Durante todo o século XIX são inúmeras as referências à atuação da maçonaria no Brasil.
Nesse período no Brasil, seria difícil encontrar um político do primeiro e do segundo Reinado, ou mesmo dos anos iniciais da República, que não tivesse em algum momento de sua vida se filiado a uma loja maçônica (AZEVEDO, 1997).
Desse modo, a história dos maçônicos no Brasil se confundia nessa época com a história do próprio país. Segundo Horrel (1996) as sociedades maçônicas chegam à América Latina no século XVIII, fornecendo estruturas clandestinas e participando de lutas revolucionárias, envolvendo grandes nomes de movimentos por independência como: Simon Bolívar, Carlos Alvear, San Martín e Francisco Miranda.
Esta sociedade no Brasil fez parte de movimentos políticos como a Inconfidências Mineira, Carioca e Baiana, além disso, muitos nomes importantes para história brasileira estavam envolvidos com a mesma, como o próprio imperador Dom Pedro I, o qual foi iniciado na Maçonaria e, logo, proclamado Grão-Mestre da Loja Grande Oriente do Brasil em 1822. Vieira (1980) ressalta que, no Brasil, como em outras partes, a maçonaria foi um dos veículos da divulgação do liberalismo.
Conforme o autor citado, esta corrente filosófica defendia o livre-arbítrio, o progresso e a emancipação do homem.
Além dessas ideias defendia o poder do Estado, que deveria ser exercido com o propósito de criar condições para que o indivíduo pudesse crescer e expressar-se livremente.
Desse modo, a Maçonaria foi um instrumento de 94 ISSN 1809-2888 Licenciado sob uma Licença Creative Commons Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano XI, n. 52 divulgação do liberalismo na colônia portuguesa, e seus ideais eram liberdade civil, religiosa e política (VIEIRA, 1980).
Horrel (1996), destaca que não se sabe ao certo o tempo exato da chegada da Maçonaria ao Brasil, mas por volta de 1800 já havia várias organizações com inspiração maçônica. Já Azevedo (1997), mostra que no Brasil há notícias da existência de maçons desde fins do século XVIII, como o envolvimento na Inconfidência Mineira e depois na Conjuração Baiana de 1798.
Mas o que se tem por certo é que a primeira loja brasileira, Reunião, foi criada em 1801 no Rio de Janeiro vinculada ao Oriente da Ilha de França.
No ano seguinte, fundou-se uma segunda loja na Bahia, Virtude e Razão. Em 1804 foi a vez do ingresso da maçonaria portuguesa no Rio de Janeiro, constituindo-se duas lojas, Constância e Filantropia, sob a égide do Grande Oriente da Lusitânia (AZEVEDO, 1997). Segundo Azevedo (1997), durante os últimos anos da colônia portuguesa, e depois já como país independente, alternaram-se fases de perseguições policiais e proibições oficiais à maçonaria e fases de tolerância, permissão e mesmo participação ativa de altas autoridades políticas em suas lojas, como foi o caso de D. Pedro I, José Bonifácio de Andrada e Silva e o visconde do Rio Branco.
Carvalho (2010), também salienta que os governos coloniais da época tinham instruções precisas para impedir o funcionamento de Lojas no Brasil. Tanto que as Lojas Constância e Filantropia foram fechadas em 1806 no Rio de Janeiro, cessando as atividades maçônicas nesta cidade, mas continuando e se expandindo, principalmente na Bahia e em Pernambuco. O Rio de Janeiro, contudo, não ficou sem Loja, e apesar da proibição os trabalhos prosseguiam com as Lojas São João de Bragança e Beneficência.
A autora Celia Azevedo (1997, p. 181-182) aponta que em 1835 a maçonaria no Brasil dividia se em quatro Supremos Conselhos e dois Grandes Orientes:
[...] o Grande Oriente do Brasil, criado em 1822 e depois reconstituído em 1831 sob a direção do grão-mestre José Bonifácio de Andrada e Silva;
- o Grande Oriente Brasileiro, instituído também em 1831, de obediência ao rito francês moderno;
- o Supremo Conselho Brasileiro, fundado em 1832 por Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, visconde de Jequitinhonha, sob a autoridade do Supremo Conselho da Bélgica e mediante a introdução dos Altos Graus do rito escocês; em reação a esse último, cada um dos dois Grandes Orientes mencionados constituíram os seus Supremos Conselhos;
- e, por fim, um quarto Supremo Conselho surge de uma cisão de um dos Grandes Orientes.
