AS 7 ARTES OU CIÊNCIAS LIBERAIS DA MAÇONARIA OPERATIVA




Na Idade Média, no seu sentido mais amplo, as Artes pressupunham a perícia adquirida através de sistemático exercício das habilidades e voltadas para um objetivo específico. 

Assim, primitivamente, as Artes se dividiam em: 


(1) Belas-Artes (voltada para o objetivo estético); 


(2) Artes de Conduta (voltada para o objetivo ético); 

(3) Artes Liberais (voltada para o objetivo utilitário). 

As Artes ou Ciências Liberais eram tradicionalmente ensinadas nas Lojas, paróquias e municipalidades e os Mestres dessas Escolas eram chamados de “Scholastius” ou Escolásticos, que posteriormente foi estendido a todos aqueles que tivessem adquirido conhecimentos através de uma Escola.


As Artes ou Ciências Liberais tinham o seu estudo dividido em duas fases: 

(1) “Trivium”, cursado em 4 a 5 anos e onde se ensinavam a Gramática, a Retórica e a Lógica; e 

(2) “Quadrivium”, cursado em 3 a 4 anos e onde se ensinavam a Aritmética, a Geometria (juntamente com a Geografia), a Astronomia (juntamente com Astrologia e noções de Física e Química) e a Música.

Terminado o “Quadrivium”, podia-se optar por uma Universidade, a “Universitas scholarium et magistrorum” (Corporações de estudantes e professores), para o estudo de Teologia, Medicina e Direito, tendo sido posteriormente incluída a Arquitetura.

Modernamente, a Maçonaria estimula os irmãos Companheiros a estudarem as 7 Artes ou Ciências Liberais.

Comentários

  1. A importância que hoje damos às chamadas artes maiores era, na Idade Média, dada às artes liberais. Eram chamadas artes liberais porque de fato para o cidadão comum era necessário ter apenas um leve conhecimento do que tratavam e o que eram, para perceber toda a sociedade. Eram uma espécie de programa educativo da Idade Média que foi sendo refinado (já Santo Agostinho falava da importância de duas artes: a música e a arquitetura) e que se tornou de fato uma estrutura de ensino no século VI por Boécio e Cassiodoro. As Artes Liberais dividiam-se em Trivium e Quadrivium.

    O Trivium ou “encontro dos três caminhos” compreendia a Gramática, a Dialética e a Retórica. Hugo de Saint-Victor descreveu-as assim: “a Gramática é o conhecimento de como falar sem cometer erro, a Dialética é a discussão perspicaz e solidamente argumentada por meio da qual o verdadeiro se separa do falso; e a Retórica é a disciplina da persuasão para toda e qualquer coisa apropriada e conveniente”. Eram as disciplinas essenciais para quem pretendesse o sacerdócio ou qualquer lugar na hierarquia eclesiástica: nestas três disciplinas estava contido todo o conhecimento necessário para a administração da Igreja, mas também para a administração secular pois permitiam o domínio da língua, o conhecimento da sua estrutura, a argumentação e utilização do discurso poético como forma de persuasão, no caso administrativo. No entanto, com o ensino da Gramática, da Retórica e da Dialética a oscilar entre as fontes religiosas e os textos clássicos, era difícil encontrar o equilíbrio e quase sempre os ideais presentes nos textos bíblicos prevaleciam. Uma das razões da força da Dialética foi o fato de se fundamentar nos escritos aristotélicos que questionavam os propósitos bíblicos.

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  2. Os estudos mais avançados estavam reservados para o Quadrivium: Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. A arquitetura medieval, por exemplo necessitava do conhecimento profundo de todas essas matérias do Quadrivium até porque para Boécio, elas eram todas derivações da matemática. Um arquiteto medieval não era só aquele que desenhava as plantas, mas todas as modificações, os planos de construção, o fornecimento de materiais e desenhava todos os pormenores decorativos. Com isto chegamos às artes liberais que propunham fazer do homem da Idade Média, um homem com um sentido prático aliado ao sentido teológico, metafísico e espiritual.

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  3. Vamos agora primeiro ao Trivium. A primeira alegoria é a Gramática. Laurente de la Hire nunca foi a Itália em vida, e por isso o seu trabalho é fruto do conhecimento teórico e do conhecimento visual que tinha dos modelos dos seus antecessores. E até o fazia bem pois conseguia obter composições regulares e equilibradas com ênfase nas linhas verticais e horizontais que utilizava. Esta figura da Gramática sob a forma de uma mulher não é casual: era comum as mulheres personificarem as Artes Liberais graças à origem latina destes nomes (Gramática, Retórica e Dialética estão e são no feminino). A Gramática encontra-se neste quadro a jardinar e tem, enrolada no seu braço esquerdo, uma fita com os seguintes dizeres: “Uma voz articulada e aprendida da maneira correta”. A Gramática na Idade Média não tinha como objetivo ensinar a construir frases ou usar conjugações, mas assegurar a comunicação de ideias de forma clara. La Hire retrata a Gramática a cuidar de plantas e a regar flores. O vaso que a Gramática trata está assente num pequeno plinto com um pormenor de um fragmento romano, quase como se fosse uma ruína. E para completar, atrás dela, uma urna romana. A alegoria da Gramática pode ser feita através de uma mulher a regar plantas, jovens estudantes com livros aos seus pés.

