História do Grau 17
Algumas versões mais antigas desse Grau, que aparecem por volta de 1760, trazem o nome de “Cavaleiro do Ocidente”, como por exemplo, o Ritual do Marquês de Gage, datado de 1763.
A primeira versão com o título “Cavaleiro do Oriente e do Ocidente” é de 1762 e se encontra na Biblioteca Nacional da França.
Apesar da diferença do título do Grau, o ritual é essencialmente o mesmo.
O Grau 17 aparece no Manuscrito Francken (uma fonte primária do Rito de Heredom) como um ritual autônomo com um fundo cavalheiresco, retirando algumas passagens do livro bíblico do Apocalipse. Rituais mais antigos falam desse Grau como sendo um Grau de Cavalaria, historicamente não relacionado com a Maçonaria.
O Grau, apesar de numericamente anterior ao Grau de Rosa-Cruz, é cronologicamente, posterior.
O 1º Ritual do Grau 17, propriamente do R.˙. E.˙. A.˙. A.˙. (fundado em 1801 nos E.U.A.), foi aprovado pelo Supremo Conselho da Jurisdição Sul em 1870 e já comportava algumas modificações importantes em relação ao seu ascendente do Rito de Heredom. Nessa versão (1870) o Grau 17 aparece como um prelúdio para o Grau 18, onde se buscava a palavra perdida do Mestre.
No ano de 1939 uma alegoria dramática, repleta de pompa e que necessitava de um largo elenco para sua execução, foi proposto como substituto para o Ritual do Grau 28 e aprovado como tentativa do que se tornaria o ritual do Grau 28 de 1940. O autor desse ritual foi o Irmão Harry K. Eversull, 32º, um clérigo e presidente do Colégio Marietta em Ohio.
A configuração da alegoria era o Templo de Jerusalém construído pelo Rei Herodes, que teria suplantado o segundo Templo, construído por Zorobabel no primeiro século da Era Comum.
A idéia foi bem acolhida pelo Soberano Grande Comandante Melvin Johnson, entre outros, mas acharam que a alegoria caberia melhor como sendo do Grau 17, pois poderia ser o “Grau de Transição” entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, o prelúdio para o Grau 18, tendo em vista que o Templo de Herodes foi o que foi visitado por Jesus que o comparou com seu próprio corpo (Jo. 2,19-22), orou nele e, inclusive, previu sua destruição, assim como de toda Jerusalém (Lc. 19, 44).
Essa mudança foi efetuada em 1942, quando o ritual do Grau 17, utilizado desde de 1870, foi substituído por aquele que foi a tentativa do Ritual do Grau 28.
O ritual novo não foi universalmente aceito. Um estudo realizado em 1954 revelou que muitos Capítulos nem o tinham adotado e nem tinham a intenção de fazê-lo, tendo em vista as dificuldades apresentadas pelo novo ritual, como cenário ritualístico e o grande número de Irmãos requeridos para sua execução.
Sendo assim, em 1957, o Supremo Conselho suspendeu a utilização do ritual aprovado em 1942 e restaurou a utilização da versão de 1870.
Nos EUA, outras reformas se fizeram necessárias e outras modificações foram e voltaram. Os rituais do Grau 17 foram revistos em 1989, 1994, 2002 e 2007 (até onde temos notícia).
No Brasil, em linhas gerais, o Ritual se manteve fiel ao teor cavalheiresco, apesar de em seu simbolismo e alegorias, ter sido notavelmente empobrecida a passagem da idéia de uma Cavalaria Terrestre para a Cavalaria Celeste entre outros elementos.
A Mitologia do Grau
A mitologia do Grau remete-nos ao ano de 1118, quando os Cruzados do Ocidente teriam se unido aos Maçons do Oriente sob a condução de Garimont (outra interpretação da letra G da Estrela Flamejante), Patriarca de Jerusalém.
O objetivo do Grau seria de velar pela segurança dos peregrinos.
O ano de 1118 não foi escolhido ao acaso. Neste ano foi fundada a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Jerusalém por Hugues de Payns, ou seja, a Ordem dos Templários.
