ESTUDOS.... ÉTICA, MORAL, LIVRE ARBÍTRIO E MORAL MAÇÔNICA

Ética e Moral: Dois Conceitos de uma mesma Realidade | O Ponto ...

ESTUDOS SOBRE ÉTICA E MORAL MAÇÔNICA

Carlos Alberto de Camargo, M.´.M.´. 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS 

A Maçonaria é uma associação íntima de homens escolhidos, cuja doutrina tem por base a crença no Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, e dentre suas características, tem a Lei Moral como um de seus suportes. 

Por esse motivo, foi muito bem conceituada como uma ciência de moralidade, velada em alegorias e ilustrada por seus símbolos. 

Sendo a Maçonaria essencialmente simbólica, a doutrina maçônica encontra-se escondida e se revela aos iniciados através do simbolismo, tanto para proteger-se em face da curiosidade profana, quanto para estimular o trabalho virtuoso de sua interpretação. 

É, portanto, dessa forma que ela busca despertar e motivar nos iniciados a vocação para serem obreiros conscientes e dedicados no Plano do Grande Arquiteto para o aperfeiçoamento da humanidade. 

E o valor moral cultuado em nossa Sublime Ordem inspira e orienta o comportamento de seus obreiros. 


A LEI MORAL NA CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON 

Esse aspecto é tão importante que, já em 1721, a Constituição de James Anderson – a primeira Constituição Maçônica -, publicada em 1723, o contemplou, logo em seu artigo primeiro, com o seguinte texto: “Um Maçom é obrigado, por sua Condição, a obedecer à Lei Moral”. 

Tal importância consagra, na moderna maçonaria, o valor moral que baliza a conduta de todos os verdadeiros maçons no seu dia-a-dia, no esforço de aperfeiçoamento da obra do Grande Arquiteto. 

Decorre, daí, que a obediência à Lei Moral foi expressamente eleita como o primeiro dos deveres do maçom, um dever com precedência sobre todos os demais, salvo, evidentemente ao da crença no Criador de tudo. 

Isso nos permite demarcar, no âmbito do valor moral, nossa relação com o mundo, para que nossa linha de conduta esteja sempre em harmonia com o Plano do Grande Arquiteto do Universo. 


MORAL 

Etimologicamente, o termo moral tem origem no latim morales, cujo significado é “relativo aos costumes”. Por isso, podemos entendê-la como sendo o conjunto de regras de comportamento adquiridas ao longo do tempo através da tradição, da cultura, da educação e mesmo do dia-a-dia, e que orientam o comportamento, o modo de agir das pessoas dentro de uma sociedade ou de um grupo específico. 


A LEI MORAL E O LIVRE ARBÍTRIO 

Como nossa conduta dependerá totalmente de nossas escolhas e, para tanto, de nossa liberdade de escolher, não podemos, evidentemente, ser escravos, nem dos outros e nem de nós mesmos. 

Aristóteles ensinou que o que leva à falta de liberdade não é apenas a escravidão física, mas também a escravidão mental, que não deixa o homem pertencer a si mesmo, porque o submete às suas paixões, preconceitos etc. 

As escolhas feitas pelo homem submisso à escravidão, seja a escravidão física, seja a escravidão mental, não são livres e, portanto, não representam sua vontade na determinação da direção a seguir e do objetivo a atingir. 

O verdadeiro maçom - homem livre e de bons costumes, que eliminou seus vícios ao desbastar a Pedra Bruta-, pode decidir e orientar-se por si mesmo, embora mantendo-se no âmbito da Moral Maçônica. 

Para nossa sublime Ordem, o obreiro deve orientar sua vida maçonicamente, buscando tanto o continuado aperfeiçoamento pessoal na construção de seu Templo interior, como contribuindo para o aperfeiçoamento da humanidade, conforme o Plano do Grande Arquiteto. 

E que o faça de uma forma voluntária e consciente. 

Seu trabalho deve ser orientado por sua meditação e estudo e apoiado em sua razão e sua vida em sociedade deve ser honrosa e útil. 

Para Aristóteles, o sentido da vida passa pela prevalência do espírito sobre a matéria. 

O desenvolvimento material é egoísta. 

O desenvolvimento espiritual leva à busca do bem-estar geral, do aperfeiçoamento da humanidade. 

