O Livro do Zohar conta que o rabi Shimon Bar-Yochai (Rashbi) e seu filho, o rabi Aba, alcançaram o nível do profeta Eliyahu (Elias). Por isso, diz-se que o próprio Elias os visitou em sua caverna e lhes ensinou a Torá. (A propósito, a caverna na aldeia de Peqi in existe até hoje.)
O autor de Divrey Yoel (As palavras de Joel) assim escreveu no livro The Torah of Rashbi — A Torá de Rashbi: “Antes do rabi Shimon estudar os segredos da Torá, havia uma regra na caverna — resolver as disputas de acordo com a opinião do rabi Yehuda, o autor do Talmude.
Contudo, quando o rabi Shimon deixou a caverna, verifi cou-se que tudo o que ele havia escrito no Zohar havia excedido todas as realizações humanas.” O próprio Rashbi recebeu o nome de Butzina Kadisha (Vela Sagrada), pois ele havia atingido a alma de Moshe (Moisés).
Vereditos sobre assuntos legislativos e processuais são dados de acordo com o Talmude ou O Livro do Zohar, dependendo de onde o assunto é examinado com mais rigor. Se a matéria não consta nem do Talmude, nem do Zohar, então a decisão se baseia na fonte que melhor a explica. Se o assunto em discussão é entre o Talmude e os legisladores, a decisão se fundamenta na afi rmação do Livro do Zohar.
Se os próprios legisladores não conseguem chegar a um acordo sobre o caso, a decisão se baseia na opinião do Zohar (Mishna Brura, 25, 42).
O grande seguidor de Rashbi e herdeiro (próximo receptor) de sua alma, rabi Isaac Luria (o ARI) escreveu que sua alma era um retorno da alma de rabi Shimon, e a alma deste era um retorno da alma de Moisés (Shaar HaGuilgulim, item 64). Ele também escreveu que a alma de Moisés se revestiu no Rashbi para corrigir a alma de Achiya HaShi-loni (Aias, o Silonita), que “corrompeu” Malchut por conta do pecado do rei Yerav’am (Jeroboão), que levou à transgressão de todo Israel.
Portanto, a alma de Rashbi apareceu para corrigir os pecados de Israel. A parte do Zohar intitulada Raya Meheimna (O pastor fiel) narra como Rashbi alcançou a alma de Moisés, fundiu-se com ela e atingiu a sabedoria supernal.
Em suas obras Maranan ve Rabanan e Kli Yakar (Reis 2, 12), o grande HaShida também diz que toda a obra de Rashbi provê correção do pecado de Achyia HaShiloni.
Assim Rashbi diz no Talmude (Sukah, 45, 2): “Eu posso redimir de julgamento o mundo inteiro, desde o dia de meu nascimento até o dia de hoje. E se meu fi lho está comigo, desde o dia em que o mundo foi criado até o dia presente. E se Yotam Ben Uziyahu (Joatão, fi lho de Ozias) está conosco, desde o dia da criação do mundo até o seu fim.”
O Livro dos Reis fala de Yotam Ben Uziyahu (20,15).
Quando o veredito foi suspenso, Rashbi fundou seu seminário no povoado de Tekoa e na aldeia de Meron. Lá ele ensinou a Cabalá a seus discípulos e escreveu O Livro do Zohar, revelando, dessa forma, o que era proibido revelar desde o tempo do recebimento da Torá por Israel (Tikuney Zohar, Hakdamah, p. 17).
No entanto, para escrever todos os segredos da Torá, o rabi Shimon teve que expressá-los em uma forma secreta. O discípulo de Rashbi, rabi Aba, possuía em sua alma uma qualidade única, que lhe permitia transmitir o conhecimento espiritual de forma secreta, disfarçada.
Assim, o rabi Shimon pediu ao seu discípulo para expressar seus pensamentos por ele, ou seja, colocar no papel os pensamentos de Rashbi.
O ARI explicou isso da seguinte maneira: “O Livro do Zohar deve permanecer oculto até a geração da chegada do Messias, pois através do estudo desse livro a humanidade retornará de seu exílio espiritual” (ARI, Shaar HaHakdamot, Hakdamah, p. 3). É por esse motivo que rabi Aba escreveu os ensinamentos do rabi Shimon em aramaico, pois este é o reverso do hebraico.