Carvalho (2010), apresenta um breve resumo dos primórdios até a fundação do Grande Oriente do Brasil, a mais antiga, a maior e a mais tradicional Obediência brasileira, a saber:
1796 – Fundação, em Pernambuco, do Areópago de Itambé, que não era uma verdadeira Loja, pois, embora criado sob inspirações maçônicas não fosse totalmente composto por maçons; 95 ISSN 1809-2888 Licenciado sob uma Licença Creative Commons Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano XI, n. 52
1797 – Fundação da Loja Cavaleiros da Luz, na povoação da Barra, Bahia; 1800 – Criação, em Niterói, da Loja União;
1801 – Instalação da Loja Reunião, sucessora da União;
1802 – Criação, na Bahia, da Loja Virtude e Razão; 1804 – Fundação das Lojas Constância e Filantropia;
1806 – Fechamento, pela ação do conde dos Arcos, das Lojas Constância e Filantropia;
1807 – Criação da Loja Virtude e Razão Restaurada, sucessora da Virtude e Razão;
1809 – Fundação, em Pernambuco, da Loja Regeneração;
1812 – Fundação da Loja Distintiva, em S. Gonçalo da Praia Grande (Niterói);
1813 – Instalação, na Bahia, da Loja União;
1813 – Fundações de uma Obediência efêmera e sem suporte legal – que alguns consideram como o primeiro Grande Oriente Brasileiro – constituída por três Lojas da Bahia e uma do Rio de Janeiro;
1815 – Fundação, no Rio de Janeiro, da Loja Comércio e Artes;
1818 – Expedições do Alvará de 30 de março, proibindo o funcionamento das sociedades secretas, o que provocou a suspensão – pelo menos aparentemente – dos trabalhos maçônicos.
1821 – Reinstalação da Loja Comércio e Artes, no Rio de Janeiro;
1822 – 17 de junho: fundação do Grande Oriente. Os ideais maçônicos Vieira (1980) enfatiza que as ideias liberais chegaram ao Brasil por meio da França, através de jornais, livros e por estudantes brasileiros e portugueses liberais. O segundo momento que marca o liberalismo no Brasil, conforme o autor supracitado deu-se por meio do pensamento liberal inglês em um momento de forte influência inglesa tanto econômica, quanto militar e política sobre portugueses e brasileiros.
O liberalismo brasileiro lutava em favor da imigração, da completa liberdade de religião, do casamento civil, e eventualmente da separação entre a Igreja e o Estado (VIERA, 1980, p. 45- 46).
Os principais ideais maçônicos são: [...].
O Programa da maçonaria brasileira conservadora, como deduz deste estudo, parece ter sido:
a) conservar a nação unida a qualquer preço, usando o trono como ponto de apoio;
b) controlar a Igreja, conservando-a liberal, dominada pela Coroa, com um do clero não educado e sobretudo, não ultramontano;
c) lutar pelo progresso do Brasil por meio do desenvolvimento da educação leiga, da expansão do conhecimento científico e técnico e da importação de imigrantes progressistas e tecnicamente educados, dos Estados Germânicos, da Inglaterra e de outras nações protestantes. (VIEIRA, 1980, p. 46).
A Maçonaria ao apoiar a coroa, estabelece seu ponto de apoio a fim de alcançar os seus objetivos que é controlar o poder da Igreja Católica, através do poder da coroa. Estabelecer uma nova educação moderna e progressista, com novos conhecimentos que chegavam com os imigrantes vindos principalmente da Europa. A Igreja Católica logo reagiu ao liberalismo por tratar de uma visão moderna, uma vez que a modernidade era uma ameaça ao sistema doutrinário da mesma. Esses conflitos marcam a Europa e a América Latina por meio de crescentes problemas com o ultramontanismo.
Vieira (1980), destaca que nos fins da década de 1890 a Maçonaria vai dá ênfase ao republicanismo, pensamento que se fundamenta nos ideal republicano americano, tempo depois abraça as ideias positivistas. Segundo o autor, a Maçonaria foi uma das primeiras tentativas para formar-se um ecumenismo religioso em qualquer lugar onde ela se estabelecesse.
Bastava o maçom declarar que cria em Deus o Supremo Arquiteto do Universo, com isso evitava conotações cristãs da palavra Deus.
No Brasil, esse ecumenismo foi um dos aspectos que mais perturbou os ultramontanos católicos.
Referências
ResponderExcluirALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim. São Paulo. Arte Editorial, 2005.
AZEVEDO, Celia M. Marinho de. Maçonaria: História e historiografia. Revista USP, São Paulo
(32). 1996-1997, p. 178-189.