Enquanto o escravo mental – o homem sem liberdade de escolha - submetido a seus próprios vícios, contenta-se com a satisfação material – a matéria prevalecendo sobre o espírito, o homem livre pode fazer escolhas que levem ao aperfeiçoamento do espírito – o espírito prevalecendo sobre a matéria. 

Essa atitude se baseia no amor fraterno, na rotina de praticar boas ações, de fazer o bem e, sobretudo, de cooperar ativamente para o aperfeiçoamento da humanidade, com tolerância, amor, sacrifício, dedicação e disposição de servir

Podemos mesmo fazer uma diferenciação entre a moral objetiva e uma moral subjetiva

A moral objetiva é a que determina o comportamento humano conforme os padrões estabelecidos em uma sociedade ou em um grupo social. Ela é geral

A moral subjetiva é íntima em cada indivíduo, fundada em suas crenças e valores, orientando seu comportamento conforme suas convicção e vontade. 

O aperfeiçoamento pessoal que a Maçonaria procura inspirar em seus iniciados é um trabalho essencialmente individual e íntimo, pois a construção do nosso templo interior deve ser realizada sem machado e sem martelo, no silêncio da meditação e do estudo, com virtudes como perseverança, paciência, coragem, humildade e pela prática rotineira de ações virtuosas. 

Por isso, é indispensável na maçonaria o desenvolvimento da moral subjetiva. 


O SENTIDO DA VIDA E O VALOR MORAL 

De nós, depende, portanto, tornarmo-nos homens úteis, dotados de uma inquietude altruísta, o que nos estimula permanentemente a meditar sobre a finalidade de nossa existência, a direção que elegemos para nossa vida e a qualidade da caminhada, balizada pelo valor moral com que nos relacionamos com o mundo por onde caminhamos. 

Isso tudo dependerá totalmente de nossas escolhas e, para tanto, de nossa liberdade de escolher. 

Para Epícuro, a busca da felicidade é o sentido da vida. 

Mas não devemos nos contentar com a felicidade egoísta, pois a vida só tem sentido quando buscamos fazer feliz a humanidade. 

O crescimento espiritual leva à postura altruísta em relação ao bem-estar de seus semelhantes, à felicidade da humanidade. 

Somos a um só tempo obra e obreiros da grande criação de Deus

Somos obra de Sua criação, mas somos, em um protagonismo especial, obreiros no aperfeiçoamento de Sua obra. 

Se somos obra e se somos obreiros, somos a obra em andamento, portanto, para a Glória do Grande Arquiteto de Universo. 

Assim, adequar seu comportamento à Lei Moral é requisito essencial na vida do maçom, que deve ter moral ilibada e preservada assim por toda sua vida. 


ÉTICA E MORAL 

Embora Ética e Moral estejam ambas relacionadas à valorização do comportamento humano, elas não são a mesma coisa. 

Ética advém do vocábulo grego “ethos” que significa costume, portanto poderíamos, genericamente, chamá-la de doutrina dos costumes. 

Mas se assim foi nos seus primórdios, tal entendimento modificou-se a partir da interpretação de Aristóteles, que ligou as virtudes éticas à consecução de uma finalidade, portanto, orientando o homem na esfera da prática, servindo à ordem e à vida da sociedade organizada, originando a justiça, a amizade, o valor moral

Assim, o vocábulo evoluiu até tornar-se a ciência que se ocupa dos objetos morais. 

Pode-se dizer então que Ética, além de abstrata é, essencialmente, o conteúdo moral dos comportamentos. 

A ética está relacionada à avaliação do comportamento humano, implicando em julgamento pessoal. 

A Moral, por outro lado, é um conjunto de regras de conduta humana

É normativa e não teórica como a Ética. 

São normas, princípios, costumes e valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social, e implica na conformidade do comportamento do indivíduo com o padrão aceito no grupo a que pertence, da forma como a Moral Maçônica orienta o comportamento dos obreiros na Maçonaria. 


MORAL MAÇÔNICA 

Fundada no amor ao próximo, a Moral Maçônica vai bem além da elementar moral social, que se ocupa dos bons costumes. 

Ela se baseia no amor fraterno, na rotina de praticar boas ações, de fazer o bem e, sobretudo, de cooperar ativamente para o aperfeiçoamento da humanidade, com tolerância, amor, sacrifício, dedicação e disposição de servir. 

