Se o rigor é apanágio da estrutura maçônica, a realização de uma composição meramente decorativa impediria certamente que se atingissem os objetivos e a plasticidade que se pretende com um “ambiente fraternal e propicio para concentrar sua atenção e esforços para melhorar seu caráter, sua vida espiritual e desenvolver seu sentimento de responsabilidade, fazendo-lhes meditar tranquilamente sobre a missão do homem na vida, recordando-lhes constantemente os valores eternos, cujo cultivo lhes possibilitará acercar-se da verdade”.
Se referirmos a “prancha” realizada por Ribeiro (2015), onde refere “A abóboda decorada com os corpos celestes simboliza também a abertura da consciência do homem, a sua transcendência, como que um passo mais na perceção da existência de um Ser Supremo”.
Entendemos a importância que tem na criação do ambiente de caráter dramático que está em sintonia com o ritual que se vai praticar durante a sessão e que assume um caráter SAGRADO.
Um dos aspetos que mais distrai os fiéis num templo religioso católico são as representações humanas onde se exagera na expressão de sofrimento e também na exagerada decoração “barroca” coberta com folha de ouro.
Qualquer tipo de representação humana ou facial como uma máscara destrói todo o ambiente de concentração e reflexivo que se pretende num templo, seja qual for a sua associação religiosa ou filosófica.
Facilmente a nossa consciência passa a realizar leituras de ordem estética e dramática, abandonando qualquer tipo de experiência meditativa.
Os elementos simbólicos empregues na composição da “abóbada celeste”.
Em sentido contrário, a representação celestial das constelações, planetas e satélites, ausente de elementos figurativos humanos, na composição da Abóbada Celeste, permite criar o ambiente de abertura da consciência pessoal através da concentração, propício à contemplação, reflexão e meditação, com o intuito de fomentar a atenção sobre o ritual do R∴E∴A∴A∴
Como já foi referido por nós, não existe uma descrição escrita e objetiva acerca Abóbada Celeste num Templo Maçônico bem como da época em que surgiu e respetivo lugar.
A primeira descrição teria sido realizada por Elias Ashmole (1617 – 1692).
O desenho desta descrição foi realizado no Brasil a pedido da Loja Simbólica "Stella Matutina" nº 658, tendo-se tornando como referência em vários templos deste nosso país Irmão.
Albert Pike (1872) em “Moral e Dogma” refere que no Rito de York as dimensões da Loja como sendo “Ilimitadas e cobrem não menos do que a abóbada celeste… A mente do Maçom é continuamente dirigida a esse objeto”, dizem eles, “e ele espera chegar ali com a ajuda da escada teológica que Jacó, em sua visão, viu subindo da terra para o Céu; as três voltas principais eram chamadas de Fé, Esperança e Caridade; e que nos lembra de ter Fé em Deus, Esperança na Imortalidade e Caridade para com toda a Humanidade”.
Mais refere que os antigos contavam sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte, Júpiter e Saturno), não referindo a respetiva posição na Abóbada Celeste.
Relativamente ao Sol e à Lua refere “Os Mestres da Luz e da Vida, o Sol e a Lua, são simbolizados em todas as Lojas pelo Mestre e pelos Vigilantes; e isto torna dever do Mestre prover luz para os Irmãos, por si próprio e através dos Vigilantes, que são seus ministros”.
Podemos por estas palavras compreender a associação do Sol ao Venerável Mestre e a Lua aos 1.º e 2.º Vigilantes.
Dada a posição do Venerável Mestre no Oriente e dos 1.º Vigilante e 2.º Vigilante no Ocidente, facilmente depreenderemos a existência do espaço de Luz no Oriente e de Escuridão no Ocidente do Templo.
No espaço físico da maçonaria, designado de Templo as posições dos elementos simbólicos e dos maçons é definida através dos pontos cardeais (Oriente – Ocidente e Norte – Sul).
O Oriente é o local mais elevado do Templo através de 3 degraus de escadas relativamente ao Ocidente.
A posição Oriente num templo maçônico não tem de estar alinhada com o verdadeiro Oriente geográfico, como no caso de alguns templos cristãos e muçulmanos.
Recordo que estamos no mundo simbólico.
Como temos vindo a referir as considerações realizadas sobre a Abóbada Celeste não assumem verdadeiramente a condição de um esquema a ser cumprido, a partir de um projeto gráfico, nas publicações consultadas.
