ABÓBADA CELESTE
Convém desde já referir que sobre esta temática não encontramos qualquer tipo de manual oficial, com regras previamente estabelecidas e aprovadas superiormente, com a designação dos elementos simbólicos a colocar no teto de um Templo do R∴E∴A∴A∴, bem como da sua distribuição em termos de composição.
Limitamo-nos a indicações e sugestões, que desde os séc. XVIII e XIX nunca coincidiram, pelo que nos atrevemos a considerar que as propostas encontradas, partem das orientações e interpretações pessoais de mestres, associados à criatividade e destreza psicomotora do artista que executou a obra.
Na maçonaria, a oralidade é caraterística dominante, fruto de um passado que se exigia de secretismo, não só devido às perseguições havidas em determinados períodos da nossa história, mas fundamentalmente porque a compreensão dos conhecimentos esotéricos tem como suporte a lenda e o símbolo.
Tendo em conta que a lenda é fruto exclusivo da tradição, sem qualquer tipo de documento histórico que demonstre a sua autenticidade, podemos concluir que a sua origem está na oralidade.
Contudo, é necessário que o leitor compreenda que estamos perante um procedimento de caráter pedagógico em relação aos iniciados nesta ordem (aprendizes e companheiros), já que se não existe conteúdo, o objetivo é estabelecer doutrina filosófica.
Portanto, não se coloca aqui o contexto científico!
Logo os dois modelos pedagógicos de aprendizagem baseiam-se em símbolos e lendas.
Devemos mesmo considerar que estamos no mundo do criticismo de Kant, já que a análise crítica da origem, do valor e dos limites do conhecimento racional constituem-se no ponto de partida da reflexão filosófica.
Para crer em Deus basta erguer o olhar para cima (PLATÃO, 428 – 348? a. c.)
No campo da arquitetura serão os romanos a construir edifícios com o teto em forma de abóbada nos templos religiosos, embora em honra dos deuses romanos, herdados da cultura religiosa grega.
Sabemos que a cobertura dos templos gregos era de madeira na base de uma estrutura de traves entrelaçadas horizontalmente, o mesmo sucendeu com outras civilizações como a Egípcia e a Egeia (Cicládica, Minoica e Micénica).
Portanto, a forma em abóbada é comum aos templos religiosos romanos e posteriormente, adotada aos templos cristãos.
Na cultura religiosa islâmica este conceito simplesmente não existe, onde qualquer tipo de representação está ausente.
Os elementos simbólicos empregues na composição da “abóbada celeste”.
Desde sempre a abóbada de um tempo pretende simbolizar o cosmos através da representação do “firmamentum” celeste, a morada dos deuses.
No templo maçônico não se representam figuras humanas, deuses ou santos na Abóbada Celeste.
Simplesmente, representa-se o teto do verdadeiro templo da humanidade, se considerarmos simbolicamente a Loja através um significado universal.
Quando falamos sobre maçonaria, estamos perante uma sociedade com uma cultura hermética, sob o ponto de vista filosófico, onde a cultura maçônica apropriou-se ao longo dos tempos de várias correntes místicas e filosóficas que começam na civilização egípcia, na astrologia, na alquimia, na Caballah, no exoterismo medieval cristão e no pensamento Rosacruz.
Tal é o caso da religião praticada no Antigo Egito através da valorização do culto do Sol e da astrologia, representados no teto do Templo de Luxor.
Posteriormente, esta prática influenciaria os povos da Antiga Grécia, o Romano e o Judeu.
Relativamente à Abóbada Celeste, seja num Templo do R∴E∴A∴A∴, num Templo Católico ou num templo Judaico, podemos concluir que existe uma perspetiva comum no que respeita ao pensamento filosófico místico judaico-cristão, cuja base encontramos logo nos cinco primeiros versículos do livro bíblico de Géneses:
“No princípio Deus criou os céus e a terra.
1. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
2. Disse Deus: "Haja luz", e houve luz.
3. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas.
4. Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o primeiro dia” (Livro do Génesis
São estas as palavras que determinarão a divisão em duas partes do Templo de Salomão (tabernáculo) e dos templos cristão e maçônico.
Se no Templo de Salomão o “Santo dos Santos” era o local mais sagrado onde estava a Arca da Aliança, lugar de acesso reservado aos sacerdotes da tribo de Levi, no templo cristão o “Altar” é o espaço reservado aos sacerdotes e onde se encontram objetos sagrados como a Âmbula, o Cálice, o Ostensório e o Cruxifixo.
No templo maçônico o “Oriente” é o lugar reservado.
O hermetismo é o campo de estudo e prática da filosofia oculta, fundamentalmente ao Venerável-mestre e onde se encontram elementos simbólicos considerados sagrados como o Delta Luminoso e o Candelabro de três velas.
Todos os elementos e objetos simbólicos referidos representam o sagrado através da Luz, que por sua vez se associa ao Conhecimento e consequentemente, ao Poder.
O restante espaço do templo de Templo de Salomão tinha a designação de “Santo” e era reservado aos fiéis que assistiam ao ritual judaico.
No caso do templo cristão a zona dedicada aos fiéis tem a designação de “Nave”.
No templo maçônico o lugar destinado aos Aprendizes, Companheiros e Mestres designa-se de “Ocidente”.
Nos três casos referidos estamos perante um espaço de aprendizagem e, portanto, “sem luz”, permitindo a necessária concentração para a aquisição do conhecimento.
Em qualquer das situações, o primeiro espaço referido (“Santo dos Santos”, “Altar” ou “Oriente”) está sempre num plano superior.
Se no teto do templo religioso são fundamentalmente representados símbolos e figuras humanas (Jesus Cristo, apóstolos e santos), geralmente inseridas numa composição espacial.
No templo maçônico do R∴E∴A∴A∴ representa-se a imagem do universo estrelado com o sol, os planetas do nosso sistema solar, constelações, nuvens e símbolos, estando ausente qualquer tipo de representação da figura humana.
No que respeita à representação pictórica da abobada celeste existe apenas um elemento comum entre o templo cristão e o templo maçônico e que consiste na representação do céu e do firmamento.
Com a evolução da arquitetura a forma de abóbada no “Altar” e no “Oriente” deixou de ser realizada nos novos templos, passando a ser um plano horizontal.
Quando se constitui um novo templo maçônico, raras são as vezes que se parte de uma estrutura arquitetónica projetada com as dimensões em harmonia com os antigos rituais e baseadas em princípios geométricos como a medida áurea.
Raros são templos da Maçonaria que possuem a forma de uma abóbada no Oriente, pelo que a representação pictórica está limitada a um espaço arquitetónico constituído por um teto plano e com um pé bastante baixo, como foi o caso do presente projeto.
BIBLIOGRAFIA
© EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC STUDIES 2017. OS ELEMENTOS SIMBÓLICOS EMPREGUES NA COMPOSIÇÃO DA “ABÓBADA CELESTE”
The symbolic elements used in the composition of the “Dome Celeste” CANOTILHO, Luís1
Mais conhecido como Firmamento para o público em geral, a Abóbada Celeste define-se como o hemisfério celeste visível, cujo estudo pertence ao campo específico da astronomia. Contudo o presente trabalho pretende compreender o conceito, fora do campo científico, através de uma leitura simbólica muito singularizada, contextualizada e interpretada, no seio de uma sociedade discreta, como é a Maçonaria.
ResponderExcluirO presente trabalho que teve como base a revisão da literatura sobre o tema, ao nível dos elementos simbólicos, manuais dos rituais e publicações de caráter histórico, serviu de base para a elaboração de uma composição pictórica que veio a ser executada nos tetos dos dois templos do Rito Escocês Antigo e Aceite da Grande Loja Regular de Portugal / Grande Loja Legal de Portugal, na cidade do Porto, no mês de agosto de 2016.