O amor fraternal nos leva a encarar toda espécie humana como uma única grande família de pessoas igualmente dotadas de dignidade humana e que devem se apoiar mutuamente dentro de uma grande fraternidade. 

Esse grande objetivo da Maçonaria passa pela união de seus Obreiro em uma Fraternidade Maçônica, orientada pela Moral Maçônica. 

A obediência a essa Lei Moral é obrigação do maçom, portanto, e tem como fundamento o seu papel no equilíbrio universal, pressuposto de uma ordem superior e inteligente, estabelecida pelo Grande Arquiteto, exigindo do obreiro que o bom comportamento seja acompanhado de virtudes como tolerância, amor, dedicação, o sacrifício e a disposição de servir e não de ser servido

Somente assim será possível a construção da Fraternidade Maçônica. 

Sendo a Maçonaria uma instituição essencialmente ética, ela educa seus membros para serem homens com sólidos princípios morais e que trabalhem continuamente para seu próprio aperfeiçoamento e para o aperfeiçoamento da sociedade. 

Esse trabalho contínuo é fundamental, porque, segundo Aristóteles, a virtude moral é adquirida como resultado de uma prática constante e rotineira

E exatamente neste ponto se destaca uma grande virtude de nossa Sublime Ordem: o seu método de ensino em termos de Moral Maçônica. 

Se a virtude moral não se adquire apenas pelo aprendizado teórico, mas sim pela prática rotineira de atos virtuosos, todo o esforço da Maçonaria deve estar direcionado para criar, desenvolver, conservar e aprimorar os hábitos que conduzam a essa virtude moral. 

A virtude é um impulso que gera no indivíduo uma inquietude que o induz à prática do bem, que se compõe, na verdade, não só de grandes ações, mas de pequenos eventos de ação construtiva em seu dia-a-dia, com efeito no aperfeiçoamento da fraternidade universal. 

O amor fraternal ensina-nos a encarar toda a espécie humana como uma única família. 

Todos somos criaturas do Todo-Poderoso, enviadas ao mundo para se sustentar, auxiliar e proteger mutuamente. 


CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Podemos, portanto, estabelecer que existe uma Ética Maçônica e uma Moral Maçônica. 

Enquanto a primeira, abstrata, é o conteúdo moral dos comportamento do maçom, implicando na permanente avaliação de sua conduta, que deve ser, em última instância, direcionada ao aperfeiçoamento da humanidade para a Glória do Grande Arquiteto do Universo, a Moral Maçônica, embora necessariamente baseada na Ética Maçônica, é normativa e não teórica como esta última, constituindo-se em normas, princípios e costumes que norteiam o comportamento do obreiro. 

Porém, como o comportamento do homem está sujeito ao seu livre-arbítrio, este é livre para escolher entre esta ou aquela conduta, e agir conforme sua vontade. 

Em razão disso, para que seja livre e de bons costumes o maçom é estimulado a vencer suas paixões e submeter sua vontade, levantando templos à virtude e cavando masmorras ao vício. 


BIBLIOGRAFIA 

CAMINO, RIZZARDO DA. Dicionário Maçônico. São Paulo: Madras, 2013. 

FRANCO MONTORO, ANDRÉ e outros autores. Ética no Novo Milênio- busca de um sentido para a vida. São Paulo: editora LDR, 2004. 

GLESP. Aprendiz Maçom, Ritual do Simbolismo. São Paulo: GLESP, 2014. 

LIMA, WALTER CELSO DE. “Ensaios sobre Filosofia e Cultura Maçônica”. São Paulo: Madras, 20012. 

MACKEY, ALBERT G. “O Simbolismo da Maçonaria - Volumes 1 e 2". São Paulo: Universo dos Livros, 2008 

SILVA, RAUL. “Maçonaria Simbólica”. São Paulo: Editora Pensamento, 2015. 

SPINOZA,B. “Ética”. São Paulo: Martin Claret,2002. 


Colaboração

Jair Duarte – MI – GR 33º   - MRA – CT – CM – KTP - Shriner

AGBRLS 7 de Setembro nº 45 – REAA 

Comentários

  1. A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existe há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.

    Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano.

    Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade.

    A Moral tem caráter obrigatório.

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  2. Ética, Motta (1984) define como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.

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  3. A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

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