciclos históricos e as castas marcará de algum modo os maçons (face às pretensões mundanas de alguns), que em linhas gerais pertencem a estes estamentos sociais profissionais e comerciais, aos quais também protege o deus Mercúrio.
Pondo em destaque que, para a já mencionada Tradição Hindu, são os kshatriyas e, particularmente, os vaishyas (casta que igualmente pode acessar a liberação como a dos sábios e dos guerreiros) que poderiam se equiparar com os estamentos sociológicos e históricos da Maçonaria, relacionada igualmente com Noé (e sua arca), quer dizer como depositária da antiqüíssima Ciência Sagrada, emanada da Tradição Hermética.

Para finalizar apontaremos que inclusive a Maçonaria medieval é nômade, ou melhor semi-nômade, e os construtores de catedrais, castelos, ou burgos, viajavam de uma a outra área segundo suas necessidades, relacionadas com seus movimentos, tais e quais as tribos vão trocando de paragens de acordo igualmente às suas.

Num momento determinado, estes construtores se assentam em diferentes cidades e fundam grêmios de diversos ofícios, já que a cidade cresceu e se desenvolve conjuntamente com eles; são agora portanto pessoas sedentárias, que assim assentadas, oferecem de uma ou de outra maneira seus conhecimentos indispensáveis para todo labor ordenado e civilizador.
Como vemos, é possível também relacionar a Maçonaria em sua evolução com as diferentes etapas mediante as quais se gera a cultura, basicamente assentada nas cidades. Abel deu lugar a Caim, e os construtores trocam sua forma de atuar, formando o sólido modelo das cidades, e, finalmente, do estado. Caim matou Abel mas, graças a seu sacrifício, o construtor pode passar através do rígido caminho das formas, à essência não formal, que entretanto as contém de modo potencial.
O construtor então realiza por meio de uma indústria contingente uma ocupação eminentemente metafísica e transcendente.
É interessante destacar que Caim ­como se sabe, antepassado dos maçons­ foi condenado pelo YHVH a ser um vagamundo sobre a terra para purgar o crime cometido contra seu irmão Abel. 

Porém, quando construía uma cidade, sua esposa deu a luz a seu filho Enoque (apelativo que aparece no Antigo Testamento como o do filho de Caim e o do quinto filho de Set) cujo nome se fez extensivo à vila. Este último (Gênese 4, 9 a 18) deve confirmar o dito precedentemente com respeito ao fato do vagamundeio permanente e a ulterior fixação de uma família, que se projeta numa casa e posteriormente numa cidade, ou civilização.

Cremos que este tipo de simbólica relacionada com fenômenos cósmicos, ou cíclicos, está na raiz do assunto da passagem da maçonaria operativa à especulativa, ou seja, da adequação a novos modos de expressão da Ciência Sagrada em relação com os devaneios do pensamento humano. 
De todas as maneiras, este é um fato que sempre se produz em qualquer transformação onde algo se perde e algo se regenera; há quem prefira lamentar aquilo que se perdeu, outros se regozijam no fato de que a doutrina tenha sobrevivido, além de disputas mais ou menos políticos (Hannover-Stuart) ou formas do cristianismo (Igrejas reformadas­Igrejas submetidas a Roma).

Neste último caso, a vigência das reformas empreendidas pelos "modernos" universaliza a Maçonaria ao se abrirem as portas a judeus (1732) e islâmicos (1738), de modo ecumênico, em detrimento de uma ortodoxia provinciana pretendida por determinados agentes do poder eclesiástico.