O ARI escreveu (Maamarey Rashbi — Artigos de Rashbi, p. 100) que redigir O Zohar em uma forma secreta foi possível porque a alma do rabi Aba provinha da Luz Circundante, e não da Luz Interior. Por essa razão, explicou o ARI, ele podia expressar a mais elevada sabedoria em uma forma secreta, como histórias simples. (O rabi Shimon viveu até a idade de oitenta anos aproximadamente e faleceu na festa de Lag BaOmer, no décimo oitavo dia do mês de Iyar, cercado por seus discípulos e reconhecido por toda a nação.
Este dia é celebrado como a festa da Luz. Seu corpo foi sepultado em uma caverna perto do monte Meron e o corpo de seu fi lho, rabi Elazar, está enterrado a alguns metros dele.)
Como as composições subsequentes do ARI e de outros Cabalistas (evidentemente, esse é o destino de todos os verdadeiros livros espirituais), O Livro do Zohar permaneceu escondido por cerca de 1.100 anos em uma caverna próxima a Meron, desde o dia em que foi escrito, até que um árabe o achou e o vendeu no mercado como papel de embrulho.
Parte das folhas rasgadas chegou às mãos de um sábio, que reconheceu e aquilatou o valor dos escritos. Após longa busca, ele recuperou muitas das folhas em depósitos de lixo, ou comprou-as de vendedores de especiarias, que embrulhavam sua mercadoria nas páginas do Zohar. Foi dessas folhas recuperadas que o livro (como o conhecemos hoje) foi compilado.
Por muitos séculos, desde aquele tempo até o presente, O Livro do Zohar tem sido objeto de controvérsia.
Filósofos, cientistas e outros “sábios” ainda o discutem em nossos dias. Contudo, permanece o fato de que apenas um Cabalista, alguém que ascendeu a um determinado grau espiritual, alcança o que o livro transmite. Para todos os outros,ele parece uma coleção de narrativas, histórias e fi losofi a antiga.
Somente os que não o compreendem discutem a respeito dele; mas os Cabalistas sabem com certeza que o livro de Rashbi é a maior fonte de realização espiritual que o Criador concedeu às pessoas deste mundo.
Embora O Livro do Zohar tenha sido escrito no século II, somente o rabi Yehuda Ashlag conseguiu apresentar um comentário completo sobre a obra nas décadas de 1930-40. O motivo de O Zohar ter permanecido oculto do século II ao XIII e a ausência de um comentário completo sobre o mesmo durante dezoito séculos são explicados na “Introdução ao Livro do Zohar”.
Rabi Ashlag deu a seu comentário o título de HaSulam (A escada) pois, através de seu estudo, podemos galgar os degraus espirituais para a conquista dos Mundos Superiores como se subíssemos em uma escada em nosso mundo. Em seguida à publicação desse comentário, rabi Ashlag recebeu o epíteto de Baal HaSulam (Senhor da Escada), pois é costume entre os sábios da Torá chamar uma pessoa não por seu nome, mas fazendo referência a sua mais elevada realização.
O LIVRO DO ZOHAR CONTÉM:
1. Hakdamat Sefer HaZohar (Introdução ao Livro do Zohar) — contendo
vários artigos que revelam inteiramente o significado secreto da Torá.
2. Sefer HaZohar (O Livro do Zohar) — dividido em partes e capítulos que correspondem às porções semanais da Torá:
Livro Bereshit (Gênesis): Bereshit, Noach, Lech Lecha, Vayera, Chayei Sarah, Toldot, Vayetze, Vayishlach, Vayeshev, Miketz, Vayigash, Vayichi.
Livro Shemot (Êxodo): Shemot, Vayera, Bo, Beshalach, Yitro, Mishpatim, Terumah (Safra de Tzniuta), Tetzaveh, Ki Tissa, Veyikahel, Pekudey.
Livro Vayikra (Levítico): Vayikra, Tzav, Shmini, Tazria, Metzura, Acharey, Kedushim, Emor, BaHar, Bechukotai.