Encontramo-nos mais perante uma questão de caráter filosófico ao nível da interpretação já que o procedimento para a elaboração de uma Abóbada Celeste é de caráter existencial e valorativo, não se constituindo numa mera solução de científica ou técnica.
A interpretação que realizamos está dependente do significado e da significância dos elementos simbólicos na base duma interpretação maçônica.
Partimos do princípio científico que a Abóbada Celeste, cuja designação deve ser firmamento, que visualizamos fisicamente durante a noite, está dentro do que se designa de trigonometria esférica.
Dividimos a circunferência obtida da Figura 3 em dezasseis partes correspondendo aos pontos cardeais com os respetivos graus de posição.
Para o efeito dividimos a circunferência em 4 partes iguais, correspondendo aos 4 pontos cardeais e às 4 paredes do templo.
Consideramos o espaço do Oriente maçónico, compreendido entre Nordeste | 45º e Sudeste | 135º, correspondendo às posições fixas do Secretário e do Orador respetivamente, situando-se o Venerável-Mestre na posição Oriente | 90º.
O espaço do Ocidente maçônico, a Norte foi colocado entre as direções Noroeste | 315º e Nordeste | 45º, a Sul entre as direções Sudeste | 135º e Sudoeste | 225º e a Ocidente entre as direções Noroeste | 315º e Sudoeste | 225º.
Na referida posição Norte situámos os oficiais Hospitaleiro e Experto, sendo este o espaço ocupado pelos Aprendizes.
A Sul encontramos o Tesoureiro e o 2.ª Vigilante, constituindo-se o espaço ocupado pelos Companheiros e Mestres.
Embora seja o “lugar do Aprendiz”, os Companheiros e Mestres podem ocupar também esses lugares, se assim o entenderem. No entanto e a Sul, só se podem sentar-se os Companheiros e os Mestres.
Os elementos simbólicos empregues na composição da “abóbada celeste” |46 A Ocidente situamos o 1.º Vigilante, Mestre-de-Cerimónias, o Guarda Interno e o Organista.
Fora da circunferência, mas neste espaço angular situamos o Guarda Externo.
A Abóbada Celeste baseia-se na centralidade dos elementos simbólicos associados aos elementos humanos.
Elaboração própria.
Definido um Firmamento simbólico, colocamos as constelações com as respetivas associações simbólicas.
No lado Norte, a Estrela Spica da Constelação Virgem, associada ao Secretário foi colocada na direção Nordeste | 45º.
A direção Norte | 0º compreende, portanto, a estrela Polar da constelação Ursa Menor, a maior das referências direcionais do hemisfério Norte.
As estrelas Alkaid, Alcor, Alioth e Megrez da constelação Ursa Maior estão situadas na direção Nor-noroeste | 337,5º por corresponderem aos Mestres-instalados, devendo ser essa a sua posição de ocupação no tempo.
No lado Sul, a estrela vermelha Arcturus da constelação Boieiro, ao corresponder ao Orador, está situada na direção Sudeste | 135º.
Na constelação Touro, podemos observar os grupos de estrelas Plêiades que correspondem aos Mestres, e as Híades correspondendo aos Companheiros.
Neste grupo ainda existe a estrela Aldebarã que corresponde ao Tesoureiro e como tal está sobre a direção Su-sudeste | 175,5º.
A estela Regulus da constelação Leão está situada na direção Sudoeste | 225º. Corresponde ao Mestre-de-cerimonias.
A estrela Formalhaut da constelação Peixe Austral corresponde ao Chanceler, cargo inexistente em Portugal.
Na posição Ocidente | 270º foi colocada a estrela avermelhada Antares da constelação Escorpião e que corresponde ao Guarda Interno.
Perto do Oriente estão ainda representadas as constelações Cassiopeia e Orion com as estrelas Três Marias correspondendo aos Aprendizes.
As Três Luzes da Loja (Venerável-mestre, 1.º Vigilante e 2.º Vigilante) estabelecem uma triangulação cujos vértices estão associados respetivamente ao Sol, à Lua e à Stella Pitagoris.
Júpiter ao corresponder ao Past. Venerável-mestre, está situado perto do Oriente na direção És-sudeste | 112,5º.
Mercúrio ao corresponder ao Hospitaleiro está perto deste oficial na direção Nordeste | 45º.
Venus está situado na direção Oés-noroeste | 292,5º e corresponde ao 2º Diácono, cargo inexistente em Portugal.
Como é o “mensageiro do dia” está também associado ao Experto.
Os elementos simbólicos empregues na composição da “abóbada celeste”.