Um dos rituais franceses utilizados atualmente traz o seguinte texto:
“Quando os Cavaleiros do Oriente e os Príncipes de Jerusalém reuniram-se para conquistar a Terra Santa, levavam uma cruz para distinguirem-se, como uma marca dos que iriam combater sob a mesma bandeira. Ao mesmo tempo, fizeram um juramento de que derramariam até a última gota de sangue para restabelecer a verdadeira religião.
A paz tendo sido alcançada, eles não puderam realizar seu desejo (pelo martírio) e retornaram a seus países. Sendo assim, resolveram unir a teoria e a prática e, juntando-se à Ordem de Malta, que naquele momento era relativamente ligada à Maçonaria, não admitiam em suas cerimônias senão quem tivesse dado provas de sua amizade, zelo e discrição.
Eles adotaram o nome de Cavaleiros do Oriente porque o sentimento que os guiava era tão grandioso, que embelezava àqueles que o possuíam e juntaram a este o “e do Ocidente” para fazer conhecer à posteridade as partes do mundo onde esta Ordem tinha surgido. Eles não mudaram nada de sua recepção que permaneceu a mesma que a de hoje.
Foi em 1118 que os onze primeiros Mestres Maçons fizeram seus votos entre as mãos de Garinum, Patriarca e Príncipe de Jerusalém, mas eles contavam mais de cinco séculos desde a origem de seu estabelecimento no Ocidente.”
Tema do Grau
Este Grau ensina a necessidade de partir em luta contra os danos causados pela intolerância, os juízos temerários, o fanatismo, destruidores da humanidade assim como contra a ignorância que engendra os erros e o obscurantismo.
Em resumo, fala da luta contra tudo que é obstáculo para o surgimento de uma consciência clara e luminosa.
O ritual brasileiro dá enfoque especial ao direito de reunião e à conscientização do povo em relação ao seus direitos através da educação.
A “túnica manchada de sangue” é um resquício do voto dos Cavaleiros que, infelizmente, desapareceu do ritual brasileiro atual.
Símbolos e Alegorias do Grau
O Peregrino
Vestidos como peregrinos, os Príncipes de Jerusalém ingressam na Câmara.
O peregrino simboliza o estado do homem sobre a Terra, o qual cumpre seu tempo de provações rumo a um estado superior.
O termo designa alguém que se sente estrangeiro no meio em que vive.
Sendo o mundo profano cercado pelas trevas da ignorância, da superstição, do fanatismo, o maçom virtuoso é sempre um “estrangeiro” em meio à escuridão que o cerca.
Os príncipes, que poderiam estar vestidos com o luxo e a distinção de sua condição de nobres, são revestidos com as pobres vestes do peregrino.
O término da viagem, um objetivo superior, é sua recompensa.
Os Essênios e o lago Méris
O nome "essênio" (do grego: essaioi) parece se originar a partir da denominação Issi'im, utilizada por terceiros para denominar o grupo.
O termo é derivado aparentemente a partir da Síria (essaya ou essenoí) e este do aramaico (chasajja = "piedoso").
Os essênios serão chamados também de Jachad, o que significa "união", "comunidade" e, finalmente, por esseni em latim, de onde o nosso “essênios”.
O Essenismo é transcrito pela primeira vez por Fílon e Flávio Josefo, onde citavam uma ordem que havia se afastado do judaísmo tradicional por motivos desconhecidos, pois seus costumes se diferenciam em determinados pontos.
Iniciaram seus estudos nos séculos que vão desde o ano 150 A.E.C. a 70 D.E.C.
Dos hábitos comuns do grupo, pode-se dizer que alimentavam-se basicamente de frutas e legumes (eram vegetarianos) e que banhavam-se em águas como forma de ritual para a purificação espiritual.
As toalhas submersas em água do nosso Ritual do Grau 17 são referência a isso.
Durante o domínio da Dinastia Hasmonéa (140 – 37 a.E.C.), os essênios foram perseguidos.
Retiraram-se por isso para áreas desérticas, vivendo em comunidade e em estrito cumprimento da Torá de Moisés, bem como do estudo e das práticas virtuosas descritas nos livros dos Profetas.