E se muitos maçons ­entre os quais nos incluímos­ rechaçam o poder de Roma, não o fazem assim enquanto membros da Ordem, senão exclusivamente enquanto cristãos, comprometidos com os textos evangélicos e portanto também com o Antigo Testamento, em detrimento da nova teologia da libertação.
E embora a Maçonaria, como vimos reiteradamente, tem suas origens nos canteiros de pedras medievais, e portanto nas rigidezes religiosas das concepções desse tempo, não se deve esquecer que desde essa época até o século XVIII, onde toma sua forma especulativa, estes construtores viveram imersos num novo mundo, o do Renascimento, inspirado no Corpus Hermeticum, no Pitagorismo (também nos Hinos Órficos e nos Oráculos Caldeus) e sobretudo em Platão, nos neoplatônicos e Proclo, que se vê refletido em seus palácios, igrejas, jardins e torres, arquitetura interior, engenhos mecânicos e outras maravilhas de magia natural e experimentação científicas e artísticas (pinturas, esculturas, ourivesaria e movelaria) que tiveram sua origem na Academia dos Médicis, dirigida pelo Marsilio Ficino, cuja influência se estendeu em toda a Europa por quase três séculos, e que por certo esteve presente na Inglaterra Elisabetana e seus sucessores, e que desemboca não casualmente, e só para dar um exemplo, na tradução do Corpus Hermeticum por Sir Walter Scott, mestre maçom, na mesma época em que as lojas maçônicas inglesas irrompem com força na História moderna.

Os distintos Ritos e Obediências, apesar da sua heterogeneidade, têm em comum o Grande Arquiteto do Universo, e um ofício compartilhado: a Arte e a Ciência de Construir, que reconhecem no Símbolo sua expressão mais cabal.

De certa forma, esta diversidade poderia comparar-se às distintas "gnoses" dos primeiros séculos de nossa era, inclusive a cristã, cujo fim último era obviamente o mesmo, face às diferentes malversações nas quais pode se ver envolta qualquer associação.

Esta "atomização" das Lojas é, de fato, a forma que tomou historicamente a Maçonaria para se multiplicar, e não nos deve surpreender então que esta ou aquela Oficina dê mais atenção sobre um ou outro aspecto dos símbolos, ou das origens da Ordem, conforme se sintam mais ou menos identificados com eles. O mesmo aqueles mais relacionados emocionalmente com determinada Religião, ou com conceitos humanistas de diferentes tipos.

Todas essas idéias, ou melhor, a convergência e execução destas correntes maçônicas, hoje também podem ter lugar em um âmbito mais amplo que o das oficinas, onde muitas vezes questões meramente pessoais de simpatias e antipatias, ou problemas sociais ou econômicos e políticos podem criar tensões e até abismos entre seus integrantes. Isto poderia encontrar uma solução, como de fato já ocorre, em certas lojas de estudos maçônicos, formadas por mestres de distintas oficinas, como ocorre em outras partes; estas lojas que se reúnem uma ou duas vezes ao ano durante os solstícios, celebrando-os, são de trabalhos estritamente doutrinários e históricos sobre os símbolos, ritos e antecedentes iniciáticos da Ordem, sem se deixarem afetar pelas diversas influências que correm entre as diferentes oficinas; como já se disse, são lojas maçônicas de Mestres que já foram Oficiais ou Veneráveis de diferentes lojas maçônicas e que provaram por numerosas circunstâncias, e ao longo dos anos, sua pertença às origens, usos e costumes e deveres da Ordem.


Pondo ponto final a este superficial panorama, queremos destacar a importância que teve a Maçonaria ­e por seu intermédio a Tradição Hermética­ na independência e organização das repúblicas americanas (do Norte, Centro e Sul), onde se podem destacar, entre outras, as figuras de Francisco de Miranda, Simón Bolívar, George Washington, José de San Martín, Antônio de Sucre, José Martí, Miguel Hidalgo, não só fundadores de países, constituições, legislações e instituições, mas também de cidades, tal o caso da cidade de Washington DC., capital dos Estados Unidos que leva o nome de seu fundador e da Ciudad de La Plata, província de Buenos Aires, fundada pelo mestre maçom Dardo Rocha.



Deve se destacar que o anteriormente mencionado se fez com base ao ordenamento desses povos, promovendo à cultura, a educação, a arte e as boas maneiras em países onde sobressaíam a desorganização e a violência, cumprindo certamente a Maçonaria uma função civilizadora que subsiste de diferente forma até nossos dias, já que a América, suas instituições e forma de vida, nasceram historicamente sob seu signo.

                                                                                                                                
 

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