Finalmente Marte, planeta que está associado ao Guarda Externo, simboliza a guerra e portanto está no exterior do Templo na direção Ocidente | 270º.
Este esquema acima de tudo fez-nos compreender um dos princípios em que assenta esta “Irmandade” e tem a ver com a Igualdade, Liberdade e Fraternidade, simbolizada através de Saturno.
Este planete assume toda a centralidade simbólica, ao ser estabelecida sob ele a Cadeia de União.
Definido e identificado o conceito, entendemos então adaptá-lo a um espaço retangular de um templo.
Na descrição acima, será conveniente esclarecer que não vamos abordar os oficiais que compõem uma loja, respetivas funções, bem como a posição dos outros elementos (Mestres, Companheiros e Aprendizes), por não fazer parte do tema explorado.
Contudo será importante mencionar que os Aprendizes se sentam exclusivamente no Norte.
Esta é a justificação da existência das nuvens no Norte, a cobrir o céu estrelado, permitindo, no entanto, visualizar as constelações Virgem, Ursa Menor e Ursa Maior.
Os Aprendizes ainda estão numa fase de obtenção do conhecimento e, portanto, a simbólica visão do universo ainda é limitada.
O leitor também deve realizar a presente leitura interpretativa, relativamente às constelações, estrelas, planetas e satélites, situando-se historicamente no séc. XVIII, onde o conhecimento baseava-se em pressupostos simbólicos, sendo muito limitado.
No caso de Saturno estão apenas representados os nove satélites então conhecidos.
A leitura assume, portanto, um caráter simbólico e não científico, baseada fundamentalmente nas ideias da época em que os elementos representados na Abóbada Celeste exerciam uma influência direta sobre o homem, na vida real.
Importa, desde já, considerar também que a posição das estrelas, constelações, planetas e satélites, se adequam ou coincidem com a posição no templo dos participantes na cerimonia ritual, sejam Aprendizes, Companheiros, Mestres ou Oficiais.
Contudo a coincidência da posição com representação no teto só existe relativamente ao Venerável Mestre (iluminado pelo Sol), ao Primeiro Vigilante (iluminado pela Lua) e ao Segundo Vigilante (iluminado pela Stella Pitagoris). Daí que designamos como as “3 Luzes de uma Loja” estes oficiais que a dirigem efetivamente.
No que respeita às constelações e respetivas estrelas, estão representadas próximas dos elementos que representam, como já referimos.
Como o Oriente está iluminado, não se observam constelações.
Esta é a justificação para colocar próximo do Oriente a Constelação Virgem que rege o Secretário, o mesmo sucedendo com a Constelação Boieiro que rege o Orador, oficiais que também se sentam no Oriente iluminado.
Nas 10 constelações identificadas na Abóbada Celeste, mais propriamente nas posicionadas no lado Sul, algumas possuem uma estrela designada de “Estrela Alfa”.
Tecnicamente esta classificação surge dentro da tradição maçônica e, portanto, não assume um caráter científico já que todas as constelações possuem uma “Estrela Alfa”.
“Alfa” é a primeira letra do alfabeto grego e no presente caso será a estrela mais brilhante da respetiva constelação.
BIBLIOGRAFIA
© EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC STUDIES 2017. OS ELEMENTOS SIMBÓLICOS DA “ABÓBADA CELESTE”.
The symbolic elements used in the composition of the “Dome Celeste” CANOTILHO, Luís.
POSIÇÃO DA STELLA PITAGORIS
ResponderExcluirSobre o 2º Vigilante e regendo este oficial está colocada a Estrela Pitagórica ou Estrela
Flamejante com cinco pontas. O seu significado dirige-se para o Homem Iluminado que
transcende a condição humana.
Estamos perante o pentagrama, que já era conhecido dos antigos sumérios, muito
explorado pelo matemático grego Pitágoras, que descobriu nesta forma uma relação direta
com o número áureo.
Esta forma é usada nos campos místico e científico. No primeiro vamonos confrontar com a célebre imagem criada por Leonardo da Vinci para o livro “A Divina Proporção” de Luca Pacioli, onde se representa a figura humana com os quatro elementos (ar, água, terra e fogo) coordenados pelo espírito (cabeça).
Sob o ponto de vista científico reflete várias leis da matemática como os logaritmos, a sequência de Fibonacci, a espiral logarítmica, etc (JIMÉNEZ, 2013).
No campo específico da maçonaria é a referência aos elementos (ar, água, terra e fogo) e ao espírito.