Méris é o nome dado pelos antigos escritores gregos a um grande lago da atual região de El Fayum, no Egito. Atualmente, é um lago salgado de tamanho bem reduzido, chamado de Birket Qarun. O faraó Amenemhat III erigiu perto de Méris um imenso complexo de edifícios e uma grande Necrópolis.
O lago simboliza o “olho da terra” por onde os habitantes do mundo subterrâneo podem ver os homens, os animais, as plantas, etc. Numa analogia, simboliza a revelação de camadas mais profundas da consciência e o voltar-se para dentro de si.
O lago de Méris era visto pelos Teólogos do Antigo Egito como uma manifestação real e terrestre da Vaca do Céu, um céu liquido onde o sol se escondera misteriosamente....um afloramento do Oceano Primordial, mãe de todos os deuses, dando vida aos humanos, a garantia da existência e da fecundidade.
O Arco-Íris
O arco-íris é símbolo do caminho e mediação entre a terra e o céu. É a ponte, de que se servem os deuses e heróis, entre o Outro Mundo e o nosso.
Na Grécia, o arco-íris é Íris, a mensageira rápida dos deuses. Simboliza também, de modo geral, as relações entre o céu e a terra, entre os homens e os deuses: é uma linguagem divina. Na China, a união das cinco cores atribuídas ao arco-íris é aquela do yin e do yang, o signo da harmonia do universo e de sua fecundidade.
No contexto do Grau 17, o arco-íris é símbolo da união de contrários e também a reunião das metades separadas, a resolução.
O arco-íris, ao aparecer por cima da arca de Noé, reúne as águas inferiores e as águas superiores, metades do “ovo” do mundo, como sinal de restauração da ordem cósmica e da gestação de um ciclo novo.
O arco-íris é símbolo anunciador de felizes acontecimentos ligados à renovação cíclica.
Através de virtudes superiores é possível ligar o homem ao céu e aos seus Irmãos.
A Lua manchada de sangue
A Lua é símbolo de dependência (do sol, por não ter luz própria) e de periodicidade e de renovação. Também é símbolo de inconstância. Simboliza ainda os ritmos biológicos, o tempo vivo. É também o primeiro morto.
Durante três noites, em cada mês lunar, ela está como morta, ela desapareceu...Depois, reaparece e cresce em brilho. Da mesma forma, considera-se que os mortos adquirem uma nova modalidade de existência.
A Lua é para o homem o símbolo desta passagem da vida à morte e da morte à vida.
O sangue está relacionado com o simbolismo da vida. Em diversas escrituras antigas é visto como veículo e princípio da vida.
Simboliza todos os valores solidários com o fogo, o calor e a vida que tenham relação com o sol. A esses valores associa-se tudo o que é belo, nobre, generoso, elevado.
Também participa da simbologia geral do vermelho.
No contexto do Grau 17, representa que, enquanto para o supersticioso a Lua representa anúncios de catástrofes e de desgraças, para o verdadeiro Iniciado ela é símbolo de renovação, assim como o sangue derramado pela Verdade não é motivo de terror, mas sim de nobreza, de beleza, de generosidade e de elevação.
O heptágono
O heptágono está ligado ao simbolismo do número 7. Sete é a união do ternário e do quaternário. “Hepta” quer dizer “sete”, e “gonia” quer dizer “ângulo”.
O número 7 é símbolo de integridade, totalidade, de plenitude e perfeição.
A marcha pelo “heptágono” está ligada à abertura dos sete selos do livro do Apocalipse, que só o Cordeiro pode abrir (Apocalipse Cap. 5 a 8).
A Balança e as espadas cruzadas
A balança é símbolo do equilíbrio, da medida, da prudência e da justiça.
Associada à espada, é também a justiça, mas duplicada pela VERDADE.
A espada é, assim como a balança, um símbolo axial e polar, a arma do centro.
As espadas cruzadas são a defesa da justiça e da verdade, personificadas pelo princípio transcendental CENTRAL ou AXIAL.
O Arco, as flechas, o crânio, a coroa e o incenso
Apesar de terem sido suprimidos do nosso ritual brasileiro, o Arco, as flechas, o crânio, a coroa e o incenso fazem parte do simbolismo do Grau.