Livro Bamidbar (Números): Bamidbar, Naso (Idra Raba), Behaalotcha, Shlach Lecha, Korach, Chukat, Balak, Pinchas, Matot.
Livro Devarim (Deuteronômio): VeEtchanen, Ekev, Shoftim, Titze, Vayelech, Haazinu (Idra Zuta).
3. Zohar Chadash (O Novo Zohar): adições aos capítulos semanais:
Bereshit, Noach, Lech Lecha, Vayera, Vayetze, Vayeshev, Beshalach, Yitro, Terumah, Ki Titze, Tzav, Acharey, BaHar, Naso, Chukat, Balak, Matot, VeE- tchanen, Ki Titze, Ki Tavo.
4. Livros adicionais no Livro do Zohar que não são um comentário direto sobre a Torá:
Idra Raba, Idra Zuta, Safra de Tzniuta, Raza de Razin, Tosefta, Raya Mi’Emna, Hashmatot, Sitrey Torah, Sitrey Otiot e Tikuney Zohar.
5. Midrash HaNe’elam (Comentário sobre os Escritos): Cântico dos Cânticos, Rute, Eicha (Lamentações) — e sobre a Torá (Pentateuco).
Baal HaSulam escreveu o comentário sobre as partes do Zohar que conhecemos. Seus principais comentários na “Introdução ao Livro do Zohar” e no capítulo “Bereshit” são expressos em termos da atividade espiritual do homem. Para a ciência da Cabalá, os artigos mais úteis do Zohar são Idra Raba, Idra Zuta e Safra de Tziuta. Todos eles se expressam na linguagem da Cabalá. Afora estes artigos, o restante do Zohar é escrito na linguagem do Midrash.
Em sua forma original, O Livro do Zohar — escrito pelo rabino Abahá dezesseis séculos — não era dividido em capítulos semanais. Seu volume era várias vezes maior do que o texto que chegou a nós; apresentava não só a Torá, mas também vinte e quatro outros livros da Bíblia (Pentateuco, Profetas e Escritos).
Além do Livro do Zohar propriamente dito, o livro de Tikunim (correções) do rabi Shimon também chegou até nós. Este compreende setenta comentários sobre a primeira palavra da Torá, Bereshit (no princípio), pois esta inclui tudo.
Este livro oferece uma tradução semântica do Zohar propriamente dito, do comentáro HaSulam do rabino Yehuda Ashlag e minhas próprias explicações. Contém ainda a primeira parte do Livro do Zohar — Hakdamat Sefer HaZohar (Introdução ao Livro do Zohar).
A intercalação dos textos foi motivada pela necessidade de explicar o significado do Zohar em várias linguagens simultaneamente:
a) a linguagem da Cabalá (Sefi rot, Partzufim, Guematria e mundos);
b) a linguagem da atividade espiritual (emoções); c) a linguagem da Torá (narrativa) e d) a linguagem do Talmude (jurídica).
Para compreender o estilo do Livro do Zohar, recomendo ao leitor retornar à tradução do texto original após ler e entender bem o comentário.
O Livro do Zohar, como toda a Torá, fala exclusivamente do homem (criação) e seu relacionamento com o Criador.
A Torá atribui nomes deste mundo a todas as propriedades interiores do homem.
Assim, a aspiração ao Criador é chamada “Israel” e a aspiração à recepção egoísta de prazeres é denominada “nações do mundo”.
No entanto, não há qualquer conexão entre esses nomes na Torá e os judeus e outras nações em nosso mundo.
A Cabalá interessa ao homem, à criação!
Este livro contém artigos comentados na linguagem da Cabalá e outros comentados na linguagem das emoções, que é mais fácil de entender para o iniciante. O leitor pode começar o estudo do livro pelos artigos como “A noite da noiva” e “Quem se alegra nos feriados”.
Contudo, o estudo completo do Zohar requer o estudo sistemático do material.
Quanto mais nos familiarizamos com a Cabalá, mais ela penetra em nossos corações, e só pode ser dominada pela constante revisão do material estudado.
Rav. Michael Laitman
Comentários
Postar um comentário