Interpretação Filosófica do Grau 4

 

MESTRE SECRETO

O Grau 4 – Mestre Secreto - tem por escopo a guarda inviolável dos segredos confiados. 

É nesse Grau que juramos ser fiéis até a morte a todo depósito que nos for confiado, a toda obrigação que nos seja legalmente imposta; a todo dever, cujo cumprimento seja reclamado pela felicidade de nossa família, de nossa Pátria e da Humanidade. 

É nesse Grau que determinamos jamais abandonar nossos irmãos e nossos amigos na necessidade, no perigo, na aflição ou na perseguição.

 

O Grau 4, portanto,  é consagrado ao silêncio e à discrição do obreiro, cuja sinceridade é a Lei Única, Suprema e Universal dos Maçons. 

Os ensinamentos dos graus quatro a seis repousam na alegoria dos ritos vinculados ao funeral do Mestre Hiram e a punição de seus assassinos.

Os maçons especulativos, ao adotarem a alegoria do Templo de Salomão para fundamentar o simbolismo de sua ideia de construção de um edifício espiritual, quiseram fazer do seu Mestre Arquiteto o “sacrificado da fundação”, para que sua “edificação” ganhasse estabilidade.

Para o maçom, as alegorias relativas ao encontro, sepultamento e homenagens prestadas ao Mestre Arquiteto do Templo de Salomão, significam que ele iniciará uma viagem intima, interna, dentro de si mesmo e de um grupo, em busca de ensinamentos que não estão escritos em lugar algum, mas que foram conservados através de alegorias e símbolos, que lhe serão passados por tradição oral. 

Esses segredos estão ligados à construção do Templo de Salomão, e ao mito da morte e renascimento simbólico do espírito do Mestre Hiram, que doravante será incorporado ao novo Mestre elevado.

Por isso é que o iniciado encontrará na Loja do quarto grau um “Salomão”, personificado na figura do presidente da Loja, chamado de Poderosíssimo. 

Ali estão o Rei de Tiro, que também se chama Hiram, e dois Adonirans, simbolizados pelos Vigilantes.

Na Loja do quarto grau, entretanto, só opera um Adoniram, já que o altar onde o segundo personagem com esse nome deveria estar corresponde ao lugar do Mestre Hiram, que foi assassinado. 

Assim, no lugar do Segundo Vigilante há um pano preto, ornado com lágrimas prateadas, representando uma mortalha, designativa da morte daquele Mestre.

O Templo maçônico, no quarto grau e seguintes, representa o Templo de Jerusalém, onde Oriente e Ocidente estão separados por uma balaustrada. Suas paredes são cobertas por cortinas negras com gotas de lágrimas prateadas. Toda a decoração da Loja lembra um oficio fúnebre na tradição judaica. 

Ali se evoca a morte violenta de Hiram Abif e a necessidade de prestar-lhes as devidas exéquias.

Todos os utensílios presentes na decoração da loja simbolizam um aspecto da mística iniciática. 

O triângulo inscrito no circulo, e dentro dele a estrela com letra Z (iod), é o emblema do grau. 

Significa eternidade, universo perfeito, equilíbrio, raio que dá a vida, (estrela de cinco pontas, estrela flamígera) e esplendor, que é o significado da letra Z (ziz em hebraico), inscrita no centro da estrela [2]; a mesa triangular coberta com uma toalha negra, respingada de lágrimas prateadas, com o malhete e a coroa de oliveira e louro em cima, significa o pranto derramado pelos irmãos pela morte do Mestre assassinado; as coroas significam o seu triunfo final sobre a morte, já que ele revive no novo mestre que ali é elevado. 

O louro significa a vitória, o triunfo, consagrado a Apolo, Deus da luz. 

A oliveira é o símbolo da paz, das esperanças, da fruição dos sucessos.

Os três candelabros (hanukah), de nove braços, sobre as mesas, têm significados cabalísticos extraídos das relações entre os números múltiplos de três, que, de acordo com alguns cabalistas, seria a essência das causas em que se apoiam o universo (as chamadas trindades). [¹]

A Arca da Aliança no canto á direita do Oriente, iluminada por um candelabro (menorah) de sete braços, significa a aliança entre o homem e Deus, e a chave de marfim que ali aparece significa “segredo” ou “sigilo”. 

Ela é também símbolo de “abertura”, “iniciação”, “ingresso” numa ordem superior de conhecimento, ou seja, o início de uma nova vida num plano superior de consciência. 

Por isso é que na sua extremidade está inscrita a letra “Z”, que é a palavra de passe do grau, ou seja, a senha para a entrada nos “Grandes Mistérios”.

Evidentemente, para os hebreus, saber o conteúdo da Arca da Aliança significava estar de posse do segredo dos segredos. 

A chave de marfim também tem essa significação. 

O seu possuidor pode entrar na posse desse segredo só compartilhado pelos iniciados nos mistérios de grau superior. 

O Mestre Secreto adquire o direito de vir a conhecê-lo no decorrer da sua escalada pela Escada de Jacó, o que implica, evidentemente, no dever de guardar, sobre ele, o mais estrito silêncio. 

Assim, a chave significa também “fechar”. 

No simbolismo do grau, a Loja, pelo fato de guardar a Arca da Aliança, representa também o Tabernáculo, onde se situa o altar do “Santo dos Santos”. 

Na tradição hebraica, esse era o local onde originalmente se depositavam as Tábuas da Lei, o Decálogo, expressão probante do acordo feito entre Deus e o povo de Israel. 

Mais tarde, nas sinagogas judaicas se consagrou um altar ao “Santo dos Santos”, local onde somente o sumo-sacerdote podia entrar para falar “pessoalmente” com o Senhor.

Sabe-se que a Arca da Aliança desapareceu por ocasião da conquista de Jerusalém levada a efeito pelos caldeus em 586 a C. 

Para o povo de Israel essa perda foi como se a aliança entre eles e Deus tivesse sido quebrada. 

De acordo com vários profetas que escreveram após essa catástrofe, ela teria ocorrido pelo fato do povo de Israel não ter guardado os preceitos da lei mosaica. 

Esse é um dos motivos pelo qual a Maçonaria encarecerá sempre o zelo pela lei, pois não pode haver ordem, harmonia e felicidade numa sociedade onde o respeito á tradição e o zelo pelos acordos selados não forem mantidos. [²]


Notas:

[¹] Por isso a idade de Mestre Adoniram é de 27 anos completos e as pancadas são em numero de sete. Esse número é resultado da multiplicação do nove, número perfeito por três, o número sagrado.

 

[²] Não somente os acordos selados com a Divindade (os preceitos religiosos), mas também aqueles que se referem à vida em sociedade, ou seja, as leis. Daí a razão de se encontrar tantas referências e alegorias referentes à lei e aos sistemas judiciários, nos chamados graus superiores.

 



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