Segundo as instruções de um ritual do final do século XIX, eles têm a seguinte significação:
“O arco, as flechas e a coroa significam que a palavra do Venerável e as decisões da Loja devem ser executadas com a rapidez do vôo das flechas e com a submissão que se deve ter diante das testas coroadas...a caveira simboliza um Irmão exilado de nossas Lojas...o incenso é aqui figurado para nos lembrar que a Maçonaria está espalhada por toda a terra e que sua honra é como o perfume do incenso.”
A flecha identifica-se ao relâmpago.
O relâmpago é o traço de luz que traspassa as trevas da ignorância: portanto é um símbolo do conhecimento.
O arco significa a tensão de onde brotam nossos desejos. Ou seja, a vontade que direciona o conhecimento para vencer as trevas.
A coroa, além de símbolo do poder do coroado, é símbolo de ligação entre o que está em baixo (o coroado) e o que está em cima (o Princípio Superior, representado pelo Céu).
Dentre diversas possíveis interpretações positivas, a que é dada no Grau 17 ao crânio é negativa. Simboliza a ausência de vida espiritual quando o maçom se afasta dos princípios cultuados nas Lojas.
As cores branca, preta, dourada e vermelha
O branco, além de figuração de pureza, também representa a entrada no invisível, na plenitude de novas possibilidades, na transição, nos aspectos celestiais.
O negro representa a coexistência de contrários que se fundem, o ponto de partida da Grande Obra, a Nigredo, de superação dos aspectos sombrios.
O ouro é visto como o metal perfeito, símbolo solar, reflexo da luz celeste. Figura a nobreza de ação e de pensamento, conclusão da Grande Obra Alquímica.
O vermelho também está ligado com o simbolismo alquímico, a fase final da Grande Obra, a Rubedo, Obra em Vermelho.
Simboliza a vida, a ação, o sangue derramado em defesa da Verdade.
O avental do Grau 17
O avental utilizado no Brasil é fruto de uma reforma ocorrida nos EUA no começo do século XX.
O Telhador de Lausanne, traz como descrição do avental simplesmente: de seda amarela, orlado de vermelho.
Nada mais.
O Telhador não fala em letras hebraicas, em tetractys pitagórica e também nada diz sobre duas faixas. Fala em uma faixa branca e um colarete preto, de onde pende a jóia.
A modificação se deu nos EUA e, a princípio, constava da tetractys pitagórica com as letras hebraicas do Tetragramaton, além de uma espada na abeta.
Depois, em uma das muitas modificações do ritual norte-americano, a tetractys foi invertida e as letras hebraicas do tetragramaton foram suprimidas, deixando-se apenas o yod, o que descaracterizou o simbolismo original da tetractys com o tetragramaton.
Abaddon (Apolyon) e Zabulon (Jabulum): Abaddon é o anjo da destruição no Apocalipse. É citado no Capítulo 9, versículo 11. Já Zabulon (ou Jabulon, Jabulum etc.) é objeto de muitas controvérsias. Segundo o historiador maçônico Arturo Hoyos, a palavra Jahbulon foi primeiramente usada em 1700, na França. Conforme Paul Naudon, seria a relação a uma alegoria maçônica na qual Jabulon era o nome de um explorador vivendo durante o tempo do Rei Salomão, que descobriu as ruínas de um templo antigo. Segundo as explicações de Hoyos e de Morris, dentro das ruínas o explorador encontrou uma placa de ouro sobre a qual o nome de Deus foi gravado, contudo salientam os autores, que em momento algum, da simbólica representação, é feita ligação entre o nome do explorador e o nome de Deus. Afirmam que, como existem variantes deste ritual, diferentes formas do nome do explorador também são encontradas além de Jabulom, como Guibulom.
O Masonic Information Center, em algumas de suas publicações afirma que é provavelmente derivado de Giblim, de 1 Reis 5:18 referente a palavra gebalitas ou giblitas ou "homens da cidade de Biblos" e, segundo Hoyos, devido a "uma má interpretação das letras em hebraico", teria havia a concepção "trinitária" para o nome.
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