A Filosofia
Para melhor entender o contexto ocidental no qual surgiram as primeiras especulações metafísicas referentes à alma, se faz necessário fazer uma breve apresentação do panorama grego da época, panorama que teria propiciado o nascimento da filosofia.
Os historiadores dividem em quatro os períodos da Grécia Antiga:
1) O período homérico, entre 1200 e 800 a.C., é o período narrado por Homero na Ilíada e na Odisséia. No decorrer destes quatrocentos anos, a economia grega passa de agrícola a urbana/comercial;
2) O período arcaico, entre 800 e 500 a.C., é o período de surgimento das cidades-estado gregas. Desenvolve-se ainda mais o comércio e forma-se um eficiente sistema monetário, permitindo que os novos comerciantes se sobreponham aos antigos aristocratas fundiários;
3) No período clássico, de 500 a 400 a.C., Atenas se coloca à frente de toda a Grécia. Desenvolve-se a democracia e surge o império marítimo ateniense;
4) No período helenístico a Grécia passa para o domínio da Macedônia, com Filipe e Alexandre e, posteriormente, para o domínio de Roma, tornando-se colônia deste vasto império ocidental. Quanto ao surgimento da filosofia, estudiosos afirmam que esta possui claro período e local de nascimento, tendo surgido entre o final do século VII a.C. e o início do século VI a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor, principalmente as colônias que formavam a Jônia. Vejamos o porquê. Uma forte mudança verificou-se na Grécia principalmente entre os séculos IX e VI a.C. O crescimento da polis, a cidade-estado independente que se liberta das anteriores estruturas aristocráticas, somado com o forte desenvolvimento do comércio e o consequente contato com povos estrangeiros transformaram a forma de pensar da sociedade grega. A antiga visão mítica dos fenômenos foi se modificando, e os velhos arquétipos divinos e heróicos foram, cada vez mais, parecendo obsoletos e irrelevantes, salvo quando eram protegidos diretamente pelo culto religioso.
Neste sentido, foi sendo cunhada uma nova forma de enxergar o mundo, sem que os mitos e a religião fossem completamente abandonados (KIRK; RAVEN; SCHOFIELD, p.70). Dentro deste contexto surgem, ainda no período arcaico, mais especificamente no século VI a.C, as primeiras manifestações filosóficas que alcançariam seu apogeu durante o período da Grécia clássica, de forma especial com Platão, no século IV a.C. Além destes fatores, há também um outro dado que, para alguns comentadores, deve ser levado em conta. Por causa da proximidade geográfica, os gregos da Ásia Menor entraram em contato muito estreito com as velhas culturas do Oriente, tanto no comércio quanto nas artes e nas técnicas.
Por esta razão, há estudiosos que defendem a idéia de uma influência oriental no nascimento da filosofia grega. Por esta razão, no que diz respeito à causa do nascimento da filosofia grega, apontamos, com clareza, para a existência de duas vertentes: uma que considera que o nascimento da filosofia se deve a um “milagre” isoladamente grego; e outra que considera a possibilidade de uma recepção de ideias orientais que teria influenciado sua origem.
Seguindo esta última linha de pensamento, encontram-se relatos do historiador Heródoto e de filósofos como Platão e Aristóteles, que reconhecem ter uma dívida intelectual com os “bárbaros” do Oriente. Platão, em certa passagem, considera que os gregos seriam “crianças” se a sabedoria destes fosse comparada com aquela dos antigos sacerdotes egípcios.
Não parece ser relevante para o objetivo desta pesquisa definir se a filosofia grega foi ou não influenciada pelos orientais, mas, é interessante, de qualquer forma, observar a existência de algumas coincidências nas elaborações cosmológicas de ocidentais e orientais.
As religiões e os mitos orientais apresentam pelo menos seis concepções que reaparecem nas religiões e nos mitos gregos e, posteriormente, na filosofia grega:
1) a idéia de uma unidade universal divina que cria dentro de si mesma todos os seres;
2) uma gênese do mundo como passagem da unidade primordial caótica e indiferenciada para uma diferenciação de todos os seres;
3) a cosmogonia como um processo de geração e diferenciação dos seres, seja pela força intrínseca do princípio originário, seja pela intervenção de um espírito inteligente sobre a matéria sem forma, seja por meio da luta entre forças opostas;
4) a idéia de uma conexão ligando todos os seres;
5) a idéia de uma lei ou necessidade governando a geração, a transformação e a corrupção de todos os seres, num tempo cíclico;
6) a idéia de um dualismo entre o corpo mortal e 14 a alma imortal que precisa ser moralmente purificada para liberar-se deste corpo e gozar a felicidade perene (CHAUÍ, p.21). Veremos que estas idéias se repetem, em formas mais ou menos parecidas, nas cosmologias dos primeiros filósofos que se lançam em especulações metafísicas, bem como na religião dos mistérios grega.
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