    A segunda alegoria é representada por “Rhetoricians at a Window” de Jan Steen, em que aquilo que vemos são homens ébrios. Nada que nos leve a pensar na Retórica enquanto Arte Liberal. A Retórica é frequentemente representada pelo livro, pelo manuscrito. E se não for mais nada uma das personagens está a ler qualquer coisa. Serve?

    Logicamente, não consegui uma alegoria da Lógica, mas posso dizer que se alguma vez virem a pintura de uma figura feminina com uma cobra (que não seja a Cleópatra), com a sua mão pousada num ninho de vespas, a segurar um escorpião, um lagarto, se a virem com uma flor ou com um ramo de flores então estamos perante a Lógica, o que não tem lógica nenhuma. Menos lógica tem se disser que a Lógica distingue-se das outras Artes Liberais na representação, pois também pode ser representada por dois homens mais idosos de toga.

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  4. Passamos agora para as Artes do Quadrivium. A primeira delas, a Aritmética pode ser representada pelos seguintes elementos: uma tábua ou pequeno quadro, um ábaco, uma régua e um “compasso” (nessa altura tinha o aspecto de um compasso, mas servia para medir distâncias). E esta alegoria da Aritmética de Pinturicchio tem isso: a mulher que está no centro do afresco tem numa das mãos o tal “compasso” e na outra uma tábua. Mas o mais interessante é que todo o sequito masculino a acompanha com objetos relacionados com a Aritmética como livros, réguas e mais “compassos”.

    Segue-se a Geometria cuja alegoria apenas consegui associada à arquitetura que lembre-se, não era uma Arte Liberal mas foi muito beneficiada com o ensino sistemático das Artes Liberais. Desta vez, tanto a Geometria quanto a Arquitetura estão representadas por crianças. A criança do lado esquerdo representa a Geometria, enquanto a do lado direito, a arquitetura. Como é que eu sei? Porque esta última está apoiada numa estrutura qualquer que presumo ser um fuste pois tem aos seus pés um capitel que me parece ser dórico. Se esta é então a Arquitetura a criança que é a Geometria terá os seus elementos identificativos. E eles estão lá: dois poliedros no chão (um dodecaedro e um cone), um esquadro, um transferidor e para a composição ficar completa só faltava a criança ter na mão um compasso e estar sentada sobre um globo terrestre.

    Esta alegoria da Música é um pouco confusa pois nada nos indica, com toda a certeza que se trata de tal. No quadro vemos a musa Erato a guiar um cisne, atributo de Apolo que por acaso era um deus relacionado com a Música. Já que estamos a falar de Musas, para isso a musa deveria ser Euterpe, essa sim, deusa da Música. Seja como for, o cisne é um símbolo da Música (pois é o animal que “canta” antes de morrer), bem como o órgão portátil, a guitarra barroca, a viola e uma fila de sinos que a alegoria faz soar com um martelo. Há também no quadro uma lira um pouco estranha: a sua moldura são os cornos de um veado e as cordas estão esticadas a partir da cabeça do mesmo, até não se sabe bem onde. Outra relação com a Música é apoiada pelo fato de o veado estar relacionado com o ouvido e com a audição, devido ao fato de ser um animal que ouve muito bem.

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  5. Por fim. Laurent de la Hire brinda-nos com mais do mesmo. Na verdade estas alegorias realizadas por la Hire fazem parte de um conjunto que compreende as Artes Liberais, mas felizmente só consegui encontrar duas obras da autoria dele porque não gosto do estilo. A alegoria é da Astronomia representada por uma mulher/anjo em êxtase (note-se lá atrás um pedaço de asa de anjo. Que toda a gente distingue e muito bem da asa de frango por esta estar geralmente depenada. Era uma piada). Na mão com os dedinhos esticados à parola, a Astronomia tem o compasso, mas do seu lado esquerdo podemos ver a panóplia de instrumentos relacionados com a representação da Astronomia: a esfera armilar, livros, e segundo me parece, um sextante. Para completar só faltaria o globo terrestre, mas isso seria pedir demasiado.

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